Ponto a ponto
Veja a sucessão dos acontecimentos que levaram à ação desastrada das polícias paranaense e gaúcha no Rio Grande do Sul:
1 Em outubro o Grupo Tigre inicia a investigação da quadrilha de sequestradores em Gravataí. O fato é desencadeado em razão de três sequestros consumados no Paraná, um em Arapongas, um em Terra Roxa, e um em Ivaiporã com o mesmo modus operandi do golpe do chute. O quarto sequestro foi o de Quatro Pontes. Nos primeiros casos os criminosos sempre pediam R$ 140 mil. De Osmar, os sequestradores acabaram pedindo R$ 60 mil.
2 Na sexta-feira passada, os investigadores são autorizados pela chefia do Tigre e pela Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná a irem até Gravataí para dar continuidade às investigações.
3 Na segunda-feira, os policiais vão até Gravataí. Eles saem meio-dia de Curitiba e chegam perto da meia-noite no Rio Grande do Sul. Quando chegam à cidade, ficam sabendo que há duas vítimas nas mãos dos criminosos.
4 Uma segunda equipe se prepara para ir para Gravataí reforçar a investigação, descobrir onde ficava o cárcere e iniciar um planejamento para o resgate.
5 Na madrugada de quarta-feira, os policiais do Tigre, que já estavam em Gravataí, estariam sendo seguido pelo sargento Ariel, que suspeitou da presença deles na cidade.
6 Há troca de tiros entre o sargento e os investigadores do Tigre. Ariel morre no revide dos paranaenses. Os policiais chamam socorro e entregam as armas. A segunda equipe do Tigre chega à cidade e a primeira retorna a Curitiba após esclarecerem os fatos em Gravataí, no final da manhã de quarta-feira.
7 A Justiça gaúcha decreta a prisão dos policiais paranaenses e eles se apresentam à Corregedoria da Polícia Civil, em Curitiba. Eles estão detidos em local não divulgado pela polícia.
Entre críticas e amenidades, governadores trocam farpas
Durante o velório do sargento Ariel Silva, em Gravataí, o governador gaúcho Tarso Genro voltou a afirmar que a ação paranaense no estado foi clandestina. "Vamos a mais profunda avaliação deste tema, para que episódios como este não se repitam. Aqui não é terra de ninguém. As pessoas não podem entrar aqui ilegalmente e fazer operações clandestinas", afirmou ao jornal Zero Hora. Já o governador do Paraná, Beto Richa, levou mais de 24 horas para se pronunciar sobre o trágico desfecho da operação policial paranaense no Rio Grande do Sul.
Ontem à tarde, em Cascavel, no Oeste do estado, ele falou sobre a morte do policial gaúcho por agentes paranaenses. O tom foi bem mais brando do que o usado pelo governador gaúcho, que classificou a ação dos policiais do Paraná como "ilegal e irresponsável". Richa reconheceu as falhas policiais na operação. "Quero dizer que foi um fato lamentável, uma fatalidade, que teve duas vítimas inocentes. Pelo que eu sei, houve falha das duas polícias [paranaense e gaúcha] e agora vamos aguardar a conclusão das investigações para ver o que realmente aconteceu", declarou. Nenhuma menção foi feita ao fato de a polícia do Paraná não ter comunicado à corporação gaúcha sobre a operação.
Morte de Lírio choca a pacata Quatro Pontes
A notícia da morte do agricultor Lírio Persch, bastante conhecido na cidade de 3,9 mil habitantes, ex-distrito de Marechal Cândido Rondon, chocou os colegas de trabalho e das rodas de conversa. "O Lírio era mais do que tranquilo. Não era capaz de fazer nada contra ninguém. Sempre estava por aqui, trabalhando, ou no clube, jogando vôlei, futebol ou baralho", contou o parceiro de bocha e proprietário da Agropecuária Quatro Pontes, Clóvis Kliemann. O corpo do agricultor será velado hoje no Centro Cultural.
Pacata, com o segundo maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, 85,1 média menor apenas que a de Curitiba -, a cidade raramente registra ocorrências policiais. "Aqui as pessoas dormem de janela aberta. As bicicletas e os carros ficam na rua sem perigo de alguém roubar. Teve um período que ficamos mais de 20 anos sem nenhum homicídio. Um caso desses, de golpe e de um morador sequestrado e morto deixa qualquer um surpreso", comentou o diretor da Rádio Comunitária Tropical, Afonso Francener.
Quadrilha usou celular para pressionar família
"Conversei com os sequestradores sem nem saber o que estava acontecendo. Só desconfiei depois de receber uma mensagem do celular do meu marido. O jeito de escrever não era o dele", disse a dona de casa Márcia Finkler, esposa do empresário de Quatro Pontes, no Oeste do estado, que sobreviveu ao sequestro em Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre (RS), onde um policial da Brigada Militar também acabou morto por agentes do Grupo Tigre (Tático Integrado Grupo de Repressão Especial).
A quadrilha presa anteontem em Gravataí (RS), numa operação desastrada das polícias do Paraná e do Rio Grande do Sul que terminou em duas mortes, já havia sequestrado outras vítimas em Arapongas, Terra Roxa e Ivaiporã. O Grupo Tigre, unidade de elite da polícia paranaense, foi ao estado gaúcho para investigar a quadrilha e acabou matando um militar gaúcho. Na sequência, dois delegados gaúchos trocaram tiros com os sequestradores e mataram um dos reféns. A operação desastrada provocou troca de farpas entre os governos do Paraná e do Rio Grande do Sul (leia mais nesta página).
O Grupo Tigre (Tático Integrado Grupo de Repressão Especial), unidade de elite antissequestro da Polícia Civil do Paraná, não foi ao Rio Grande do Sul para estourar o cativeiro onde estavam o empresário Osmar José Finkler e o agricultor Lírio Persh, de Quatro Pontes (PR). Três investigadores do Tigre estavam em Gravataí, na Grande Porto Alegre, para investigar a quadrilha pelos outros crimes. Até chegar à cidade, na madrugada de quarta-feira, não sabiam do sequestro em andamento, e por isso não avisaram as autoridades locais. O desdobramento disso foi a morte de duas pessoas.
As vítimas estavam sob cárcere privado desde terça-feira, quando Osmar caiu no golpe do chute, ao tentar comprar uma colheitadeira por um preço muito abaixo do mercado. Quando foi com Lírio buscar o equipamento, ambos foram sequestrados. A equipe do setor de inteligência do Tigre descobriu durante a tarde de terça-feira que havia um sequestro em andamento, mas ainda não sabia quem ou quantos eram as vítimas. Com essa nova informação, uma segunda equipe, formada por um delegado e dois investigadores, se programou para ir à cidade gaúcha para planejar o estouro do cativeiro com mais segurança.
Uma fonte ligada ao Tigre contou à reportagem que a equipe de policiais paranaenses só conversou por telefone com a família de Osmar na quarta-feira pela manhã. A ligação, feita por um delegado do Tigre de Curitiba, ocorreu após a equipe descobrir que havia possibilidade dos sequestradores saberem da presença da polícia paranaense em Gravataí.
Morte do sargento
Ao chegarem a Gravataí, na madrugada de quarta-feira, os três investigadores entraram pelo bairro Morada do Vale. Os policiais teriam parado em um posto de gasolina da cidade, onde o sargento Ariel, do 17.º Batalhão da Brigada Militar, teria suspeitado da presença do veículo descaracterizado do Tigre, com placa de Curitiba. Quando se dirigiam para um hotel, os investigadores perceberam que estavam sendo seguidos. O sargento, então, teria feito a abordagem sozinho, sacando a arma rapidamente.
Um dos investigadores teria revidado do banco de trás do carro. "Só se atira de dentro do carro em uma situação de emergência", explica a fonte, contando sobre o revide. O próprio investigador que efetuou os tiros contra o sargento assumiu a responsabilidade pelos disparos. A defesa dos investigadores tentaria derrubar o mandado de prisão temporária com um recurso na Justiça gaúcha.
Sequestradores
A polícia gaúcha também não sabia onde era o cativeiro, segundo a fonte ligada ao Tigre. A casa onde houve o tiroteio entre sequestradores e delegados de Gravataí também estava sendo investigada como uma possibilidade de cativeiro pelos policiais do Tigre. Os policiais gaúchos então foram nas proximidades da residência, atrás da Câmara Municipal. Ao chegar, os criminosos estavam saindo num Corsa branco. Um dos delegados gaúchos se identifica e os sequestradores saem atirando. No revide, Lírio é atingido e morre.
Segundo a fonte ligada ao Tigre, há ainda mais dois sequestradores soltos que pertenciam à quadrilha. Um é gaúcho e outro paranaense. Eles atuavam enviando e-mails com ofertas de maquinário agrícola para o Brasil inteiro às vítimas aleatoriamente. O cárcere privado era sempre feito em Gravataí.
Como os policiais do Tigre chegaram à cidade de Gravataí e a chefia da unidade não conhecia as autoridades locais, ninguém avisou o delegado da cidade sobre a investigação. O aviso seria feito ao Departamento Estadual de Investigações Criminais pela manhã. O delegado-chefe do Tigre, Renato Bastos Figueiroa, foi procurado pela reportagem, mas informou não ter autorização para falar sobre o caso.
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