Dirceu Chaná vive na cidade com pior IDH-M do Sul do país| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Doutor Ulysses é de uma agonia expressa em números. Não há lugar pior para se viver no Sul do Brasil, a rigor dos dados do IDH-M divulgados nesta segunda-feira (29). A despeito de alguns avanços nas áreas de educação, longevidade e renda, o município está ficando para trás. Todos os outros cresceram mais do que ele. O motivo é há muito conhecido. Doutor Ulysses está isolado num passado distante. As três estradas que a ligam ao resto do mundo são de terra batida e muitos buracos: a que leva a Jaguariaíva (PR), a Itararé (SP) e a Curitiba.

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Em lugar de tão difícil acesso, até o progresso se recusa a chegar. O cenário é todo ele feito de flashback, como nos tempos em que Dirceu Chaná ainda era um piá quando ajudava os pais a levar os porcos até a sede do município de Cerro Azul. Levavam dois dias tangendo a porcada entre as picadas abertas no mato.

A primeira estrada foi um acontecimento social nesses rincões. Grupos de 15 ou 20 matutos se espremiam ressabiados detrás das árvores para acompanhar o trator derrubando o mato que daria lugar ao leito da estrada. Outras vieram mais tarde, mas até hoje nenhuma que tenha sido pavimentada. Uma viagem de 130 quilômetros até Curitiba leva quatro horas por causa dos 45 quilômetros de terra até Cerro Azul. Apesar do isolamento, a cidade conseguiu alguns avanços sociais, ainda que não o suficiente para tirá-la da lanterna do IDH no Sul do país.

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O maior avanço foi na educação. Uma das explicações se deve à capacidade que o município teve de comprar pelo menos parte de sua frota de veículos para o transporte escolar. Já são oito os veículos próprios. Das 22 escolas municipais, apenas uma é urbana. Dos 680 alunos, 500 estão na zona rural. Ou seja, dependem do transporte público para estudar. A frota própria tem até ajudado a reduzir a evasão escolar, diz o secretário municipal de Educação, Andiaro Cunha Bacelar.

Em Doutor Ulysses, hoje, há escolas rurais com apenas 15 alunos e muitas delas multisseriadas, o que onera e compromete a qualidade do ensino. O asfalto também poderá pôr fim a outro problema que a cidade enfrenta na educação: as recusas de professores são constantes por causa da dificuldade de acesso.