Curitibano Luís Santos (à direita) é guitarrista e vocalista do trio All We Are.| Foto: Divulgação

“Fizemos turnê na França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Irlanda. Ontem tocamos em Brighton. Anteontem em Manchester. Neste momento estamos indo para Londres.” Quem dribla o delay do outro lado da linha não é Bon Jovi ou Dave Grohl, mas o curitibano Luís Santos, guitarrista e vocalista da banda All We Are, nova aposta da gravadora indie Double Six – braço da inglesa Domino Records, responsável pelas contas de Arctic Monkeys e Franz Ferdinand.

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O trio, formado também pelo irlandês Richard’ OFlynn (bateria e voz) e a norueguesa Guro Gikling (baixo e voz), acaba de lançar seu primeiro disco, homônimo. Definido pelo próprio grupo como “Bee Gees tomando Diazepam”, o álbum recebeu elogios portentosos de revistas especializadas, como a norte-americana Spin e a britânica Q. “Estamos bem felizes e tocando muito”, conta o brasileiro.

Luís, de 28 anos, mudou-se da Barreirinha para Liverpool em 2006. Estudou na Liverpool Institute for Performing Artists (Lipa), universidade criada por Paul McCartney em 1995. Conheceu o baixista dos Beatles no dia da formatura, e tem uma foto em que aperta a sagrada mão de Macca. “Ele é tranquilo e brincalhão. Parece até uma pessoa normal.”

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Como manda a tradição, conheceu seus parceiros de banda nos corredores da universidade, logo no primeiro dia de aula. “Consolidamos nossa amizade durante este período. Trabalhamos juntos em diversas bandas que acabaram, mas decidimos que queríamos continuar juntos”, diz o músico. Fã do violonista Garoto (1915-1955), Luís começou a carreira com o pai, em Curitiba, tocando em uma banda de blues.

Rock letárgico lembra um Jamiroquai desacelerado

Para ouvintes de primeira viagem, vale dizer, sem riscos, que a All We Are faz um rock letárgico, semelhante ao que oferecem bandas como The XX, Metronomy e Kings of Convenience.

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Na casa de Dan Carey

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Sabe aquela história de fazer show numa noite, receber um telefonema de um empresário no dia seguinte e ouvir “passe no meu escritório amanhã”? Isso ainda acontece na Inglaterra, provavelmente a terra com mais (boas) bandas por metro quadrado. No contrato com a Double Six estava previsto que o produto do álbum seria Dan Carey (Bloc Party, Bat for Lashes, Franz Ferdinand, Hot Chip, Kylie Minogue, CSS e etc). “Foi muito massa”, diz Luís. O estúdio é na casa de Dan, em Londres. Grava-se uma bateria enquanto se vê a esposa do produtor fritando ovos com bacon para os dois filhos pequenos do casal. “Há vários instrumentos exóticos, alguns sintetizadores antigos e uma mola no teto, que também faz som. É bem louco”. A gravação do disco durou um mês. Durante a turnê de lançamento, a banda dividiu o palco com Warpaint, Jungle e London Grammar.

Como se vê, as coisas vão bem para a All We Are. É só o primeiro disco do trio, mas a essência da banda existe há quase dez anos. A pergunta que se repete, nestes casos, é a seguinte: é mais fácil ser músico fora do Brasil? “É difícil no mundo inteiro. Mas aqui talvez seja o melhor lugar em termos de oportunidade. Há muita sede pelo novo, gravadoras, imprensa e empresários ainda se interessam”, diz Luís. O resultado é que há muita competição, que no fim das contas faz a roda girar. “Todo mundo tenta ser a próxima banda da parada. Por isso, em Londres você é só mais um.”

O All We Are está escalado para tocar no megafestival Glastonbury (na Inglaterra, em junho). No Brasil, talvez um show no fim do ano que vem. Talvez.