Três das 29 pessoas presas pela Polícia Federal quarta-feira (15) por suspeita de receber parte dos R$ 7,3 milhões desviados da Universidade Federal do Paraná (UFPR) afirmam que não sabiam que o dinheiro era de bolsas de pesquisa. Juntos, um advogado, uma vendedora de joias e outra de roupas teriam recebido um total de R$ 197 mil da servidora pública Conceição Abadia de Abreu Mendonça, suspeita de ser uma das cabeças do desvio dentro a UFPR. De acordo com os advogados do trio, o dinheiro depositado por Conceição a seus clientes seria justamente para pagamento de honorário advocatício e venda de joias e roupas e que nenhum deles desconfiava que o dinheiro fosse ilícito.
De acordo com o advogado Danilo Meira Cristófaro, seu cliente, Arthur Constantino da Silva Filho, que também é advogado, admitiu ter recebido valores de Conceição, ex-chefe da Unidade de Orçamento e Finanças da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UFPR, valores referentes a serviços advocatícios. “Jamais desconfiara que tais valores poderiam ter origem em desvio de verbas da UFPR”, escreveu Cristófaro na defesa de Silva Filho no processo.
O defensor também anexou e-mails de Conceição endereçados a Silva Filho que mostram a prestação do serviço. Os documentos mostram que o investigado atuou em nome da funcionária pública e de irmãos dela para fazer uma escritura de compra e venda de um imóvel em Mato Grosso que era do pai dela, já falecido.
Silva Filho aparece no Portal da Transparência do governo federal como beneficiário de R$ 17 mil recebidos entre 2013 e 2014 a título de bolsa estudantil e de auxílio a pesquisa.
Já advogada Karina Aparecida da Cruz Domingues, que defende Ivani de Oliveira Cleve Costa, também acusada de receber dinheiro de bolsa, afirma que sua cliente recebeu recursos como pagamento pela venda de joias para Conceição. Ela, inclusive, já cruzou os valores dos recibos emitidos em 2014 em nome de Conceição com os valores descritos no Portal Transparência. “Estamos levantando todos esses recebidos. Mas pudemos notar que os de 2014 batem. A própria Conceição pediu para pagar com depósito em conta e a Ivani jamais imaginou que o dinheiro fosse de bolsas de pesquisa”. Naquele ano, Ivani aparece como destinatária de R$ 23.755 em dez ordens de pagamentos distintas. A defesa de Ivani já pediu o relaxamento de sua prisão. Ao todo, a PF investiga um pagamento total de R$ 79 mil no nome dela.
Advogada Luciane Alberton, que defende Joice Maria Cavichon, também acusada de receber dinheiro de bolsa, disse que sua cliente conhecia Conceição da época em que mantinha uma loja de roupas em Curitiba. Hoje, Joice trabalha em um consultório odontológico na cidade de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná. “Ela não teve envolvimento nenhum com essa irregularidade. A Joice conhecia a Conceição por causa da loja, recebendo os valores das vendas por depósito em conta. Já estamos levantando todas as notas emitidas no nome da servidora”, afirmou. Joice aparece no Portal da Transparência como destinatária de R$ 101 mil entre 2013 e 2016.
A funcionária pública Conceição Abadia de Abreu Mendonça segue presa na Polícia Federal e até a manhã desta sexta-feira (17) ainda não tinha advogado constituído para fazer a sua defesa.
Suspeito Solto
Horas após a execução das 29 prisões, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal, mandou soltar Avaldir Batista da Silva, 72 anos, atendendo pedido do delegado da PF Felipe Hayashi. Segundo o delegado, Silva já havia sido ouvido e havia dificuldade em mantê-lo preso em razão do estado de saúde.
Aposentado pelo governo do Paraná, Avaldir apresenta dificuldade de falar e de andar em função de um acidente vascular cerebral. De acordo com dados do Portal da Transparência do governo federal, ele teria sido beneficiário de bolsas de auxílio a estudantes e pesquisadores no valor de R$ 47 mil entre 2013 e 2014.