Injustiça
De origem alemã, família de Weiss sofreu perseguição no Brasil
Walter Weiss já estava na Itália quando soube que o pai, Alberto, foi preso na Lapa e teve a casa pichada com a suástica (símbolo do regime nazista) e a inscrição "alemão porco". O professor de História da Universidade Federal do Paraná, Dennison de Oliveira, cita que a campanha de nacionalização do governo de Getúlio Vargas, nos anos 30, e a eclosão da guerra, na década de 40, promoveram um clima conflituoso em relação aos imigrantes. Os alemães foram proibidos de falar a língua materna no Brasil.
O pai de Walter passou uma noite preso na delegacia e voltou para casa. O filho, que combatia contra o governo nazista na Itália, não entendia a razão da perseguição. "Ele era um homem muito direito e muito sério."
Na guerra, porém, o filho do imigrante alemão foi útil nos confrontos. Walter era usado como tradutor nos interrogatórios dos alemães que se tornaram prisioneiros dos brasileiros. Por muitas vezes o pracinha surrupiou o uniforme do inimigo aprisionado para se passar por alemão e conseguir informações, junto aos italianos, de onde e como estava a tropa alemã para assim "armar" o pelotão brasileiro.
Suspensório
"Batismo de fogo" no navio deixou Pontarolli dez dias na enfermaria
Reynaldo Pontarolli não imaginava que fosse conhecer a terra natal dos avós em situação tão adversa. Antes de pisar em solo italiano, enfrentou o "batismo de fogo" no embarque para a Europa. "Embarcamos quase ao anoitecer e fomos para os alojamentos coletivos. Era quente barbaridade. No amanhecer, depois do café da manhã, nos foi permitido subir ao convés, onde era frio. Eu peguei uma tremenda nevralgia por causa da mudança de temperatura", relata. Dos 15 dias de viagem, o pracinha passou dez na enfermaria.
Em batalha, ele operava os canhões. "O material era diferente, mais moderno", acrescenta Reynaldo sobre os canhões norte-americanos. O descanso também era penoso. Certa vez, dormiu sentado dentro da barraca que estava alagada após um temporal. Em outra ocasião, descobriu que tinha feito sua "cama" de feno e saco de aniagem (material derivado do sisal) sobre um formigueiro. Sorte sua que as formigas o pouparam.
Fotos
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Há 70 anos, o Exército brasileiro se preparava para mandar 25 mil brasileiros para a 2.ª Guerra Mundial. O combate, que ocorreu em solo italiano contra o exército nazista, durou 239 dias. Do Paraná saíram 1.542 combatentes, dos quais 28 morreram. No segundo dia da série Senhores do Front, confira as histórias dos expedicionários paranaenses Walter Weiss e Reynaldo Pontarolli.
Um "camarada" entre os brasileiros
Olhos claros, pele branca e um alemão fluente. Quem vê o descendente de imigrantes alemães Walter Weiss, aos 93 anos, dando milho e couve para as galinhas no quintal de sua casa, na Lapa, não imagina que na 2.ª Guerra Mundial ele se passava por um "camarada" como era chamado o soldado alemão para obter informações do exército inimigo. Lutar contra os conterrâneos, no entanto, não lhe parecia um infortúnio.
Os Weiss compravam gado e conduziam o rebanho, no lombo de mulas, até a fazenda na Lapa. Lá matavam os animais e levavam a carcaça para o açougue, que perdurou até 1985 na mesma família. A fazenda também fornecia água e carne para o quartel.
Aos 21 anos, Walter se alistou no Exército. Era reservista quando, em 1943, foi convocado. "Estourou a guerra. Passei na seleção de saúde e fui embora", lembra-se. Com experiência de açougueiro, Walter não era exceção. Dos 1.542 homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no Paraná, apenas 95 eram militares de carreira.
No livro Como a cobra fumou, escrito aos 70 anos de idade, o pracinha relembra a rotina de guerra, como a vez que dormiu abraçado a um fuzil e outra que cochilou com água até a cintura dentro de um lago enquanto aguardava a ordem de ataque.
Escapou das investidas alemãs, como na vez em que se lançou sob o assoalho de uma casa italiana em ruínas para não ser atingido por uma rajada de metralhadora, e outra em que fugiu de um grupo alemão armado porque estava em minoria.
A esposa, Adélia, que conheceu Walter após a guerra, comenta que o marido queria mesmo era escapar com vida do conflito. Com o final da guerra, deu baixa do Exército, viajou do Rio de Janeiro a São Paulo, entrou numa barbearia e passou numa alfaiataria. Ele estava então pronto para rever a família. Por telegrama, avisou aos parentes que estava voltando para casa.
Da guerra trouxe apenas uma experiência positiva: a construção de uma carroceria cercada pelos lados para transportar gado. Ele viu os alemães transportando burros e mulas em caminhões parecidos durante a guerra.
Amor em tempos de guerra
O primeiro encontro de Reynaldo Pontarolli e Glacy aconteceu num casamento em 1939, em Curitiba. Glacy era prima do noivo. Reynaldo passava em frente à igreja e resolveu espiar a cerimônia. Depois de uma breve conversa, combinaram de ir à missa de domingo na Capela do Seminário, que foi a primeira da Diocese de Curitiba e deu nome ao bairro. Ela tinha 13 anos e ele, 18. Estão casados há 67 anos. A única separação ocorreu durante a 2.ª Guerra Mundial.
Os dois eram vizinhos, mas até então não tinham se encontrado. Reynaldo é descendente de imigrantes italianos e Glacy de italianos e alemães. Ele se formou alfaiate na antiga Escola de Aprendizes e Artífices, que hoje é a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Depois de quatro anos de namoro, Reynaldo foi convocado para a guerra. Eles se correspondiam por cartas e fotos. As correspondências se perderam com o tempo. Mas duas fotos trocadas pelo casal para matar as saudades durante o confronto estão num porta-retratos que decora a sala de visitas. "Olha como está tristinha na foto", provoca Reynaldo, rindo. O pracinha pertencia ao Regimento de Artilharia Montada, que ficava no mesmo terreno onde hoje é o shopping Curitiba, no Batel. Ele era reservista e trabalhava como alfaiate quando foi convocado para a guerra.
A única forma de contato entre as famílias e os combatentes eram as cartas. As notícias demoravam a chegar. Os boatos, estes sim, eram velozes. "Uma vez correu uma história de que eu tinha perdido as duas pernas na batalha", conta Reynaldo. Um dos oito irmãos dele foi de Curitiba ao hospital do Exército no Rio de Janeiro, de trem, para checar a informação. "Era só boato", conta Glacy.
De volta ao Brasil, Reynaldo não quis saber de seguir a carreira militar. Pediu baixa e ganhou uma passagem de trem para Curitiba. A família não acreditava que o pracinha estava de volta e apenas Glacy, acompanhada de sua avó, arriscou ir até a estação ferroviária. Eles se abraçaram e decidiram recomeçar a história de amor após o final da Guerra. Um ano depois, Reynaldo e Glacy se casaram. Eles tiveram dois filhos. A família cresceu: hoje são cinco netos e uma bisneta.
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