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Com a Igreja da Penha ao fundo, policiais se preparam para a operação: tanques da Marinha foram fundamentais na vitória | Antonio Scorza / AFP
Com a Igreja da Penha ao fundo, policiais se preparam para a operação: tanques da Marinha foram fundamentais na vitória| Foto: Antonio Scorza / AFP

Blindado M113: um "irmão" para o Caveirão

Rodrigo Wolff Apolloni, especial para Gazeta do Povo

Ao longo do tempo, muitos cariocas – em especial, os que vivem nas comunidades mais afetadas pelos confrontos entre autoridades e traficantes – acabaram adquirindo algum conhecimento a respeito das armas e equipamentos militares. Ontem, eles incorporaram mais três equipamentos à sua triste "coleção": o sobre-rodas Piranha, o lagarta anfíbio e, principalmente, o blindado M113, todos cedidos pela Marinha.

Tecnicamente, o M113 se enquadra na categoria dos veículos militares do tipo "Armored Personal Carrier" ("Transportador Blindado de Pessoal"), usados para a inserção e retirada segura de tropas de infantaria em zonas de guerra. Foi criado nos anos 50 nos EUA e entrou em operação pela primeira vez em 1962, no Vietnã.

É, provavelmente, um dos mais populares veículos de transporte de tropas do mundo. Atualmente, o M113 integra as forças armadas de cerca de 50 países. Seu maior utilizador atual são os EUA, com 6 mil unidades – inclusive, em operação no Iraque e no Afeganistão. O Brasil possui cerca de 250 unidades em funcionamento.

Ainda que a Marinha não tenha fornecido maiores informações sobre a versão do M113 utilizada no Rio, pode-se presumir que os carros sejam do tipo M113 ACAV ("Armored Cavalry Assault Vehicle") e M577 Command Post ("Posto de Comando Tático"). Os M113 brasileiros possuem alto grau de nacionalização, com motor, peças e sistemas desenvolvidos no país desde os anos 80. A versão nacional é chamada de "M113-BR".

  • Cerca de 100 traficantes abandonaram a favela após 40 horas de tiroteio
  • Campo de batalha

Em uma operação sem precedentes, com apoio de veículos blindados da Marinha, a polícia do Rio de Janeiro ocupou ontem a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, quartel-general do Comando Vermelho (CV). Foram quase 40 horas de intenso tiroteio. Mais de cem bandidos, fortemente armados, fugiram para o vizinho Complexo do Alemão, controlado pela mesma facção. Em grupos, alguns a pé, outros em motos e carros, eles atravessaram a Serra da Misericórdia, uma região de mata. Depois, já nas vielas do Alemão, colocaram fogo em pneus espalhados nas ruas provocando nuvens de fumaça preta.Na maior ação do quinto dia de conflito entre traficantes e policiais, a operação na Vila Cruzeiro mobilizou 430 homens entre policiais militares, civis e fuzileiros navais, que ajudaram a operar as viaturas blindadas da Marinha, equipadas com metralhadoras ponto 50. Foram elas que ajudaram a polícia do Rio a entrar na comunidade e ultrapassar as barricadas montadas por traficantes.

Os veículos militares entraram pela Rua Cajá, para acessar o Morro da Chatuba; pela Rua Nossa Senhora da Penha para entrar na Vila Cruzeiro; e utilizaram o Parque Xangai para invadir a favela da Merendiba. Foram recebidos a tiros pelos traficantes. Barulhos de explosões e bombas foram seguidos de colunas de fumaça que emergiam no interior da favela. As ruas da Vila Cruzeiro ficaram vazias. O comércio e os bancos fecharam as portas em todo o centro co­­mercial da Penha. Os moradores que ficaram na favela exibiram panos brancos nas janelas pedindo paz. Dezessete mil crianças e adolescentes ficaram sem aulas nas escolas.

Policiais que entraram na favela afirmaram que o cenário é de destruição. Há carros queimados, caminhões e motos abandonados e sangue pelo chão. O subchefe operacional da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira, disse que "havia um rastro de sangue" na comunidade. Os dois dias de conflito na Vila Cruzeiro deixaram 29 feridos e quatro mortos.

O Bope permaneceu na favela, que até então concentrava os traficantes expulsos dos territórios onde foram instaladas 11 das 12 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A segurança do entorno ficou a cargo do Batalhão de Polícia de Choque. A Polícia Civil se retirou, mas voltará hoje para fazer buscas.

Em outra grande operação da polícia ontem, na favela do Jacarezinho, na zona norte, sete pessoas morreram. Cerca de cem homens participaram da ação, e houve intensa troca de tiros. Não há informações oficiais se todos os mortos eram traficantes. Para evitar que os bandidos do Jacarezinho se refugiassem na Rocinha ou no Vidigal, na zona sul, a polícia reforçou a segurança no entorno das duas favelas.

Apoio da Marinha foi decisivo, diz polícia

O chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Alan Turnowski, creditou à ajuda da Marinha, que cedeu 13 blindados, o sucesso da operação na Vila Cruzeiro. "Ficou bem claro que, com esse equipamento, a Polícia Militar e a Polícia Civil conseguiram até com facilidade a tomada de um território que antes era tido por traficantes como local seguro. Ficou provado que o Estado unido e organizado entra em qualquer lugar. Que esse seja sinal bem claro para todos os traficantes", afirmou Turnowski, em entrevista coletiva que reuniu a cúpula da segurança no Estado.

"A Marinha tomou uma decisão histórica. É algo inédito no sentido de nos apoiar com rádio de comunicação, com viatura, com blindados, com ônibus para o transporte de tropa", explicou o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Ele criticou veladamente o Exército, por não ter oferecido ajuda, embora não fosse direto. "Não ofereceram nada. Não sei se ele [o Exército] está de prontidão, nem sei se adiantaria estar."

Segundo o comandante do Batalhão Logístico dos Fuzilei­ros Navais, Carlos Chagas, as viaturas blindadas emprestadas foram seis sobre-lagartas M-113 com capacidade para 13 pessoas, quatro carros lagarta anfíbios que transportam 17 pessoas e 3 sobre-rodas Piranha, cada um com capacidade para 22 homens. Cada viatura levava, além dos policiais, quatro fuzileiros: dois encarregados da sua operação e dois na sua segurança. Alguns desses militares participaram das missões de paz do Haiti.

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