Um Paraná pintado de verde. Durante os anos 30 um partido com caráter fascista surgiu no Brasil e encontrou adeptos em mais de 80% dos então 57 municípios do estado à época.
A Ação Integralista Brasileira (AIB) reuniu comerciantes, intelectuais, jornalistas, dentistas, empresários em torno de um movimento que visava a criação de um estado integral, sem chances para o dissenso e contrariedade de ideais. Restaria um governo completamente autoritário sem espaço para a liberdade individual.
Claramente inspirados no fascismo italiano e no nazismo alemão, os camisas-verdes integralistas dominaram 48 núcleos municipais no Paraná, 86 núcleos distritais, 16 núcleos rurais e 5 núcleos em fase abertura em 1936. “Considerando que oficialmente havia 57 municípios e 149 distritos no estado, o avanço integralista foi, de fato, surpreendente”, ressalta o historiador Rafael Athaídes, que escreveu uma tese de doutorado sobre o assunto.
De acordo com o pesquisador, cerca de 40 mil paranaenses passaram a usar a camisa verde como “segunda pele” – no Brasil, foram cerca de 1 milhão. Em termos relativos, o Paraná era a 5.ª maior Província Integralista do Brasil. Tamanha força resultou em um bom desempenho eleitoral no estado.
Estima-se que nacionalmente o integralismo tenha eleito de 20 a 25 prefeitos, um deputado federal e quatro deputados estaduais.
Segundo Luiz Oliveira, doutorando em História e pesquisador do Grupo de Estudos do Integralismo, em 1935, AIB elegeu em vários municípios quase a metade da câmara municipal, além de dois prefeitos.
“O primeiro em Teixeira Soares, que foi o primeiro prefeito integralista do Brasil, o segundo em Rebouças em 1936, empossado após questões judiciais”, afirma.
O triunfo conferiu a Teixeira Soares o título de “Cidade Integralista”. De acordo com Athaídes, em cidades como Rio Negro e Ponta Grossa, metade das câmaras municipais vestiram a camisa verde.
Autoritarismo
Ele explica que a AIB era um projeto autoritário, pois na “nação integral” não haveria espaço para o diferente. “É o oposto de um Estado democrático”, afirma. O discurso e as práticas pautavam-se pelo nacionalismo, catolicismo e moralismo extremados, sintetizados no lema ‘Deus, Pátria e Família’.
O historiador Rafael Athaídes explica que assim como outros fascismos, o Integralismo mobilizou massas em amplas formações paramilitares, cujos maiores desfiles atingiram de 35 a 50 mil militantes uniformizados em marcha, sempre prontos a atuar em confrontos de rua. “A disposição para a violência estava presente, sem dúvida, mas os níveis atingidos no Brasil foram muito menores do que do fascismo italiano e do nazismo”, enfatiza.
Em muitos aspectos, as táticas integralistas no Brasil dialogavam com as utilizados por fascistas e nazistas. Uniformes, insígnias (o sigma), bandeiras, desfiles, concentrações e atos públicos – recursos de propaganda fascista e que definiam quem eram os ‘integrados’ nesses movimentos. Além do brado anauê acompanhado do braço direito espalmado.
Contra o liberalismo e uma delirante crença
Como todo fascismo, o integralismo recusava os ideais de liberalismo e do marxismo, entendidos como “dois irmãos gêmeos disputando a herança do século XVIII e as promessas da Revolução Francesa”, nas palavras de Miguel Reale, teórico do Estado Integral. O historiador Rafael Athaides explica que “os integralistas entendiam que os partidos políticos e o voto, eram inimigos do projeto político nacionalista, autoritário e centralizador do movimento”.
Athaides ainda revela que a “necessidade do renascimento nacional “ era ancorada na “delirante crença na ‘Civilização Atlântida” perdida, que renasceria na América Latina”. Além disso, existia o princípio da liderança carismática, pessoal e autoritária.