Usina de reciclagem
Licença abre precedente
Além da licença de operação de Fazenda Rio Grande, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) concedeu ontem licença de instalação para uma área pertencente à empresa Cavo, em Mandirituba, na região de Curitiba. A atitude do IAP abre precedente para a discussão sobre outra localidade, próxima ao terreno, cotada há um ano e meio para receber o Sipar, a futura unidade de reciclagem. No município, a Lei 483, sancionada em dezembro de 2008, impedia o recebimento de resíduos sólidos de outras cidades. O atual prefeito Antônio Maciel Machado, o Machadinho (PDT), emitiu um decreto, regulamentando a lei e autorizando a instalação de usinas de reciclagem. Após disputa na Justiça, houve consenso de que o decreto teria validade.
"Nossa intenção é que o IAP libere a instalação do Sipar. Me causa estranheza liberar para a Cavo antes do Sipar", diz o prefeito. "Fiz um decreto regulamentando a indústria de reciclagem, mas não permitindo aterro sanitário", acrescenta. De acordo com ele, o protótipo apresentado pela empresa à prefeitura previa usina de reciclagem para cerca de 50 toneladas/mês. Por meio de nota oficial, a Cavo informou que o novo projeto será construído em uma área de 250 hectares e que respeita as condicionantes do IAP: "O novo projeto (...) prevê a utilização de modernas tecnologias que atendem a rígidos requisitos ambientais com capacidade de atendimento à região metropolitana de Curitiba".
Entenda o caso
A instalação do Sipar e de aterros provisórios são processos diferentes:
Aterro temporário
- Em maio deste ano, o Consórcio Intermunicipal anunciou que iria contratar aterros em caráter emergencial. A medida foi tomada porque o prazo de uso do Caximba expirar em 31 de outubro e a licitação do Sipar está emperrada na Justiça.
Usina de reciclagem
- A licitação do lixo previa entrega de propostas em março de 2007, mas ficou parada até agosto de 2008. Somente em maio de 2009, a prefeitura anunciou os finalistas. Em dezembro, a Recipar foi declarada vencedora, mas uma liminar judicial paralisou todo o processo. Além disso, há dificuldade para encontrar um terreno para instalar o Sipar.
A última barreira legal para a instalação de um aterro sanitário provisório na Grande Curitiba foi superada ontem. O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) concedeu a licença de operação para uma área em Fazenda Rio Grande, que vai receber temporariamente o lixo da capital e de mais 19 municípios da região metropolitana. São cerca de 2,5 mil toneladas geradas diariamente.A autorização do IAP veio a 18 dias do fim do prazo determinado pela Justiça para utilização do aterro da Caximba (31 de outubro), cuja vida útil foi estendida inúmeras vezes desde 2004, e no último dia para cadastrar espaços aptos a armazenar os resíduos em caráter emergencial. O aterro provisório funcionará por, no máximo, 24 meses.
A aparente solução é, na realidade, apenas mais um ganho de tempo até a definição da licitação do lixo e da área onde será instalado o Sistema Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos (Sipar). Neste ano, o Consórcio Intermunicipal para a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos homologou a vitória do Consórcio Recipar. No entanto, o processo licitatório está parado por uma decisão da Justiça.
Oficialmente, o consórcio não se manifesta sobre a questão do aterro provisório porque o processo de contratação não foi concluído. Três empresas estão na disputa, mas apenas o terreno da Estre Ambiental, em Fazenda Rio Grande, obteve formalmente a licença de operação. A Cavo Ambiental, que tem um terreno em Mandirituba, e a Essencis, na divisa entre Curitiba e Araucária, não teriam obtido o documento ambiental, mas a informação não foi confirmada pelo consórcio. A previsão é que até amanhã seja divulgado o nome da empresa que venceu a disputa.
Ao todo, a empresa homologada pode receber até R$ 47,06 por tonelada atualmente, a prefeitura repassa R$ 23,37 para a operação do aterro da Caximba, sem contar os custos da coleta e seus investimentos realizados na manutenção do espaço. Outra diferença é o fato de o aterro apenas controlar os resíduos, enquanto o novo centro prevê reciclagem e criação de compostagem (transformação de resíduos em material orgânico para a agricultura). Com isso, entre 30% e 40% dos resíduos devem chegar ao aterro.
Secretário de Estado do Meio Ambiente, Jorge Augusto Callado Afonso, afirma que só permitiu a assinatura da licença de operação com a inclusão de quatro condicionantes que devem diminuir os danos ao meio ambiente: o chorume gerado precisa ser coletado e tratado em outra estação; deve haver monitoramento constante de águas superficiais e subterrâneas; a empresa deve construir rota alternativa para caminhões que transportam lixo de forma a diminuir o contato com a sociedade; e deve haver drenagem de gases. "Essas ações terão fiscalização intensa. Se não forem cumpridas, a licença pode ser revogada a qualquer momento", explica.
Em Fazenda Rio Grande, o documento liberado pela prefeitura que autoriza o funcionamento do aterro da Estre Ambiental no município será concedido após a apresentação formal da licença de operação. Até o fim da tarde de ontem, a prefeitura não havia recebido um contato oficial da empresa. "O município não se opõe à liberação do aterro sanitário", afirma o secretário municipal de Urbanismo, Elvis Roberto Maioky. A previsão é que com o funcionamento do aterro, Fazenda Rio Grande receba em torno de R$ 500 mil em impostos. De acordo com o secretário, o espaço está pronto para entrar em funcionamento a partir de novembro.
Análise
O engenheiro civil e professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da UFPR Miguel Mansur Aisse considera as condicionantes impostas pelo IAP importantes. "São exigências tradicionais. Qualquer empreendimento atual deve minimizar o impacto ambiental", afirma. Aisse elogia a proposta de retirar o chorume do local. "É uma providência interessante porque, com a retirada, o volume não será muito grande, facilitando o tratamento", diz.
Presidente da Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária, Lidia Lucasky, duvida que a fiscalização seja realizada. "Não sei o que entendem por Central de Tratamento. Mas é capaz de se transformar em uma nova montanha de lixo, com mistura entre orgânicos e recicláveis", diz. De acordo com ela, a pressa para se resolver o problema se deve à falta de planejamento. "Chegamos a um impasse em que não há solução. Por isso existe pressa de todos, inclusive da Justiça", diz.
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