O Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa) investiga supostos homicídios ocorridos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico. A confirmação da suspeita que recai contra a médica e chefe-geral da UTI do hospital, Virgínia Soares de Souza, presa na terça-feira (19) pela Polícia Civil, foi divulgada hoje (20) pela delegada titular do Nucrisa, Paula Brisola, e pelo delegado geral, Marcus Vinicius da Costa Michelotto, no começo da tarde desta quarta-feira durante entrevista coletiva no 1º Distrito Policial.
"É de conhecimento público. Investigamos antecipação de óbito na UTI geral. Não falamos em eutanásia. O que ocorre quando se antecipa um óbito é homicídio", afirmou a delegada. Segundo Michelotto, os casos teriam ocorrido sem consentimento de familiares ou pacientes. Se confirmados, tais casos não poderiam ser caracterizados como eutanásia, já que essa ação ilegal no Brasil é praticada por um médico com o consentimento do doente ou de membros da família.
"A investigação tem cerca de um ano, mas os fatos podem estar acontecendo há mais tempo", conta a delegada. Por conta das investigações, a médica, que já prestou depoimento, deve ser indiciada por homicídio qualificado.
De acordo com Michelotto, a investigação leva em conta mortes ocorridas na UTI do Hospital Evangélico desde quando Virgínia começou a chefiar o setor. "Todos esses óbitos ocorridos na UTI serão analisados", disse.
Afastamento atrasado
A delegada Paula afirmou que, no período de um ano da investigação, alguns pacientes podem ter sido vítimas da abreviação de vida, mas não havia nenhuma justificativa concreta para afastar a médica até o começo dessa semana. "A prisão temporária foi decretada para garantir a investigação e evitar que qualquer situação que pudesse gerar dano à vida de paciente ocorresse", ressaltou.
Segundo Paula, desde que as investigações foram iniciadas, podem ter ocorrido mais abreviações de vida na unidade, mas não havia provas suficientes para afastar a suspeita do cargo. O delegado geral afirmou que surgiram motivos concretos fortes para realizar a prisão apenas recentemente. A médica foi presa temporariamente por 30 dias.
Michelotto esclareceu que tudo tem sido feito para garantir a saúde da população.
Ouvidoria
A investigação que analisa possíveis condutas ilícitas da médica intensivista vem sendo realizada há cerca de um ano, quando uma denúncia foi feita ao Ouvidor Geral Cid Vasques, que repassou o caso para o Nucrisa. Segundo a delegada, que pediu sigilo nas investigações para guardar a segurança dos envolvidos, todas as pessoas que trabalham ou trabalharam na UTI chefiada por Virgínia serão investigadas. Ela ainda afirmou que não há como responsabilizar diretamente o hospital.
"O sigilo foi solicitado por mim porque entendi que podia causar uma comoção pública. As pessoas vão se sentir inseguras no atendimento e nós precisamos investigar e comprovar tudo. E também para garantir a intimidade das partes envolvidas", afirmou a policial.
A delegada disse ainda que pessoas que têm informações sobre o caso, eventuais testemunhas que possam ajudar, podem entrar em contato com o Nucrisa pelo telefone (41) 3883-7120 ou pelo e-mail nucrisa@pc.pr.gov.br.
Defesa
O advogado de Virgínia, Elias Mattar Assad, assistiu à coletiva e após a entrevista, conversou com a imprensa. Segundo ele, ainda não foi apresentada qualquer materialidade que justifique a prisão de sua cliente. Ele ressaltou que Virgínia está tranquila.
No final da tarde desta quarta-feira, Assad divulgou em uma rede social na internet que obteve uma ordem judicial para poder ter acesso ao inquérito e, desta forma, poder pedir a liberdade de sua cliente.