O médico e psicólogo Rui Fernando Cruz Sampaio segura uma caneta diante dos olhos da paciente. Sentada em uma poltrona, a jovem fixa o olhar no objeto e, aos comandos de voz do especialista, sente as pálpebras pesarem. Em pouco tempo, ela é induzida a um transe hipnótico. Longe do estigma sacramentado por filmes e apresentações de tevê – em que as pessoas hipnotizadas imitam animais ou comem cebola como se fosse maçã – a hipnose se consolidou como método sério. Cada vez mais, é usada como ferramenta auxiliar no tratamento de distúrbios psicológicos – como depressão e fobias – e capaz de solucionar crimes.
O que é?
Hipnose é um estado neurofisiológico entre o sono e a vigília, induzido a partir de uma série de técnicas específicas. Apesar da aparente condição de sonolência, a pessoa em transe hipnótico mantém intensa atividade cerebral. Neste estágio, o paciente apresenta uma maior capacidade de responder aos sugestionamentos do terapeuta.
Casos solucionados com a ajuda da hipnose
Caso “Michael”
Em 1999, um jovem de cerca de 20 anos foi encontrado em Fazenda Rio Grande, região metropolitana de Curitiba. Ele dizia que havia sido raptado por ciganos, quando ainda era criança. Ele não sabia sequer seu nome ou idade. Por gostar do pop-star Michael Jackson, passou a ser chamado de Michael. Após cinco sessões de hipnose, ele se lembrou que nasceu na cidade de Esplanada, na Bahia. Assistentes sociais localizaram a família do rapaz e um exame de DNA comprovou a verdadeira identidade.
Sequestro
Em 2010, um homem foi sequestrado em São Paulo. Depois de libertado, ele não tinha memórias do período em que ficou nas mãos dos sequestradores. Submetido à hipnose, ele descreveu detalhes do cativeiro e do entorno, visto por uma fresta da janela. Ele também conseguiu fornecer detalhes para o retrato falado dos sequestradores. A partir da descrição, a polícia conseguiu identificar e prender os suspeitos.
Assassinato
Após ser hipnotizada, uma mulher conseguiu se recordar detalhadamente do assassinato do marido, ocorrido 16 anos antes. Por meio de regressão, ela pôde de se lembrar não só do rosto do assassino, como também da forma como ele cometeu o crime: a golpes de enxada. A partir de então, o retrato falado foi decisivo na ação da polícia.
O Paraná, aliás, é pioneiro na aplicação da hipnose em investigações criminais. A técnica começou a ser usada experimentalmente no estado em 1983. Com os bons resultados, em 1999, o Instituto de Criminalística (IC) criou o laboratório de hipnose forense – ainda hoje, o único da América Latina. De lá pra cá, o método contribuiu com a apuração de mais de 800 crimes, dos quais praticamente não havia pistas. Em alguns deles, a hipnose foi decisiva.
Confira alguns mitos sobre a técnica
“A hipnose é usada em vítimas ou testemunhas de um crime, que estejam com amnésia total ou parcial, ou seja, que tenham sofrido um bloqueio natural dos detalhes do caso”, diz Sampaio, idealizador e chefe do laboratório no IC. Em média, o departamento atende a uma média de sete pessoas por mês. A maioria delas foi vítima de estupro ou presenciou assassinato.
A partir do transe, o hipnotista pode, por meio de diversos métodos psicológicos, desbloquear a memória do paciente, fazendo com que ele se lembre de detalhes que podem ser determinantes para esclarecer as circunstâncias dos crimes. A maioria das vítimas se recorda de detalhes, a ponto de ter condições de elaborar um retrato falado com alto grau de verossimilhança com os agressores.
Na semana passada, quando a reportagem visitou o laboratório, por exemplo, os peritos tinham acabado de fazer um retrato falado com base no depoimento de uma mulher que, depois de ter sido hipnotizada, lembrou-se claramente do rosto do homem que assassinou o namorado dela. O crime ocorreu em 2010, no bairro Xaxim, em Curitiba, e as investigações estavam paradas por falta de pistas. “Um retrato falado, como este, pode ser a chave para a polícia chegar ao autor do crime”, afirma o chefe do laboratório de hipnose forense do IC.
Em outros casos, as pessoas descrevem particularidades dos crimes que foram vítimas ou presenciaram – como a cor de uma peça de roupa, a placa de um carro ou um objeto - dados que também podem ajudar as investigações. Em 2001, um veículo Chevrolet Ômega atropelou e matou dois jovens. Após tomar o depoimento de testemunhas, a polícia passou a procurar por um veículo bordô. Depois de ser hipnotizado, um rapaz que presenciou a cena apontou que o carro na verdade era azul. O Ômega foi encontrado em um galpão abandonado. Um exame DNA comprovou que o sangue na lataria do carro era de uma das vítimas do atropelamento.
Confira alguns mitos sobre a técnica
Perda da consciência
A pessoa em estado de hipnose não perde a consciência, nem fica sob controle total do hipnotizador. O paciente mantêm a capacidade de autocontrole, mesmo sob transe hipnótico.
Presa no transe
Ninguém fica “preso” em transe hipnótico. Ainda que o terapeuta deixasse o paciente em estado de hipnose, este permaneceria em transe por alguns minutos até entrar, gradativamente, em estágio de sono normal, até acordar sozinho.
Contra a vontade
A pessoa hipnotizada não faz coisas que não queira. Ela desperta do transe, se for sugestionada a fazer algo que vá contra seus princípios. Ainda assim, o hipnotista consegue sugerir alucinações em pessoas que entram em transes mais profundos – como o sonambúlico.
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