Paranaguá Para metade das 34 crianças que estudam na escola da Ilha de Piaçaguera, chegar à escola continua sendo uma tarefa difícil. É que elas moram na comunidade de Amparo, separada de Piaçaguera por um braço de mar.
Os estudantes precisam aproveitar a carona na travessia feita pela canoa de duas funcionárias da escola.
Os caroneiros devem estar na casa de Rosa Maria Oliveira, 27 anos, e de sua irmã Rosinilda, 26 anos, um pouco antes das 7 horas da manhã. Chegar lá também exige esforço: as crianças têm de caminhar meia hora. Depois do barco, precisam percorrer mais dois quilômetros a pé pela beira-mar até a escola. A duas funcionárias, que também trabalham em dois períodos, fazem a travessia quatro vezes por dia.
No dia em que a reportagem da Gazeta visitou Piaçaguera, as 17 crianças que moram em Amparo não compareceram à aula devido ao mau tempo a travessia era perigosa. A reportagem ainda tentou ir até às crianças, mas a maré baixa impossibilitou a aproximação do barco. "Muitos podem acabar desistindo por causa dessa travessia", diz, preocupado, o coordenador da escola, Hermes Goldenstein Júnior. O presidente da Associação dos Moradores da Ilha de Piaçaguera, Vitor de Souza, lamenta que as crianças tenham de faltar devido esta dificuldade. "Quando o tempo está ruim a canoa não tem como atravessar."
Já as crianças da própria Ilha de Piaçaguera têm "só" de caminhar bastante para chegar até a escola. A aluna Bruna Silva Lourenço, 11 anos, anda cerca de dois quilômetros todos os dias. No caminho ela se encontra com a colega Mariana Mendes de Carvalho, 11 anos, e outros amigos. "Se não tivesse a escola aqui seria muito difícil, porque a gente teria de atravessar todo o dia de barco para a cidade", disse Bruna. Segundo o professor Vicente Bicudo, 37 anos, tanto Bruna quanto Mariana, fazem parte do grupo dos 17 alunos que moram mais perto da escola e dificilmente faltam à aula.
Mas os alunos não correm o risco de perder o ano por causa da freqüência. As adversidades vividas tanto pelos alunos quanto por professores faz com que os horários e os conteúdos sejam mais flexíveis e as aulas perdidas são repostas. "É muito freqüente eu precisar dar aulas de revisão para retomar as matérias", conta a professora de Ciências, Matemática e Educação Artística, Kátia Folha dos Santos. Ocorre que, com a flexibilização, a disponibilidade dos professores precisa ser ainda maior. Às vezes é necessário passar o dia na ilha para dar conta da reposição. No entanto, os mestres não reclamam. "Eles sentem muita falta quando a gente não aparece", afirma Kátia. (TD)
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