Ícone nordestino afastado da Igreja Católica por divergências teológicas em torno de um episódio interpretado por ele e seus seguidores como milagre — mas rejeitado como tal pela alta hierarquia da instituição — o padre cearense Cícero Romão Batista foi, enfim, perdoado pelo Vaticano. Nove anos após um apelo do bispo dom Fernando Panico, da Diocese do Crato, o papa Francisco considerou em carta que não há motivos para que se impeça que o líder religioso cearense seja reabilitado, beatificado ou canonizado.
“Padim Ciço”, como é conhecido por muitos, recebeu várias punições da Igreja após 1889, quando, na crença popular, uma hóstia dada por ele a uma beata virou sangue na boca dela. O fenômeno teria se repetido dezenas de vezes ao longo de dois anos. A partir de 1892, ele ficou 24 anos sem poder oficiar missas.
“A presente mensagem foi redigida por expressa vontade de Sua Santidade, o papa Francisco, na esperança de que Vossa Excelência Reverendíssima não deixará de apresentar à sua Diocese e aos romeiros do Padre Cícero a autêntica interpretação da mesma, procurando por todos os meios apoiar e promover a unidade de todos na mais autêntica comunhão eclesial e na dinâmica de uma evangelização que dê sempre, e de maneira explícita, o lugar central a Cristo, princípio e meta da História”, dizia a carta enviada pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.
O culto a Padre Cícero atrai, anualmente, dois milhões de romeiros a Juazeiro do Norte (CE), cidade onde fez fama e que governou como primeiro prefeito, quando o município foi criado em 1911. Mas a permissão para voltar a celebrar missas só veio em 1916. Ele morreu em 1934. Hoje, uma estátua de 27 metros o homenageia em Juazeiro.
“Com o perdão e reconciliação, fica entendido que Padre Cícero não errou. Todas as punições foram suspensas. A Igreja entendeu que sua pregação estava no caminho certo, e por isso a devoção a ele continuou crescendo durante todos esses anos”, disse o chanceler da diocese do Crato, Armando Lopes.
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