Durou cerca de duas horas e meia o depoimento do perito Osvaldo Negrini Neto como testemunha de acusação do julgamento do Massacre do Carandiru, que teve início na manhã de hoje (29) no Fórum da Barra Funda, em São Paulo. Negrini Neto começou a ser ouvido por volta das 14h de hoje e, durante todo o seu depoimento, descartou a hipótese de que tenha ocorrido confronto entre policiais e detentos, como defendem os advogados de defesa dos policiais no episódio que ficou conhecido como Massacre do Carandiru.

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"Se houvesse confronto, haveria vestígios nas paredes opostas [a das celas]. No terceiro pavimento, tinha só dois disparos no corredor, próximos à porta da cela, e indicam que foram dados de frente para a cela", disse o perito aos promotores do caso, Fernando Pereira Filho e Eduardo Olavo Canto. Segundo ele, os disparos foram feitos da soleira da porta para dentro das celas, indicando que os disparos foram feitos pelos policiais e não pelos detentos. Negrini Neto era o perito criminal na época do fato, autor do laudo sobre o massacre.

O perito disse à advogada Ieda Ribeiro de Souza, que defende os 26 policiais acusados nesta etapa do julgamento, que mais de 600 disparos foram feitos durante o massacre. "Mais de 450 [balas] foram retiradas dos corpos das vítimas. E entre 175 e 180 disparos foram registrados nas paredes [das celas]", disse o perito.

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Negrini Neto foi ouvido em abril, na primeira etapa do julgamento sobre o Massacre do Carandiru, quando 23 policiais militares foram acusados pela morte de 13 detentos, ocorrida no segundo pavimento. Na segunda etapa do julgamento do massacre, 26 policiais militares são acusados pela morte de 73 detentos no terceiro pavimento do Pavilhão 9 do antigo presídio.

A advogada tentou desqualificar o laudo feito pelo perito sobre o caso, perguntando como era possível determinar com exatidão a quantidade de detentos que foram mortos no terceiro pavimento (ou segundo andar) do Pavilhão 9, pois a maioria dos corpos (90, de acordo com o perito) foi encontrada empilhada no segundo pavimento (que corresponde ao primeiro andar) do pavilhão.

Em resposta, o perito confirmou que não é possível determinar, com certeza, a quantidade de presos que foram mortos em cada um dos quatro pavimentos do presídio, mas os vestígios das balas nas paredes, segundo ele, associado às entrevistas que fez com pessoas que presenciaram o massacre e com a posterior identificação de cada um dos presos que foram mortos de acordo com as celas em que viviam permitiu que pudesse reconstituir os fatos. "Eu tinha a lista dos moradores das celas e a de mortos no local", disse Negrini Neto.

No novo depoimento, o perito voltou a criticar o fato do local ter sido alterado antes de que a perícia pudesse fazer o seu trabalho. "Houve uma ação deliberada para desmanchar o local", disse, citando que as celas foram lavadas antes que ele as visitasse, além do fato dos projéteis das balas terem sido removidos.

Após o depoimento de Negrini Neto, os promotores do caso vão apresentar três vídeos com depoimentos de testemunhas ouvidas no primeiro bloco do julgamento, ocorrido em abril. Serão exibidos os vídeos de dois detentos sobreviventes do massacre, Antônio Carlos Dias e Marco Antonio de Moura, e também de Moacir dos Santos, que era diretor da Divisão de Segurança e Disciplina da Casa de Detenção do Carandiru e substituto imediato do então diretor do presídio, José Ismael Pedrosa.

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Todo o processo do Carandiru foi separado em várias etapas de julgamento, divididos pelas ações policiais referentes a cada um dos quatro pavimentos do Pavilhão 9.

O caso Carandiru ficou conhecido como o maior massacre do sistema penitenciário brasileiro. No dia 2 de outubro de 1992, os policiais acusados entraram no Pavilhão 9 da Casa de Detenção para reprimir uma rebelião. A ação resultou em 111 detentos mortos e 87 feridos.