Tubarão-martelo encontrado em Matinhos em 2007| Foto: Laertes Soares/Gazeta do Povo

Curtir um descanso nas praias do Nordeste exige um alerta: é de lá, mais especificamente de Pernambuco, que sai o maior número de registros de ataques por tubarão do país. O estado do arquipélago de Fernando de Noronha e o Maranhão concentram, segundo relatório do Museu de História Natural da Flórida, 65% das tragédias com esse tipo de animal na costa brasileira. Porém, isso não significa que outros litorais estejam livres da presença deste temido peixe. Nem mesmo no Paraná. Nas praias daqui, já foram encontradas mais de 50% das espécies de tubarões do Brasil.

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Mas, calma! Embora seja provável que os tubarões da costa paranaense cheguem bem próximo às praias, o risco de ataque é quase zero, alertam especialistas.

A especialista em tubarões, Natascha Wosnick, diz que a explicação está no próprio equilíbrio do ecossistema marítimo do estado. O Paraná não registra pesca industrial em larga escala, o que possibilita abundância na alimentação dos tubarões. “O risco é quase zero (de ataques) porque há equilíbrio. Mas é importante ter consciência que se cada vez mais tirarem os peixes de lá, mais haverá risco de incidentes”, explica Natascha.

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Ao todo, 50 das 90 espécies brasileiras já foram registradas na costa paranaense. Os mais comuns nas praias daqui são os tubarões Galha Preta, Rola-Rola, os menores, e também os considerados mais agressivos, como o Cabeça-redonda e o Tigre.

Configuração do Litoral ajuda a reduzir ataques

Para o professor do Centro de Estudos do Mar da UFPR, Hugo Bornatowski, a configuração oceanográfica do Paraná também colabora. Por ter um longa plataforma de areia com pouca profundidade, ao contrário do que acontece no Nordeste, por exemplo.

Outro motivo de o risco de incidentes ser baixo é a topografia da costa paranaense. Há uma área rasa longa no mar, com pouquíssimas piscinas naturais, como as formadas no Nordeste brasileiro. Nelas, muitos destes animais ficam isolados quando a maré sobe.

Além disso, casos como a região de Pernambuco, onde há muitos ataques, pode ser explicado por outros fatores. O Porto de Suape, por exemplo, foi construído, de acordo com Natascha, sobre um berçário de tubarões cabeça-chata. Naquela região, entre municípios do Ipojuca e Cabo de Santo, a incidência é alta em razão da presença dos grandes navios pesqueiros e de cargas, que descartam carne na região. A correnteza acaba, então, atraindo mais tubarões na região.

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A especialista acrescenta que tubarões são animais curiosos. “É muito provável que quando estamos na praia tenha tubarões por perto, mas dificilmente invadem a área do banhista porque eles também têm medo”, comentou.

Nesta época do ano é ainda mais provável encontrar os tubarões na costa paranaense em razão de ser época de reprodução. “Com certeza todo mundo vai ver na canoa do pescador um tubarão grande. Muitos deles podem até chegar a quatro metros como o martelo. Nesta época eles estão perto para parir”, explicou Hugo.

Cação é tubarão

Uma das maiores preocupações recentes em relação aos tubarões não são ataques, mas sim a saúde das pessoas que os degustam diariamente como um peixe comum. O popular cação é vendido, normalmente, como peixe, mas é como chamam qualquer tubarão pescado no Litoral brasileiro. O motivo é comercial.

Tanto Bornatowski quanto Natascha ressaltaram a necessidade evitar o consumo deste pescado, mas principalmente, pediram para que o cação seja vendido como tubarão.

O motivo é que como é o predador principal na cadeia alimentar do mar, ele é o que acumula mais metais pesados, como o mercúrio, muito prejudicial à saúde.

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Documentário fala sobre tubarões no Litoral do Paraná

O documentário “Peixe Morto”, produzido durante dois anos pelo gestor ambiental Albini Júnior tenta mostrar que os tubarões não são os vilões do mar o cinema pintou ao longo da história. Júnior ouviu histórias e conversou com vários especialistas no assunto e revela detalhes sobre a presença dos tubarões na costa paranaense.

“O objetivo era mostrar que não atacam os humanos porque querem comer, que não são os vilões da história”, afirmou. Hoje morador de Paranaguá, Júnior estudou no campus da UFPR em Matinhos, onde registrou as entrevistas.