As estações-tubo de Curitiba foram invadidas 26 mil vezes em apenas uma semana do último mês de agosto. Foram quase quatro mil invasões por dia. O número é bem parecido com o total verificado no último levantamento, em uma semana do mês de março deste ano. Mas o perfil das invasões mudou. De acordo com os dados fornecidos pelas empresas de ônibus, as invasões cometidas por estudantes cresceram 39% na comparação entre os dois levantamentos e agora elas correspondem a uma a cada quatro infrações. O levantamento foi realizado pelos próprios cobradores entre os dias 22 e 28 de agosto. A pesquisa anterior havia sido realizada entre os dias 14 e 20 de março.
No último levantamento, os passageiros comuns respondiam por 32% das invasões. Já os estudantes eram 19%. Agora, esses números se inverteram: os primeiros representam 26% e os segundos 39%. Para Luiz Alberto Lens César, diretor-executivo das empresas, o crescimento das invasões por estudantes precisa ser coibido dentro das escolas.
“É importante que as direções dos colégios possam fazer capacitações, chamar a atenção dos alunos ou até mesmo aplicar medidas disciplinares”, argumentou.
Na lista dos dez tubos mais invadidos fornecida pelas empresas de ônibus, a estação-tubo campeão de invasões é a do Passeio Público, sentido Terminal Santa Cândida, seguida pela estação Professora Maria Aguiar Teixeira, no Capão da Imbuia. Em comum, os dez pontos têm instituições de ensino próximas a eles, tanto da rede pública quanto da rede privada.
De acordo com o Setransp, sindicato das empresas, o prejuízo médio mensal estimado com as invasões em geral é de R$ 400 mil. Por essa conta, em um ano, seria possível adquirir quatro novos biarticulados se todos esses passageiros pagassem a tarifa. “Isso dá um impacto grande de prejuízo. Um recurso que poderia ser sendo revertido para modernizar o próprio sistema”, defendeu César.
Apesar do crescimento porcentual das invasões cometidas por estudantes, em números absolutos esse grupo se aproximou da quantidade de invasões cometida pelos passageiros comuns. Foram registradas cerca de sete mil invasões para ambos os grupos em agosto.
César citou como positivo o trabalho realizado pela Polícia Militar junto às torcidas organizadas. “Antes, elas [as torcidas] invadiam as estações-tubo, ameaçaram usuários, colaboradores. Graças a esse trabalho preventivo junto às lideranças, houve uma queda considerável de invasões nesse grupo”, elogiou.
Em São Paulo, desempregados e estudantes têm passe-livre
A evasão de receitas em sistemas de transporte coletivo tende a crescer em momentos de crise como o atual vivido pelo país. Mas Curitiba não tem uma política de benefícios no sistema para desempregos. São Paulo, por exemplo, tem programas de viagens gratuitas para esse público. Metrô e o ônibus concedem benefícios por até por 90 dias após o desemprego. Mas o do ônibus tem limite de 12 dias por mês, com até oito viagens por dia.
A capital paulista também tem uma política mais abrangente para estudantes. Em Curitiba, o benefício equivale a meia tarifa para alunos cuja renda familiar não ultrapassa cinco salários mínimos. Já em São Paulo, ônibus municipais e intermunicipais, além do metrô e CPTM concedem passe-livre para alunos dos ensinos fundamental e médio da rede pública. Estudantes de universidades públicas com renda familiar de até 1,5 salário mínimo por pessoa e bolsistas do Fies e Prouni da rede privada também têm direito.
O diretor-executivo das empresas de Curitiba afirmou ser a favor da concessão de benefícios para qualquer classe em que haja necessidade social. Ele ponderou, entretanto, que isso precisa ser feito com uma fonte de custeio. “É a velha história do cobertor curto”.
O poder público não concede subsídios diretos à tarifa de Curitiba. Quem paga as gratuidades aqui são os próprios passageiros de ônibus. Em São Paulo, a prefeitura subsidia o sistema com algo em torno de R$ 2 bilhões por ano. O governo paulista também subsidia metrô e CPTM, mas ele não divulga esses dados.