O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, em Campinas, anunciou nesta terça-feira (2) que a primeira cirurgia para a reconstrução crânio-facial realizada com placa de titânio impressa em 3D foi um sucesso. Quem passou pelo procedimento, pioneiro no Brasil, foi a estudante Jéssica Cussiolli, de 23 anos, que sofreu um acidente de moto no dia 5 de setembro de 2014 em Araçatuba, no interior de São Paulo. A cirurgia durou oito horas.
Os médicos usaram o exame de tomografia de Jéssica para criar um modelo virtual do crânio fraturado. A partir daí, a impressora 3D o reconstruiu em resina e placas de titânio por meio do pó do metal, que é importado. Três placas cobriram o afundamento de 12 centímetros no crânio da estudante e ficaram prontas em 20 horas.
A técnica faz parte de uma pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas e tem o esforço multiprofissional de engenheiros, médicos e físicos. “Importamos o equipamento e ele não vem com manual de aplicações para os estudos e pesquisas. Tudo fomos nós que desenvolvemos e aperfeiçoamos em seis anos de projeto”, diz o cirurgião Paulo Kharmandayan, professor do departamento de cirurgia plástica da Unicamp.
A cirurgia de Jéssica foi feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas como trata-se de uma pesquisa não há prazo estimado para ser disponibilizado na rede pública. “A intenção é que as pesquisas se tornem protocolos de medicina para serem adotados pelo SUS em todo País, em um futuro próximo. Estamos prontos para treinar outros hospitais e centros de pesquisa”, enfatiza Kharmandayan.
O médico diz que a cirurgia pioneira foi discutida entre toda a equipe de pesquisa. “A extensão dos problemas eram muitas, mas o desafio era maior ainda e aceitamos”, recorda o chefe da cirurgia plástica do HC.
De acordo com o médico, o resultado estético no crânio de Jéssica será bem próximo ao que era antes. Kharmandayan ainda afirmou que a nova técnica reduz a rejeição se comparada aos métodos já existentes, como o enxerto ósseo ou resina acrílica, o polimetilmetacrilato.
Jéssica Cussioli tentou desviar de um buraco e bateu contra uma caçamba, em Araçatuba, há 8 meses. Mesmo com o capacete, a estudante sofreu traumatismo crânio/facial gravíssimo e um acidente vascular cerebral (AVC), que refletiram em afundamento do crânio, perda da visão do olho direito e perda parcial dos movimentos do lado esquerdo do corpo. Após a primeira cirurgia, em Araçatuba, médicos estimavam que Jéssica tinha 2% de chance vida. Sua recuperação foi surpreendente.
A estudante passou por quatro cirurgias e, mesmo assim, não conseguia se livrar dos desconforto. Reclamava de fortes dores de cabeça, tontura e mal-estar. Jéssica agora sonha com uma vida normal. “Quero terminar a faculdade, ir ao shopping”, diz.
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