O governo do Estado de São Paulo atrasou por seis meses o repasse para o Hospital de Câncer de Barretos, no interior paulista, maior unidade para tratamento da doença no Brasil. Entre janeiro e junho, o complexo hospitalar de Barretos e sua filial em Jales deixaram de receber cerca de R$ 24 milhões. Sem a verba, o hospital teve de fazer um empréstimo bancário de R$ 30 milhões para continuar a funcionar. O governo diz já ter feito o pagamento de todos os atrasados.
Responsável pelo atendimento de cerca de 5 mil pacientes por dia, todos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a instituição filantrópica do interior paulista tem como principal fonte de financiamento a verba enviada pelo Ministério da Saúde, no valor de R$ 13,5 milhões.
A unidade de Jales, no entanto, ainda não é custeada por verba da União porque aguarda processo de credenciamento no órgão federal. A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo repassa um valor extra ao hospital para auxiliar nas despesas. Essa verba, de R$ 4 milhões por mês, deixou de ser paga em janeiro.
“O que tínhamos sido informados é que teria um corte de 10% no repasse mensal do Estado, por causa da queda na arrecadação, mas até aí, tudo bem, já estávamos esperando. O problema foi que o dinheiro deixou de vir integralmente. E, com a fila de pacientes que temos, não dava para reduzir o atendimento”, relata Henrique Prata, diretor-geral do hospital. Ele afirma que só nos alojamentos oferecidos pelo hospital para pacientes que aguardam tratamento há 2 mil pessoas esperando cirurgias oncológicas.
“No hospital de Jales, por exemplo, poderíamos atender mais gente, porque temos quatro centros cirúrgicos e só dois estão funcionando. Mas não tenho como atender mais gente se o repasse não é suficiente nem para os que já atendemos hoje”, afirma. O diretor diz que os repasses estaduais foram retomados no fim de junho, com a promessa de que, a cada mês, seriam pagas duas parcelas para compensar o atraso do primeiro semestre. “Em junho e julho foram pagas duas parcelas, mas em agosto e setembro só recebemos uma”, diz.
Prata afirma que o custo que tem com todas as unidades do complexo é de R$ 27 milhões mensais. Mesmo quando recebe integralmente os valores do ministério e da secretaria, que somam R$ 17,5 milhões, a conta não fecha. “O que salva é que temos força para pedir doação para a sociedade. Todo mundo ajuda. Se não fosse isso, o hospital estaria fechado”, diz.
O Hospital de Câncer de Barretos é conhecido por conseguir doações de artistas, principalmente os sertanejos. Os pavilhões do hospital levam os nomes das celebridades colaboradoras.
A secretaria apresentou à reportagem recibos de depósitos bancários atestando já ter pago dois meses retroativos ao hospital de Barretos e três ao de Jales. O governo do Estado diz que não há atraso no pagamento dos retroativos. Após receber a resposta da secretaria, no início da noite de ontem, a reportagem não conseguiu contato com um porta-voz do hospital.
Paciente da unidade de Jales, o pintor automotivo João Nunes dos Santos, de 59 anos, foi diagnosticado com câncer de próstata em janeiro, mas só conseguiu ter a cirurgia de retirada do tumor agendada para novembro. “O atendimento é muito bom, mas fico me perguntando a razão da demora. A gente quer fazer o tratamento logo. Já perdi meu pai, minha mãe e meu irmão para o câncer. Quero acreditar que comigo vai ser diferente”, diz.
O paciente afirma que, sabendo das dificuldades financeiras do hospital, tem recolhido mantimentos para fazer um leilão e doar o dinheiro ao hospital. “O certo seria o governo repassar mais dinheiro. Mas, como conheço muita gente na minha cidade, resolvi tentar ajudar também e pedir doações para os conhecidos. Já consegui mais de 400 quilos de mantimentos”, afirma ele, que é morador de Paranaíba, em Mato Grosso do Sul.