Ensino privado também investe
Apesar da soberania das universidades públicas, a PUC Paraná e a Universidade Positivo (UP), duas das maiores instituições particulares de ensino do estado, investem em pesquisa científica. De acordo com Waldemiro Gremski, diretor de pesquisa e pós-graduação da PUC, há necessidade de preparação institucional para se chegar aos projetos científicos. "A PUC, nas décadas de 1980 e 1990, começou a titular seus professores. De cerca de 1,2 mil docentes, há, atualmente, 500 doutores", afirma.
Exemplos
Saiba mais sobre alguns dos projetos de pesquisa desenvolvidos em solo paranaense:
Catéter
- Desenvolvido pelo Instituto de Bioengenharia do Erasto Gaertner (Ibeg), o primeiro catéter nacional totalmente implantável foi liberado a preço de custo aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Com o catéter, a qualidade de vida de quem se submete às quimioterapias pode ser ampliada, evitando fibroses e tromboses características. O dispositivo custa R$ 207 os similares importados variam de R$ 750 a R$ 2.250.
Laser
- Pesquisadores da UEM estão criando laser para uso em cirurgias. Financiado pela Seti, o grupo patenteou um vidro óptico específico para a construção do aparelho. A característica do objeto permite a introdução de materiais específicos para que o laser esteja na frequência indicada para o corte cirúrgico. Para o laser, há a necessidade de alta tecnologia, ainda não desenvolvida no Brasil. "Nosso desafio é produzir o laser para aplicação biomédica a um custo 10 a 15 vezes menor do que o existente no mercado internacional e popularizar essas cirurgias", diz Mauro Baesso, coordenador do projeto e professor do Departamento de Física da UEM.
Terapia celular
- Oito centros regionais de terapia celular serão instalados por todo o Brasil para difundir o estudo de células-tronco embrionárias e adultas. Uma dessas unidades será recebida pelo Paraná, no laboratório da PUC. Financiado pelo Ministério da Saúde, o projeto encarrega-se de estudar o uso de células-tronco adultas do sangue do cordão umbilical e da medula óssea para a recuperação da força do coração que sofreu enfarte, sob coordenação do presidente da Associação Brasileira de Terapia Celular, Paulo Roberto Brofman.
Bambus
- Carlos Roberto Sanquetta, professor do curso de Engenharia Florestal da UFPR, coordena projeto que estuda o uso da planta bambu para a recuperação de áreas degradadas. A fotossíntese do bambu absorve mais carbono do que o normal. Financiada pela Petrobrás, a pesquisa pretende fazer o uso da planta em regiões de alta concentração de poluição, como áreas próximas à refinarias, estradas de grande movimento e oleodutos.
Os investimentos em pesquisa científica no Brasil cresceram 416% em oito anos de acordo com dados do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em 2000, o país somava R$ 877,4 milhões. No ano passado, o Brasil registrou incentivo de R$ 3,6 bilhões. O Paraná teve crescimento de 585% (de R$ 17,2 milhões em 2000 para R$ 100,6 milhões no ano passado), acima da média nacional, ocupando a 8ª colocação no ranking entre os estados (ver infográfico). Para especialistas, o Brasil finalmente compreendeu o papel da pesquisa científica para o crescimento nacional. A tendência é que justamente por esse motivo os investimentos cresçam cada vez mais.
Neste ano, a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) terá orçamento de R$ 124,6 milhões aumento de 38% em comparação com os R$ 90 milhões do ano passado. A receita é investida de três maneiras: 50% para projetos estratégicos do governo, 30% para a Fundação Araucária (que visa ao apoio do desenvolvimento científico) e 20% para o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). "A maior parte da pesquisa ainda é financiada com recursos públicos. Isso não é problemático porque se repete em vários outros países", explica José Tarcísio Trindade, professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e presidente da Fundação Araucária.
Muitas empresas, sobretudo as ligadas ao governo, apostaram em projetos científicos nos últimos anos. Exemplo disso é o apoio da Petrobras a uma pesquisa que analisa o uso do bambu para recuperar de áreas degradadas, coordenado pelo professor do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Carlos Roberto Sanquetta. "A planta atua como se fosse filtro da poluição", explica. Iniciado há cinco anos, a pesquisa alavancou ao receber o financiamento da Petrobras no início do ano passado. "Contamos com melhores equipamentos e maior número de bolsas, o que agilizou o trabalho".
Segundo Paulo Roberto Brofman, professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná e presidente da Associação Brasileira de Terapia Celular, o Brasil trilha pelo caminho certo, mas precisa avançar, principalmente, na legislação de beneficio fiscal para a iniciativa privada. "As empresas não recebem o devido incentivo para aplicar fundos em pesquisa. Com a modernização das leis, o salto poderia ser maior", argumenta. Para Brofman, é necessário mostrar que a pesquisa científica pode virar produção econômica. "Os resultados nesse ramo aparecem a longo prazo, mas é preciso gerar mais patentes", diz.
O diretor de pesquisa e desenvolvimento da Universidade Positivo, Marco Aurélio Carvalho, tem opinião semelhante. "O Brasil está em uma posição considerável quando se fala em publicação científica. Na geração de patentes, é preciso melhorar para fazer a economia girar", diz.
Universidades
Apesar do incentivo de empresas a projetos, os melhores espaços para pesquisa no país ainda se encontram nas universidades. "Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos e Coreia do Sul, a maior parte das pesquisas brasileiras ocorre dentro das universidades", diz Brofman. Conforme dados do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a UEM investiu, em 2007, R$ 8,3 milhões em pesquisa científica (bolsas internas e externas e em fomento à pesquisa). A Universidade Estadual de Londrina (UEL) usou R$ 4,4 milhões em estudos. E a UFPR atingiu R$ 19,7 milhões em incentivos.
Em razão disso, as instituições de ensino são, hoje em dia, o campo de trabalho dos doutores brasileiros. "Um pesquisador doutor que não está na carreira universitária tem pouca chance de praticar hoje o que aprendeu", relata Brofman. Quando empresas investem ou firmam parcerias com universidades, criam laboratórios e abrem oportunidades para o desenvolvimento.
"Não é possível ter ensino de qualidade na graduação sem pesquisa científica", defende Waldemiro Gremski, diretor de pesquisa e pós-graduação da PUC. "Ela obriga os professores a estarem atualizados e permite o intercâmbio de opiniões com outros pesquisadores. Esse conhecimento é passado para os estudantes. Por esse motivo, a UFPR oferece ensino de tanta qualidade."
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