A autorização para o aborto em casos de microcefalia é alvo de divergência entre as igrejas cristãs no país. Se a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já afirmou que a epidemia de zika no Brasil não justifica a medida, outros grupos religiosos preferem ainda não tomar posição sobre o assunto e avaliam que cabe ao governo federal arbitrar sobre o tema.
“Hoje, a gente tem uma resposta possível, não a ideal. Essa discussão é muito recente. O propósito da igreja é sempre pela vida”, disse dom Flávio Irala, bispo da Igreja Anglicana. “Mas não podemos ficar nos escondendo de debates polêmicos”, acrescentou.
O religioso participa nesta quarta-feira (10) de reunião da Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic) com a presidente Dilma Rousseff.
Um dos temas a ser abordado é a campanha da fraternidade de 2016, lançada hoje pela CNBB em parceria com o conselho. Neste ano, a iniciativa tem como foco o saneamento básico no país.
Irala, que é presidente do Conic, disse que a entidade cristã ainda não debateu o assunto e ponderou que é preciso ter cautela para não criar “antagonismos dentro do conselho”.
“Temos que respeitar cada igreja a partir de suas discussões internas”, afirmou.
Na semana passada, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos defendeu que países afetados pelo vírus da zika garantam os direitos reprodutivos das mulheres - entre eles, o aborto.
Segundo a secretária-geral do Conic, Romi Márcia Bencke, há vertentes cristãs - como a anglicana, luterana e evangélica - que consideram que o tema é uma questão de política pública e que, portanto, cabe ao governo federal arbitrar sobre o assunto.
“Há algumas que compreendem que isso precisa ser tratado como uma questão de política pública. Então, cabe ao poder público definir se libera ou não. Elas não se declaram a favor (do aborto), mas se posicionam no sentido de que é uma decisão governamental”, disse.
O arcebispo Mor Titos Paulo Tuza, da Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil, afirmou que a denominação cristã também é contrária ao aborto no caso de bebês com microcefalia, assim como a CNBB. Segundo ele, o procedimento só é aceitável caso a gestação ameace a vida da mãe.