Duas manifestações relacionadas ao atual conflito na faixa de Gaza aconteceram neste domingo (27) em São Paulo.

CARREGANDO :)

No primeiro ato, ocorrido no parque do Ibirapuera, cerca de 30 pessoas realizaram uma "caminhada pela paz", percorrendo uma das vias internas do parque.

Organizado pelos promotores de justiça Roberto Livianu --judeu-- e Laila Shuhukair --de origem palestina--, dirigentes do Movimento do Ministério Público Democrático, o ato reuniu simpatizantes de israelenses e palestinos e tinha como tema "Pouco importa quem tem razão, o que importa é a paz".

Publicidade

Livianu considerou a manifestação do porta-voz da Chancelaria de Israel "lamentável". Na última quinta-feira (24), um porta-voz israelense classificou o Brasil como um "anão diplomático". "O Brasil não pode ser tratado dessa maneira, e tenho certeza de que essa manifestação não representa o pensamento do Estado de Israel", disse Livianu.

Para Laila, "o Brasil traz uma simbologia muito positiva da convivência entre judeus e palestinos".

Simone Raskin, 65, que trabalha com turismo, afirmou que "enquanto Bib [apelido do primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu] estiver no poder, refém de uma ultradireita, não vai haver paz". "E o Hamas é terrorista, todo mundo sabe", completou, referindo-se ao grupo radical islâmico que controla a faixa de Gaza.

A advogada Adriana Carnietto, 44, conta que ficou muito "tocada" ao ver no Facebook a foto de uma criança palestina dormindo entre os túmulos de seus pais, e ao saber do ato, resolveu participar. "É um grito que fica na garganta, porque o que você está vendo lá é uma chacina". "Se todo mundo fizer algo, pode chegar à ONU", acrescentou.

O empresário Bertalan Braun, 65, diz que se voluntariou para lutar na Guerra dos Seis Dias (1967), mas o conflito terminou antes. Ele considerou "totalmente tendenciosa" a nota do Itamaraty divulgada na quarta-feira (23) que condena a ofensiva israelense sem fazer menção aos ataques do Hamas.

Publicidade

Para Braun, já existe um Estado palestino. Quando indagado do porquê Israel não reconhece esse Estado já existente, respondeu: "Vão reconhecer bandido? O Brasil reconhece o PCC?", referindo-se ao Hamas.

Carregando uma faixa do parque Augusta, o educador e médico Daniel Aymoré, 40, também participou da caminhada, que durou cerca de 40 minutos. Para ele, a luta pelo parque tem tudo a ver com a luta dos palestinos. "O parque Augusta é um símbolo de resistência, pelo direito à cidade, como é a Palestina", afirmou.Ato Pró-Palestinos

Também neste domingo (27) em São Paulo, outro ato, este inteiramente pró-Palestina, saiu da praça Oswaldo Cruz, na avenida Paulista, em direção ao Ibirapuera, por volta do meio-dia.

Segundo a Polícia Militar, a concentração do ato reuniu cerca de 250 pessoas.

O protesto foi organizado pela Frente em Defesa da Luta do Povo Palestino, que reúne palestinos, simpatizantes, partidos de esquerda como PSTU e movimentos sociais como MST e MTST.

Publicidade

"Não é uma guera convencional, é um genocídio", afirmou um dos organizadores do ato, Mohammad El Kadri. "O governo brasileiro foi até moderado na nota, outros países condenam veementemente o massacre de civis". "A postura ainda é light", disse, sobre a posição do Itamaraty quanto à escalada da violência na última semana.

A comerciante Samia Arida, 63, foi ao protesto para "apoiar o sofrido povo palestino". Brasileira muçulmana, ela conta que morou no Líbano entre 2005 e 2013, e viveu a guerra de 2006 entre Israel e o movimento xiita libanês Hizbullah, considerado terrorista pelos israelenses.

"Assistir pela TV é uma coisa, ouvir os gritos e o pavor das pessoas lá, é outra", afirma Samia.

A reportagem encontrou na manifestação uma família inteira de palestinos refugiados da guerra civil na Síria.

Mona Darwech, 33, fugiu do país do ditador Bashar al-Assad em novembro de 2013, junto do marido e seus quatro filhos. Ela conta que o barulho dos foguetes do protesto deste domingo trazia lembranças dos foguetes da guerra, que ela ouvia diariamente quando morou na Síria. O filho mais novo, Taimaljamal, de apenas um ano, sorria e acenava uma bandeira da Palestina.

Publicidade

Para a professora Haijji Hayat Abdallah, 58, que veio do Líbano para o Brasil há 40 anos, "o povo palestino sofrido não tem nada, é injusto e até judeus não aceitam o que Israel está fazendo".

A libanesa Nawal Khalil, 27, mora há 13 anos no Brasil. No protesto, estava acompanhada dos filhos Mohamad, 10, e Mariam, 4. Ela acredita que a posição do Brasil ainda pode melhorar quanto à Palestina. "O Brasil podia dar mais força".