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“Acho errado propor aborto para casos de microcefalia”, diz jornalista com a condição

Ana Carolina comemora a sua formatura em jornalismo | Ana Carolina Cáceres/Arquivo pessoal
Ana Carolina comemora a sua formatura em jornalismo (Foto: Ana Carolina Cáceres/Arquivo pessoal)

Na semana passada, a notícia sobre uma ação que vai pedir a liberação do aborto em caso de microcefalia no Supremo Tribunal Federal (STF) causou muita repercussão entre pais de crianças nascidas nesta condição. Mas no caso de Ana Carolina Cáceres, 24 anos, o sentimento foi de indignação. O motivo é um só: a jovem, recém-formada em jornalismo, nasceu com microcefalia.

“Eu acho errado propor aborto para casos de microcefalia. O certo seria investir em tratamento e atenção para esses bebês. Isso é falta de informação, casos de microcefalia existem há décadas, não é algo de hoje. Amanhã, vão querer aborto para quem tem síndrome de Down e outras síndromes?”, questiona.

Sua condição é considerada leve pelos médicos. Ela não tem nenhum problema físico nem intelectual. Estudou em escola regular e nunca repetiu. Ana escreve em um blog sobre microcefalia criado por ela mesmo e procura emprego na área de jornalismo. Sempre ligada ao tema microcefalia, optou na faculdade por um trabalho de conclusão de curso que divulgasse o tema. E fez um livro-reportagem para contar a própria história e falar do assunto. Ela lembra que teve muitas dificuldades durante a pesquisa, por conta da falta de informação. Por conta disso, Ana quer que a obra do TCC seja aperfeiçoada para ser lançado por uma editora.

Mas nem tudo foram flores para Ana. Até os 9 anos, sua vida foi marcada por cirurgias – cinco no total – e as piores previsões de médicos.

“Minha microcefalia só foi descoberta quando eu nasci. Minha mãe ouviu vários prognósticos, desde que eu não ia falar, andar. E até mesmo que não sobreviveria”, conta.

A primeira cirurgia, com dias de vida, foi para corrigir um afundamento na face e corrigir a estrutura nasal para que sua respiração fosse normal. A última ocorreu quando tinha nove anos. Teve várias convulsões e precisou tomar muitos remédios controlados. “Meu crânio nasceu fechado e então passei por várias cirurgias para retirada de estruturas ósseas e assim o cérebro tivesse espaço para se desenvolver. Posso dizer que depois desta última cirurgia, meus pais passaram a respirar aliviados e ver que a filha deles tinha sobrevivido”, fala .

Sem danos cerebrais ou sequelas das operações, o único cuidado que ela precisava na escola era evitar quedas para não bater a cabeça. “Não tinha cobertura óssea suficiente na testa. Mas o cuidado físico era só esse. Meus pais se preocupavam em saber como estava o meu aprendizado, o meu desenvolvimento intelectual”, lembra. Para concluir o curso de jornalismo, conquistou bolsas de estudo numa universidade privada.

Hoje, assim como todo jovem recém-formado, Ana, que mora no Mato Grosso do Sul, procura um emprego para realizar alguns sonhos. Quer conhecer, pela ordem, Inglaterra,Argentina, Turquia e Japão. Só arranjar um namorado que não está nos planos de um futuro próximo.

“Nem penso nisso, por enquanto. Pretendo estudar em breve inglês, francês e japonês. Depois, mandarim, russo e alemão”, conta.

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