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O conceito da imunoterapia – ou imuno-oncologia – no combate ao câncer não é novo. Há décadas a medicina utiliza o conceito de fortalecer o sistema imunológico para o tratamento do câncer. Nos últimos cinco anos, porém, o impulso nas pesquisas sobre os diferentes tipos de tumores e o avanço do conhecimento sobre o sistema de defesa do corpo permitiu o desenvolvimento desta forma de tratamento. Diferente da quimioterapia, que atua de forma direta na destruição das células cancerosas, a imuno-oncologia permite que o próprio sistema imunológico o faça, com menos efeitos colaterais ao paciente.

Esta forma de tratamento não deve acabar com as já existentes, mas se unir aos outros pilares do combate ao câncer – a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia, tornando-os mais eficientes. De acordo com o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Evanius Wiermann, a célula cancerosa é inteligente e, por meio de proteínas, consegue escapar da atuação do sistema de defesa do organismo.

“O tumor tem formas de se esconder do sistema imunológico. A imunoterapia colabora para que os linfócitos [célula de defesa] observem melhor estas células e as reconheça como corpos estranhos, atuando para destruí-las com menos prejuízo ao paciente”, explica. Menos agressiva, a imunoterapia não apresenta tantos efeitos colaterais – que incluem diarreia, fraqueza ou hipotireoidismo –ou se dá de forma branda e de fácil controle, insiste Wiermann.

Memória

Para o oncologista do Centro Oncológico Ermínio de Moraes, do Hospital Beneficência Portuguesa em São Paulo, Marcelo Cruz, outra vantagem do desenvolvimento da imunoterapia é utilizar as técnicas do próprio sistema imunológico para prevenir que a doença volte. “As células de defesa são seletivas e criam uma memória do que devem atacar. Com a imunoterapia, essa memória atua para impedir que a doença volte, mesmo quando o paciente deixar de tomar o medicamento”, afirma.

Apesar de altamente eficiente, a imuno-oncologia ainda não atua de forma satisfatória em todos os tipos de tumores. No momento, a terapia se mostra eficiente para câncer de pele e de pulmão, por exemplo. De acordo com Cruz, o aprimoramento das pesquisas tem mostrado que a técnica é satisfatória também no combate ao câncer de intestino, bexiga e rim, além de cabeça e pescoço. “O momento é de entusiasmo, pois a imunoterapia estimula o sistema imunológico como um todo, podendo combater diferentes tumores”, acrescenta.

Alto custo

Não há apenas vantagens no que diz respeito à imuno-oncologia. O alto custo dos medicamentos é um empecilho para que a terapia esteja disponível. Uma única injeção pode custar até US$ 30 mil (cerca de R$ 106 mil). O diretor médico da Pfizer – laboratório que investe na criação de novos imunoterápicos – Eurico Correia, afirma que o alto valor se deve também ao alto custo de investimento em pesquisa. A Pfizer atua em parceria com o laboratório alemão Merck no desenvolvimento da linha de imunoterápicos anti PDL-1, proteína que se liga à célula de defesa para frear a atuação imunológica. “O desenvolvimento de um medicamento como um imunoterápico custa em média US$ 1,3 bilhão [ R$ 4,6 bilhões]”. Ainda de acordo com Correia, o alto custo da imunoterapia pode representar um custo menor com outros gastos, como internação e outros medicamentos utilizados tanto para combater efeitos colaterais ou para conter o retorno do tumor. “Cabe aos sistemas de saúde públicos e privados perceberem os benefícios que a imunoterapia pode trazer ao próprio sistema e aos pacientes”, explica.

Como tornar acessível?

Além do investimento em novas pesquisas a longo prazo, dentro e fora do país, uma forma de tornar o tratamento imunoterápico mais acessível aos pacientes com câncer é racionalizar seu uso por meio de ações de identificação de pacientes em que a terapia de fato funcionaria.

De acordo com Martín Bonamino, pesquisador do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), há pesquisas em andamento. Elas mostram como combinar a estratégia com técnicas existentes ou como prever que tipo de pacientes responderão à terapia imunológica e quais não. “Desta forma, evita-se tratar indivíduos que arcarão com os altos custos destes tratamentos sem ter qualquer benefício. Esse passo é importante quando consideramos a possibilidade de fornecimento destes tratamentos na rede pública”, afirma.

Para Bonamino, a produção de mais medicamentos por distintos fabricantes, além do uso de tecnologias diferentes , ajudam a reduzir o custo do tratamento. O que não está tão longe de acontecer. “Neste momento, os maiores centros de pesquisa do mundo e a indústria farmacêutica estão investindo pesado na imuno-oncologia – como nunca se fez antes”.

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