Transtorno
Acidente freia ânimo de aposentada
Numa tarde de domingo, a aposentada Flora Besdudnyj, 70 anos, de Ponta Grossa, não hesitou em deixar o conforto da sua sala para atender a vizinha que batia à porta. Quando estava na calçada, conversando com a amiga, Flora ouviu um estrondo e voltou o olhar para o lado. Depois disso, ela só se lembra que abriu os olhos e percebeu que estava caída na calçada, ao lado de um carro batido no portão, com as mãos ensanguentadas e sem conseguir levantar, devido à dor nas pernas. O atropelamento ocorreu há quatro meses, mas a aposentada ainda tenta se recuperar dos ferimentos e do trauma.
Ela foi atingida por um carro desgovernado que subiu na calçada. Quebrou o joelho direito e um dedo da mão esquerda, além de levar pontos na cabeça e nas costas. Ficou 45 dias de cama, fez 47 sessões de fisioterapia e teve de implantar um pino no dedo indicador esquerdo. Flora precisa de muletas para andar e não recuperou completamente os movimentos. "Não consigo mais fechar a mão", comenta.
A convalescença foi acompanhada por amigas e parentes. "Todos os dias em que estive de cama recebi visitas. Fazíamos até piquenique no quarto. Todos me apoiaram bastante".
Além dos transtornos, ela se ressente de ter perdido a independência. "Eu tenho 70 anos, mas me sinto como se tivesse 15. Acordava às 6 da manhã, fazia meu café, andava direto pela cidade", lembra. Flora, que é viúva e perdeu o único filho num acidente de carro, mora com os dois netos jovens. Para ajudá-la na recuperação, contratou uma cuidadora. "Agora está ficando mais fácil, estou conseguindo até tomar banho sozinha", conta.
O acidente a surpreendeu, pois a aposentada diz que sempre foi muito cuidadosa no trânsito. "Quando ia ao mercado, ficava esperando a melhor hora de atravessar. Não imaginava que pudesse acontecer isso comigo na frente da minha casa", diz.
O número de vítimas de trânsito da terceira idade mostra os perigos aos quais os pedestres se expõem ao caminhar pelas ruas das cidades. Não é uma carnificina como a demonstrada no polêmico jogo Carmageddon, que chegou a ser proibido no Brasil por incentivar o atropelamento de velhinhos. Mas o risco é alto.
Dos 6.690 atropelamentos atendidos pelos socorristas do Corpo de Bombeiros no ano passado no estado, 1.074 foram de pessoas com mais de 60 anos, 16% do total. No ranking por faixa etária de risco no trânsito paranaense, os adultos de 20 a 24 anos são as principais vítimas (683 atropelamentos), seguidos pelos jovens de 15 a 19 anos (620 casos). As pessoas que já passaram dos 70 anos estão no terceiro grupo mais vulnerável, com 578 registros de atropelamentos.
O ritmo de vida dos idosos, com mais saúde e disposição para assumir tarefas fora de casa como idas ao supermercado e bancos, ou mesmo trabalho e lazer, coloca mais velhinhos nas ruas. Para quem já tem a mobilidade reduzida por causa de algum problema de saúde, atravessar a rua torna-se um desafio.
O presidente da Associação Brasileira de Pedestres (Abraspe), Eduardo José Daros, observa que o Código de Trânsito Brasileiro garante proteção aos pedestres de maneira geral. "Os caminhões devem cuidar dos carros, que devem cuidar das motos. E todos devem zelar pela segurança dos pedestres. Ainda mais se os pedestres têm a mobilidade reduzida por algum motivo, como os idosos", comenta. Mas a regra básica é esquecida.
Os números variam entre as grandes cidades do Paraná. Em Londrina, o número de idosos atropelados representa 22,2% do total de casos, enquanto que em São José dos Pinhais não passa de 9,7%. Na capital, a média é de 15,2%. Para o comandante da Companhia de Trânsito de Londrina, tenente Ricardo Eguedis, a explicação para a alta taxa está em um fator cultural. "Os idosos de Londrina saem bastante de casa, têm uma vida ativa", argumenta. Por outro lado, São José dos Pinhais concentra um grande volume de carros. "Temos a sétima maior frota do estado e chegamos em terceiro lugar se considerarmos a frota circulante devido aos contornos rodoviários", informa o diretor municipal de trânsito, Eduardo Undria. O baixo índice de atropelamentos de idosos, segundo ele, deve-se ao fato de a cidade ser bem sinalizada e manter um histórico de palestras de educação para o trânsito em empresas e escolas.
Educação
Palestras educativas, completadas com aulas práticas, são desenvolvidas nas escolas de trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). São seis delas nas principais cidades do estado. A coordenadora Maria Lucia Alves Kutianski admite que o idoso não é o foco das escolas, mas que a segurança no trânsito para a terceira idade é lembrada principalmente no mês de setembro, durante a Semana Nacional do Trânsito.
Para o sargento Lenon Marcos Messias, do Corpo de Bombeiros em Ponta Grossa, antes de tudo é preciso contar com a conscientização de motoristas e dos próprios idosos para reduzir as estatísticas. "É preciso que todos respeitem as vagas privativas, por exemplo. Isso evita que eles deixem o carro mais longe e tenham de atravessar ruas movimentadas, e se expondo a mais riscos."
O cuidado deve ser dobrado quando o pedestre tem alguma limitação motora. "O idoso que é portador de alguma doença que comprometa sua capacidade de ambulação provavelmente levará mais tempo para cruzar a mesma via, terá mais dificuldade para ver e ouvir um veículo que se aproxime e terá menos sucesso ao tentar evitar um atropelamento", explica o médico geriatra e presidente da seccional estadual da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rodolfo Augusto Alves Pedrão. Não há uma estatística oficial sobre o número de atropelamentos de idosos que morrem por sequelas do acidente, mas a recuperação é mais lenta que para um adulto saudável.
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