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Chuva

Horas de caos e morte no Rio

Carros não puderam trafegar: prefeitura sugeriu que cariocas ficassem em casa | Sérgio Moraes/Reuters
Carros não puderam trafegar: prefeitura sugeriu que cariocas ficassem em casa (Foto: Sérgio Moraes/Reuters)

Rio de Janeiro - Pelo menos 103 pessoas morreram no maior temporal da história do Rio de Janeiro. Em 14 horas, das 17 horas de segunda-feira às 8 horas de ontem, choveu 278 mm na cidade, três vezes a média prevista para todo o mês de abril, que é de 90 mm. O volume também superou a marca histórica de 1966, quando foram registrados 245 mm em 24 horas.

O Rio viveu um dia de caos ontem. Pelo menos 1,4 mil pessoas ficaram desabrigadas, cerca de 400 desalojadas, 56 feridas e quatro desaparecidas. Escolas públicas e particulares cancelaram as aulas e 12 bairros ficaram sem energia elétrica. No início da tarde, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes pediram para que a população não saísse às ruas, já que todo o sistema de transporte foi prejudicado. Já na noite de segunda-feira, a água impedia a circulação de carros e ônibus nas principais ruas e avenidas e deslizamentos de terra bloqueavam vias importantes. Com isso, milhares de pessoas não conseguiram voltar para suas casas e passaram a noite na rua. Muitos abandonaram seus carros em meio à enchente. Das 17 horas de segunda-feira às 15 horas de ontem, a Defesa Civil da capital registrou 552 chamados.

Ontem, a ponte Rio-Niterói ficou fechada durante duas horas e cerca de 60% dos voos atrasaram no aeroporto Santos Dumont, que ficou fechado por quase três horas. A circulação de trens foi interrompida no ramal Saracuruna, e em outros trechos paradas foram canceladas. Empresas dispensaram seus funcionários e o Centro da cidade ficou praticamente deserto. A maré alta contribuiu para agravar os alagamentos. Na lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal da cidade, a prefeitura afirmou que o nível da água, que geralmente é de 50 centímetros, atingiu 1,4 metro pela manhã.

A tragédia levou o presidente Lula, que estava no Rio, a apelar a Deus. "Quando o homem lá em cima está nervoso e faz chover, só temos que pedir a Ele para parar a chuva no Rio de Janeiro e que a gente possa tocar a vida na cidade", disse Lula.

Áreas de risco

Lula determinou que 40 agentes da Força Nacional e um helicóptero fosse enviados ao Rio e pediu que os moradores de áreas de risco deixassem suas casas e buscassem abrigo com parentes. "Quem mora em beira de córrego, em encosta de morro, em área que possa ter deslizamento, por favor, saia e espere a chuva passar. Vá para a casa de um parente, procure a prefeitura. Só tem chance de brigar para melhorar sua vida se tiver vivo. Não fique arriscando neste momento, porque não ajuda", disse o presidente, depois de uma conversa com o governador Cabral. "Não existe ser humano no planeta Terra que consiga enfrentar uma mudança de clima como essa. É a maior chuva da história do Rio de Janeiro. Não há possibilidade de o homem vencer se a intempérie for demais."

Lula e Cabral atribuíram a tragédia a anos de "irresponsabilidade e demagogia" de governantes que permitiram a ocupação de áreas de risco pela população pobre. "A demagogia levou a essa situação. Pessoas morarem em áreas de risco não é natural. Você pode ter uma ou outra vítima de um poste que cai na cabeça, de um carro que entra em um buraco. Mas faça um levantamento do número de pessoas que morrem. São os mais pobres, em áreas de risco", afirmou Cabral, que decretou luto oficial de três dias no estado. "Os transportes ficam caóticos, mas não matam ninguém. Tudo isso é muito ruim, mas não é tão dramático quanto perder vidas."

O prefeito Eduardo Paes evitou discutir ações de ocupação irregular no passado e se concentrou nos apelos à população. "Todas as áreas de encosta da cidade correm risco de deslizamento. Nosso apelo é para que as pessoas nas áreas de encosta saiam de suas casas. É inaceitável que permaneçam correndo risco", disse.

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