Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nesta quinta (14) revela que mais de 300 milhões de índios vivem em extrema pobreza, em áreas rurais do mundo. A população indígena, formada por cerca de 370 milhões de pessoas - em torno de 5% do total mundial - representa um terço das 900 milhões que vivem nesta situação.

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A primeira publicação da ONU sobre a situação dos povos indígenas do mundo, produzida pelo Secretariado do Fórum Permanente sobre Questões Indígenas das Nações Unidas, foi lançada no Rio de Janeiro e também, simultaneamente, em Nova York, Bruxelas, Camberra, Manila, México, Moscou, Pretória e Bogotá.

De acordo com o documento, escrito por sete peritos independentes, a expectativa de vida da população indígena é até 20 anos menor do que a média. Os índios também possuem níveis desproporcionais de mortalidade infantil e materna, desnutrição, Aids, além de outras doenças infecciosas como a malária. Obesidade, diabetes e tuberculose são, atualmente, as maiores preocupações em relação à saúde desses povos em países desenvolvidos.

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No Rio, o relatório inédito foi apresentado por Marcos Terena, articulador dos direitos indígenas do Comitê Intertribal - Memória e Ciência Indígena (ITC) e membro da Cátedra Indígena Itinerante, e também por Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).

"Essa é uma questão grave que a ONU quer chamar a atenção com esse relatório", disse Summa.

Destaques do relatório

O texto alerta sobre a ameaça de extinção das culturas indígenas e afirma que 90% de todos os idiomas indígenas vão desaparecer em 100 anos.

Segundo a ONU, as taxas de suicídio na comunidade indígena, principalmente entre os jovens, são consideradas muito altas em diversos países.

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A discriminação étnica e cultural nas escolas, avaliou o relatório, são os principais obstáculos para a igualdade de acesso à educação.

De acordo com o relatório, pesquisas mostram que uma em cada três mulheres indígenas é estuprada. Perguntado sobre o motivo da violência com as índias, Terena afirmou que essa é uma forma de desmoralizar o índio. "O relatório diz que a forma mais fácil de se destruir um povo é o desmoralizando".

Dados brasileiros

Terena, que é indígena do Mato Grosso do Sul, afirmou que no Brasil há 230 sociedades indígenas, com 180 línguas. Ele disse ainda que 14% do território brasileiro são ocupados por índios.

De acordo com Summa, não há nenhum dado oficial sobre o número exato de índios no Brasil. Ele contou que, em 2000, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou documento dizendo que 15,5% dos brasileiros viviam na extrema pobreza. Quando o cálculo era feito na população indígena do país, no entanto, esse número subia para 38%.

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Para Terena, um dos desafios a serem enfrentados no país é o debate sobre o assunto. "O governo hoje precisa aprender a dialogar com as comunidades indígenas". Ele acredita que as políticas públicas no Brasil são atrasadas.

Ele afirmou ainda que a situação mais grave hoje no país é a demarcação de terras no Mato Grosso do Sul, que ele considera o estado mais violento do Brasil. Entretanto, o diretor da UNIC Rio disse que o Brasil tem um dos marcos legais mais avançados do mundo.

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