No pátio da igreja do Terço, no centro histórico do Recife, o líder separatista frei Caneca foi despido antes de ser fuzilado pelas tropas de dom Pedro 1º, em 1825.
No ponto mais alto de Olinda, o conjunto formado pela igreja de Nossa Senhora da Graça e pelo antigo seminário era usado por jesuítas para catequizar índios no século 16. Hoje, é um dos principais exemplares da arquitetura quinhentista no Brasil.
Construídas por escravos negros no século 17, as igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Olinda e no Recife, viraram palco de rituais afrodescendentes que deram origem ao maracatu, símbolo da cultura pernambucana.
Mas quem quiser conhecer por dentro esses e outros templos que já foram cenário da história do país terá de contar com a sorte. Com estruturas precárias, falta de segurança e poucos funcionários, a maioria das igrejas históricas do Recife e de Olinda fica boa parte do tempo fechada.
Em dois dias, a reportagem percorreu 25 igrejas no centro histórico das duas cidades e encontrou 16 com as portas fechadas. Sete estão interditadas por problemas na estrutura, mas só três estavam em obras. As outras nove abrem só para as missas, ou não têm hora certa para abrir.
A aposentada Beatriz Germano, de Porto Alegre, comemorou por poder visitar a igreja da Madre de Deus, no Recife Antigo, no último dia 12. No dia anterior, foi a dez igrejas em Olinda, mas oito delas estavam fechadas.
“Em uma delas, os vizinhos disseram que tem um sacristão que abre na hora que quer. É pena, a gente só vem uma vez e encontra a igreja fechada. Sou católica e gosto de entrar pra conhecer por dentro”, disse Beatriz.
A igreja do Terço é outro exemplo. Estava fechada numa tarde de terça-feira, mas aberta na manhã seguinte. “Eu fecho às 12h30 para ir à missa na igreja da Penha. Quando tenho alguma coisa pra resolver depois, eu não volto”, disse a freira Valdineide Freire, que cuida do lugar.
O presidente da comissão de cultura da Arquidiocese de Olinda e Recife, frei Rinaldo, diz que algumas dessas igrejas deveriam estar abertas nos dias e horários visitados pela reportagem e que irá apurar por que não estavam.
Nos fins de semana, elas só abrem em horário de missa. “Os centros ficam vazios, e o problema principal é a segurança. A igreja não tem condições de manter vigilantes, tampouco de dobrar a jornada dos funcionários”, disse.
Sinos silenciosos
Há dois meses, os sinos da igreja de São Pedro Apóstolo, que batiam diariamente às cinco da tarde, em Olinda, agora só soam aos domingos. O templo está parcialmente interditado. “A gente só toca nos dias de missa de enxerido, porque não pode”, disse o tesoureiro Gabriel Horácio.
A estrutura degradada é outro problema em muitas das igrejas centenárias. Há pedaços de reboco caídos, vidros quebrados, pichação nas fachadas, infiltração e até galhos nascendo nas paredes.
O comprometimento da estrutura é um problema antigo da Matriz de São José, interditada há três anos. Parte do teto desabou, e pedaços de laje ainda se espalham pelos bancos dos fiéis. A restauração está prevista como contrapartida do polêmico empreendimento imobiliário Novo Recife, ainda sem data.
Em 2013, cinco igrejas do Recife e três de Olinda foram contempladas no PAC Cidades Históricas, que destinou R$ 171 milhões a projetos de restauração no Estado. Mas, dois anos depois, só três das oito igrejas estão em obras.
A responsabilidade de contratar as obras foi distribuída entre o Iphan (órgão federal do patrimônio histórico) e as prefeituras. Segundo o superintendente do Iphan em Pernambuco, Frederico Almeida, a burocracia, equipes reduzidas e falhas nos projetos causaram atrasos.
O instituto administra a reforma de três igrejas no Recife, já em obras, e uma em Olinda, que aguarda aprovação de projeto.
A Prefeitura de Olinda informou que os projetos para as igrejas do Bonfim e de São Pedro estão prontos e que aguardam autorização para licitar as obras. A URB (Empresa de Urbanização do Recife) disse que as igrejas do Carmo e de São José do Ribamar estão em fase de contratação de projeto.
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