As dificuldades financeiras dos hospitais filantrópicos não podem ser explicadas somente pela defasagem na tabela de pagamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa é a posição do especialista em gestão em Saúde, Jaime Gil Bernardes, mestre em Administração. Segundo ele, é inegável que os valores pagos pelo Ministério da Saúde são baixos, mas outros fatores ligados a dificuldades de gestão hospitalar interferem diretamente no setor, que vive o risco de ter leitos fechados em todo o Brasil. A dívida do setor é de R$ 21 bilhões em todo o país.
Dívidas ameaçam funcionamento de Santas Casas e hospitais filantrópicos
Leia a matéria completa“Na realidade os baixos valores pagos pelo SUS se tornaram um culturalismo recorrente nos hospitais, uma caixa preta, onde a culpa da má gestão é colocada. Se existe um problema, é mais fácil colocar a culpa no SUS do que arregaçar as mangas e tentar resolver os problemas”, afirma Bernardes.
O primeiro passo para tentar sanar essas dificuldades, alerta o especialista é a profissionalização da parte administrativa. “O setor de faturamento de um hospital é uma das coisas mais complexas que existem. Um erro muito comum na gestão hospitalar é colocar médicos no comando estratégico. Treinamento, liderança, indicadores e outras práticas comum nas empresas parece que estão longe de muitos hospitais no Brasil.”, afirma ele, que ocupou cargo de gestor hospitalar no Rio Grande do Sul.
Segundo ele, há hospitais que possuem uma gestão profissionalizada que conseguem resultado financeiro melhor. “Mas os valores do SUS são os mesmos para estes hospitais e para os outros. Então como é que conseguem? Gestão, gestão, gestão”, aponta.
Vilão
Bernardes afirma ainda que o grande vilão no caixa de um hospital é a quantidade de desperdícios. “Não somente com materiais inutilizados e medicamentos não usados, mas com pessoas caminhando desnecessariamente dentro do hospital, salas cirúrgicas vazias, equipamentos sem manutenção. A literatura já fala, há muito tempo, que 40% dos recursos de um hospital são desperdiçados”, ressalta.
MP acompanha situação de hospitais em Curitiba
A Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública recebeu a informação no fim do ano passado sobre a possibilidade de fechamento de leitos em hospitais filantrópicos do estado, entre eles a Santa Casa de Curitiba. “A Promotoria de Justiça está acompanhando a questão para verificar as providências que serão adotadas pelo gestor público para resolver a situação”, informa em nota o Ministério Público.
Um exemplo de erros de gestão é a Santa Casa de São Paulo. A instituição enfrenta, desde 2014, a maior crise financeira de sua história, com um rombo R$ 773 milhões nas contas. Uma auditoria encomendada pela Secretaria Estadual da Saúde apontou que existia má gestão na Santa Casa. Dentre as irregularidades, o relatório indicou a compra de materiais superfaturados, pagamento de super salários e fraudes em contratações de serviços.
Para os hospitais que já estão endividados a solução, segundo ele, é começar imediatamente um projeto de reestruturação da estratégia e dos processos, “proporcionando que esta dívida não aumente e quem sabe, ao passar do tempo, estas dívidas antigas possam ser negociadas”, diz Jaime Gil Bernardes.
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