O incêndio de grandes proporções que atingiu o Museu da Língua Portuguesa na região central de São Paulo na tarde desta segunda (21) macula a cultura brasileira em duas frentes: o acervo, com diversas obras apresentadas de forma interativa, que fez com que o espaço se tornasse um dos museus mais visitados do Brasil e o imóvel, patrimônio histórico da capital paulista e do Brasil.
“É, sem dúvida, o prédio histórico mais importante de São Paulo por ter marcado definitivamente o desenvolvimento da cidade na virada do século 19 para o 20”, aponta o arquiteto Valter Caldana, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie.
Apesar de as imagens mostrarem uma destruição muito importante, Caldana pensa que a realidade de um restauro possa não ser tão complicada. “A cobertura foi toda comprometida, mas tenho esperança, observando as imagens, que a estrutura principal tenha uma recuperação menos traumática.”
Sobre o que pode ter iniciado a destruição, Caldana é cauteloso. “É muito precipitada qualquer avaliação. O Museu certamente contava com uma boa estrutura para prevenção de incêndios. É preciso aguardar os laudos.”
Para o professor é inimaginável pensar em São Paulo sem a presença da Estação da Luz. “Ela já foi vítima de um incêndio em 1946 e foi reedificada com algumas alterações, terá de ser restaurada novamente. A Estação da Luz é um ícone urbano, um ponto de referência para os paulistanos e ver as imagens dela em chamas nos entristece profundamente”, afirma.
O prédio foi erguido a partir de 1867, nesta época era apenas uma plataforma. Nas décadas seguintes foi sendo incrementado até tomar a forma atual, inaugurada em 1901. “A estrutura desta estação foi toda importada da Inglaterra, com mecanismos pré-moldados. A estética é vitoriana e tem inspiração em equipamentos arquitetônicos ingleses, como o Big Ben e a igreja Abadia de Westminster”, completa o docente.
A importância arquitetônica da Estação da Luz levou o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), a tombá-lo, em 1982. Nas décadas de 1990 e 2000 a Estação foi submetida a várias restaurações, uma delas dirigida pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e por seu filho, Pedro Mendes da Rocha. Um dos objetivos das reformas foi tornar possível a anexação do Museu da Língua Portuguesa, em 2006.
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