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| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo/Arquivo/

Nem mesmo regimes opressores impediram que o povo brasileiro fosse à rua cobrar seus direitos durante a história republicana do país. Muitas manifestações, inclusive, foram motivadas justamente por obstáculos políticos, como a falta de liberdade individual ou a luta por ampliação de direitos sociais e trabalhistas.

O povo também foi a luta por motivos curiosos, como a vacinação obrigatória contra varíola ou pelo suicídio do então presidente e líder político Getúlio Vargas. A sociedade ainda tomou as ruas, com objetivos diferentes, para cobrar a saída de presidentes, como João Goulart e Fernando Collor de Mello.

Neste domingo, novas manifestações marcarão a história recente brasileira em atos contra o atual governo federal - a previsão é de que apenas em Curitiba 100 mil tomem as vias da cidade.

O cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Oliveira, acredita que na maioria dos protestos realizados ao longo da história da República do país havia uma motivação voltada a luta pela democracia, pela ampliação dos direitos e pela cidadania. “A maioria dos protestos que marcaram o Brasil era com esse propósito progressista, com exceção da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que pedia a queda de João Goulart, e tinha um tom mais conservador, principalmente contra as reformas propostas por ele”, afirma.

Confira oito manifestações que entraram na história da República brasileira:

Revolta da Vacina (1904)

A ideia era evitar que epidemias assolassem a então capital federal, Rio de Janeiro. Mas desencadeou uma das maiores manifestações populares dos primórdios republicanos no Brasil. Ao longo dos dias 10 e 18 de novembro, uma multidão tomou as ruas para protestar contra a vacinação obrigatória contra a varíola. A medida foi adotada pelo governo e foi encabeçada pelo o sanitarista Osvaldo Cruz. Não há estimativas precisas do número de manifestantes. O cenário foi desolador: bondes tombados, trilhos arrancados e calçamentos destruídos.

Suicídio de Getúlio Vargas (1954)

Em meio a uma crise política que deveria levar, cedo ou tarde, a queda de seu governo, o presidente Getúlio Vargas disparou um tiro contra si e tirou sua própria vida em agosto de 1954. Nem mesmo morto, Vargas ‘descansou’. A carta-testamento, que contava com críticas aos seus opositores, agravou o clima de comoção e revolta. Manifestações populares ocorreram em diversas cidades do país no decorrer dos dias seguintes à morte do estadista. Estimativas apontam para até 3 milhões de pessoas nas ruas nos mais distintos municípios.

Marcha da Família (1964)

Agência O Globo

Movimento surgido em março de 1964 que consistiu numa série de manifestações contra o presidente João Goulart que havia anunciado um programa de reformas de base. Congregou segmentos da classe média, temerosos do “perigo comunista” e favoráveis à deposição do presidente da República. A primeira dessas manifestações ocorreu em São Paulo, a 19 de março, e reuniu cerca de 500 mil pessoas. A iniciativa da Marcha da Família repetiu-se em outras capitais. Após a derrubada de Goulart pelos militares em 31 de março, os atos ficaram conhecidos como “marchas da vitória”. A marcha do Rio de Janeiro levou às ruas cerca de um milhão de pessoas no dia 2 de abril de 1964.

Marcha dos Cem Mil (1968)

ARQUIVO / AGÊNCIA O GLOBO

Cerca de 100 mil pessoas foram às ruas do Rio de Janeiro pedir o fim da ditadura militar, que já estava há quatro anos no poder, em junho de 1968. A morte do estudante Edson Luis de Lima Souto, assassinado pela PM em um restaurante, provocou vários levantes estudantis no país. A passeata terminou de maneira pacífica. Mas o final daquele ano, a repressão aumentou com um golpe ainda mais duro: o Ato Institucional 5 (AI-5), que deu poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou considerados como tal.

Greve de 1979

Liderados pelo então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Inácio Lula da Silva, os trabalhadores reivindicavam melhores salários e condições de trabalho em plena vigência da ditadura militar. Cerca de 160 mil pessoas participaram da greve do ABC. Os professores de São Paulo e do Rio de Janeiro também aderiram à greve. Estima-se que 3,2 milhões de trabalhadores entraram em greve em todo o país.

Diretas Já (1984)

Divulgação / Gabinete Alvaro Dias

De janeiro e abril de 1984, o país foi tomado por grandes comícios cobrando o fim do Regime Militar e pedindo a volta das eleições diretas para presidente, abolidas desde 1964. Curitiba foi palco, em 12 de janeiro de 1984, do primeiro grande comício em todo o país da campanha Diretas Já, com cerca de 40 mil pessoas. Os dois maiores foram em abril: na Candelária, no Rio de Janeiro, com cerca de 1 milhão de pessoas e no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, com aproximadamente 1,5 milhão.

Caras Pintadas (1992)

Antonio Costa/Gazeta do Povo/Arquivo

A mobilização contra o então presidente Fernando Collor de Mello tomou conta de todo o país em 1992. Um dia após sua posse, em 1990, ele, na tentativa de controlar a inflação, realizou o ‘confisco’ da poupança, que bloquearia por 18 meses os valores dos investimentos acima de NCz$ 50 mil. Além disso, e que foi o estopim para desencadear a revolta popular, havia a acusação de corrupção. O tiro pela culatra aconteceu quando, já ameaçado no cargo, conclamou os brasileiros a defender seu mandato usando verde e amarelo. O efeito foi o inverso e provocou o chamado “domingo negro”. Era 16 de agosto de 1992 e a população saiu às ruas com as caras pintadas e usando roupas pretas em repúdio a Collor. Na capital paranaense, cerca de 40 mil pessoas tomaram a região central. As manifestações foram quase rotineiras. Uma semana depois, 39 manifestações explodiram pelo país. Na semana seguinte, 41.

Não é por R$ 0,20 (2013)

Arquivo/Gazeta do Povo

O Movimento Passe Livre (MPL) promoveu, em São Paulo, um ato para protestar contra o reajuste da passagem do transporte público. Milhares de pessoas participaram de várias manifestações a partir de abril. A repressão policial marcou os manifestos. Nos meses seguintes, protestos semelhantes estouraram em outras capitais, como Natal, Goiânia, Rio de Janeiro e Curitiba. O motivo do protesto deixou de ser os reajustes no transporte coletivo: os manifestantes foram às ruas reclamar dos gastos com a Copa do Mundo de 2014, das condições precárias na educação, saúde e segurança, além das denúncias de corrupção.

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