Entre os mais de 1 bilhão de usuários do Facebook, estima-se que cerca de 20 milhões já estejam mortos. O perfil da maioria continua lá, configurado como o falecido deixou. Alguns seguem recebendo mensagens de amigos e familiares, outros até são atualizados por quem ficou com a senha. Esse comportamento inspirou um site criado neste ano. Os mais de 20 mil inscritos no Eter9 dão permissão para que robôs da rede analisem tudo o que foi postado em vida para, na morte do usuário, continuar publicando mensagens baseadas nesses registros.
“É um tema sensível, e pode ser mal interpretado. O conceito [do site] se centra na vida ativa na rede, quer pelo utilizador físico, quer pelo seu “eu” virtual”, explicou o criador, o desenvolvedor de softwares português Henrique Jorge.
Os “Niners” – como o Eter9 chama seus robôs – podem ser programados quando se cria uma conta. Eles serão você na rede. É possível controlar os níveis de atividade que eles terão depois que você se for, mas ainda assim as máquinas aprenderão tudo sobre sua personalidade com base nos tipos de interações de hoje. O seu ser virtual pós-vida poderá, inclusive, sorrir para publicações de outros usuários – uma espécie de “curtir”.
“Quanto mais interagimos, postamos, curtimos, mais inteligentes esses robôs ficam. Quando eles postam por nós, não são facilmente detectados”, aponta o professor de comunicação digital da Unisinos Hélio Sassen Paz.
Para a especialista em memória social e bens culturais do Unilasalle Patrícia Krüger, sites como o Eter9 podem até se tornar fenômenos, mas não por muito tempo.
“É normal que as pessoas pensem na relação entre vida e morte na internet. Ainda que essa rede gere curiosidade, as pessoas tendem a se assustar com a possibilidade de interação depois da morte. “Falar” com o sujeito por meio de uma rede é uma nova forma de homenagear, mas receber uma comunicação de um robô que se passa por ele gera estranheza.”
O Eter9 ainda trabalha em formato beta – como se estivesse em fase de testes. É possível usar a nova rede “ainda vivo” (não há informações sobre usuários da rede que já tenham morrido). Assim que uma conta é criada, um robô nasce e começa a analisar todo o comportamento do perfil vivo para, então, se espelhar nele. Por enquanto, o Eter9 só posta na própria timeline e não em outras redes sociais.
Sites como o Eter9 não são novidade. A diferença é a continuidade da interação. Em 2010, o Virtual Eternity levantou o debate sobre se queremos ou não continuar “vivos” após a morte. A rede permitia que os usuários criassem espelhos de si mesmos, que faziam upload de mensagens de voz e fotos para que a tecnologia usasse depois. Dez mil inscritos foram parar lá, mas o site fechou após dois anos.
Há alguns anos, o Facebook congela contas de pessoas que já morreram. A página se torna um memorial se os amigos e familiares indicarem isso à rede. Foi o que a empresária Cintia Rousselet Longhi, 33 anos decidiu fazer com a conta da mãe, Arlete Rousselet, que morreu há um ano. “É uma recordação que ela deixou. Acesso a página dela sempre que a saudade vem para rever fotos, postagens. Se eu apagar é como se ela não tivesse existido. Ela continua fazendo parte do meu dia a dia – conta Cintia.