Mesmo sendo necessários mais dados para poder ligar os fenômenos climáticos que assustaram o país nos últimos dias ao aquecimento global, é consenso entre especialistas que a ação humana potencializa os desastres da natureza. A opinião dos técnicos é bem diferente da emitida ontem pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que culpou o meio ambiente pelo caos no estado. Ele afirmou ontem que só resta à população rezar.

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"É óbvio que não se pode controlar a quantidade de chuvas, mas há sim como minimizar os efeitos negativos sobre a população. Precisamos ocupar o espaço urbano de forma diferenciada", diz o professor do curso de Me­­teorologia da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo de Camargo. Ele lembra que a Marginal Tietê, por exemplo, está passando por obras de ampliação. "Depois é fácil colocar a culpa em São Pedro", diz.

Estudos apontam que a cada década a ocorrência de desastres relacionados com o clima aumenta oito vezes. O fenômeno é fruto de mudanças naturais do planeta e também da ação do homem. Assim, melhorando a forma de ocupação do solo e apoiando o desenvolvimento sustentável, certamente a sociedade não teria que culpar a natureza pelos estragos.

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Geólogo e diretor do Centro de Apoio Científico em De­­sastres da UFPR (Cenacid), Re­­nato Lima afirma que há possibilidade também de as fortes chuvas serem influência do fenômeno El Niño. "Já sabíamos que neste ano teríamos um índice pluviométrico acima do normal, mas não havia como prever a magnitude". O El Niño ocorre quando há uma mudança na temperatura da água no Oceano Pacífico.

Ricardo de Camargo argumenta que é preciso haver uma nova consciência ambiental da sociedade. "Não é ser contra o desenvolvimento, mas avaliar que as mudanças atuais estão, sim, influenciando o clima. E, se não temos controle sobre os fenômenos, temos sobre os resultados", afirma. Ele diz que é preciso também investir em pesquisas científicas para estudar o clima. "Nesta época do ano, as regiões Sul e Sudeste tinham característica mais seca. 2009 está sendo atípico. As tempestades se assemelham a pancadas de verão. Por isso é preciso investigar o que está ocorrendo."