Ele passou parte da vida enterrando mortos e hoje conta a história de vida deles. Aos 43 anos, Francivaldo Gomes, o Popó, é o único monitor da Prefeitura de São Paulo que atua como uma espécie de guia turístico. O local de trabalho dele é o Cemitério da Consolação, localizado na região central e o mais antigo da cidade. Antes da função atual, foi sepultador, o famoso coveiro.
Às vésperas do feriado de Finados, em 2 de novembro, Popó tem tido agenda lotada. Corre o dia inteiro para deixar limpos os cerca de 8.500 túmulos do cemitério. Conta com a ajuda dos outros funcionários, mas acaba acumulando funções porque, além de arrumar o jardim e os jazigos, precisa atender os visitantes.
Ser guia de cemitério é um orgulho para o cearense que chegou a São Paulo em busca de trabalho, foi pedreiro e recebeu as boas-vindas no Cemitério da Consolação do então administrador e historiador Délio Freire dos Santos. O ano era 2000 e até 12 de abril de 2004, data da morte de Santos, Popó foi coveiro. Depois, assumiu o posto do patrão.
Não como administrador, mas monitor. "Ele me ensinou muito", conta o ex-coveiro, que acompanhava as explicações históricas de Santos, ali enterrado. O cearense que só tem o segundo grau completo conta que pesquisou muito até dominar as informações históricas. "Sou autodidata".
A guia Ângela Arena, 42, circula com seus turistas pela capital e sempre para no Cemitério da Consolação. Ali, há esculturas em mármore e granito de artistas como Victor Becheret, Júlio Starace e Ramos de Azevedo. Elas ornamentam os túmulos e dão beleza a um lugar marcado pela tristeza. "As pessoas costumam se assustar por eu ser guia em cemitério porque esta ainda é uma atividade muito tímida aqui no Brasil", diz Ângela.
Em suas explanações, assim como Popó, ela conta a história dos mortos ilustres, das obras de arte e dos costumes relacionados ao enterro. "No século 19, a morte era mais vivenciada. Tinham as carpideiras que choravam nos velórios, que levavam mais de um dia. Hoje as pessoas são mais distantes".
Ex-BBB
Rogério Dragone, 31, ficou nacionalmente conhecido por participar da 4ª edição do Big Brother Brasil (BBB), mas quem frequenta os cemitérios de São Paulo pode esbarrar com o moço de vez em quando. Enquanto não está estudando ou trabalhando como ator, ele cuida dos jardins e dos túmulos ao redor deles.
"Meu avô era construtor (de jazigo) e minha mãe, jardineira de cemitério. Eu a acompanhava desde criança", conta Dragone, que recebeu muitos pedidos para limpar túmulos. O objetivo é deixar tudo limpinho para a visita das famílias no Dia dos Finados. "O trabalho é muito sacrificante. A gente trabalha com lata d´água".
Dragone trabalha como autônomo. Ganha R$ 40 por jazigo ensaboado e florido. Com o tempo, memorizou o mapa do Cemitério da Lapa, na Zona Oeste, onde fica mais tempo. "Temos as quadras, as avenidas pares e ímpares. Por trabalhar lá, sei até a rua onde ficam alguns túmulos", diz ele, que vive indicando os caminhos aos visitantes desacostumados com a silenciosa rotina de um cemitério.