Ana Paula teve o primeiro filho aos 13 anos de idade, o segundo aos 14, o terceiro aos 15, o quarto aos 16 e agora, aos 19, deu recentemente à luz o quinto filho. Três deles são frutos de romances relâmpagos na temporada de verão. Os três foram dados ou vendidos. O caso de Ana Paula levou o Conselho Tutelar a comprovar a existência de um comércio de crianças em regiões pobres de Guaratuba. Ela é dependente de drogas desde a infância e mora na Vila Esperança, antes chamada Vila Miséria, nome que melhor retrata as condições do lugar.
A tentativa do Conselho de regularizar um desses casos acabou tirando muitos outros da surdina. Só entre novembro de 2005 e janeiro deste ano já atendeu a 20 pedidos de guarda de crianças entregues ou vendidos pelas mães a alguma família. A forma de pagamento por um bebê nem sempre ocorre em dinheiro. "Pode ser qualquer tipo de vantagem material", diz Heloísa Gouveia, presidente do Conselho Tutelar até a semana passada. "A gente não sabe se vai mesmo para adoção, se vai para o exterior ou para o tráfico de órgãos humanos", afirma ela
Ao constatar o caso de Ana Paula, as conselheiras tutelares passaram a fazer visitas de casa em casa com uma lista de recém-nascidos fornecida pela Santa Casa, para verificar se a mãe continua com a criança. A maioria das mães, no entanto, prefere ficar com o filho mesmo sem o reconhecimento da paternidade e os desafios que isso representa. Tatiana, por exemplo, recém completou 17 anos, nunca trabalhou mas decidiu criar a filha sem ajuda do pai, que conheceu num bailão de Matinhos, onde mora. A menina completa seis meses hoje.
O rapaz tem 23 anos, vive de trabalhos eventuais e se recusa a assumir a criança. "Se fosse um piá (menino) ele disse que assumiria", conta. Ela largou a escola por causa da gravidez e agora pretende fazer o supletivo. Tatiana mora com os pais no bairro Tabuleiro, região pobre de Matinhos onde também vive Samanta, grávida de três meses de um rapaz de Curitiba que ela conheceu no início deste verão. Aos 27 anos, Samanta espera o quarto filho. Os outros (de 4, 8 e 10 anos) são do ex-marido, do qual se separou há um mês e meio, após anunciar que o filho não é dele.
Esta não foi a primeira relação extra-conjugal de Samanta. Ela confessa já ter tido vários casos com rapazes "de fora" nas férias de verão. O pai do bebê chegou a Matinhos no dia 9 de novembro passado, à procura de emprego temporário. Não conseguiu trabalho, mas duas semanas depois teve um romance rápido com Samanta, resultando na gravidez. Samanta terá de sustentar os filhos com a pensão paga pelo ex-marido. Ela diz manter contato eventual com o rapaz, de 21 anos, que a visitou uma vez depois de ser informado sobre a gravidez.