Protestos de caminhoneiros fecham rodovias do Paraná e de ao menos mais cinco estados nessa terça-feira (2). Em estradas paranaenses, a manifestação é realizada na BR-277, altura de Guarapuava, e no trevo das rodovias PR-445 e BR-369, na saída de Londrina para Cambé.
Este é o segundo dia de manifestações da categoria pelo país. Na segunda-feira (1º), houve uma série de protestos que travaram 21 rodovias em nove estados. As paralisações provocaram bloqueios parciais ou totais durante mais de 11 horas em trechos de rodovias, mesmo após o governo ter obtido, na Justiça Federal, uma liminar proibindo interrupções do tráfego.
Nesta terça, a pista está bloqueada para caminhões na BR-277, quilômetro 338, próximo a Guarapuava, nos dois sentidos. Só é liberada a passagem de carros de passeio, veículos de emergência e caminhões de produtos perecíveis, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Neste ponto, o bloqueio começou na segunda-feira às 17 horas.
A PRF pediu para os caminhoneiros liberarem a pista totalmente entre as 11 e as 14 horas desta terça-feira, mas a demanda não foi atendida. "Se liberar, não para mais. Não sei se eles [os manifestantes] vão querer isso", afirmou João Cavalheiro, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Guarapuava.
Por volta do meio dia, a fila de caminhões gerada pelo bloqueio da pista é de cerca de 12 quilômetros nos dois sentidos somados, segundo a PRF. Mas não há especificação quanto ao tamanho do congestionamento para cada um dos lados.
Os manifestantes pedem que seja instalada uma CPI do Pedágio. Eles reclamam que a proposta de investigação das concessões de pedágio do Paraná foi arquivada na Assembleia Legislativa do Paraná em 17 de junho deste ano e querem que o preço da tarifa seja diminuído. "Ninguém consegue mexer nessa caixa preta. Daqui a pouco ninguém vai poder viajar por causa do preço do pedágio", reclama Cavalheiro.
Em Londrina, no trevo da PR-445 com a BR-369, saída para Cambé, representantes do Sindicato dos Transportadores Autônomos da região (Sindicam Londrina) e do Movimento Por Amor a Londrina iniciaram às 10h30 uma bloqueio de trânsito no local.
Cerca de 20 manifestantes fecharam o tráfego na PR-445. A Polícia Rodoviária Federal fechou as alças de acesso da BR-369 à parte de cima do viaduto. Policiais rodoviários estaduais também estão no local para organizar o trânsito.
Segundo o presidente do Sindicam Londrina, Carlos Roberto Dellarosa, a principal reclamação da categoria é o alto preço cobrado pelas concessionárias de pedágio no Paraná. Nas praças administradas pela Empresa Concessionária de Rodovias do Norte S. A. (Econorte), por exemplo, um caminhão pode pagar até R$ 65,40 por pedágio. "Onde está a duplicação dessas rodovias? Há quanto tempo essas estradas estão pedagiadas e até agora nem sinal da duplicação. Nós pagamos o pedágio mais caro do Brasil para nada, não tem nenhuma melhoria nas nossas estradas", reclamou Dellarosa.
Estudos feitos pelo Movimento Por Amor a Londrina mostram que um caminhoneiro pode gastar mais de R$ 1,5 mil apenas em pedágios no trecho entre Foz do Iguaçu e Paranaguá. O advogado Jorge Custódio, membro do movimento, vai coletar assinaturas para o abaixo assinado que pede o fim do pedágio. O documento, que já tem mais de 9 mil adesões, foi criado pelo grupo no início deste ano, e deve ser entregue ao governador Beto Richa (PSDB).
Segundo Custódio, o preço cobrado pelas concessionárias no estado é considerado abusivo. "Aqui na nossa região temos um dos trechos com pedágio proporcionalmente mais caros do mundo. Quem sai de Londrina em direção a São Paulo paga pedágio em Jataizinho e Cambará. São pouco mais de 100 quilômetros de distância e mais de R$ 130 em pedágio", detalhou.
Dellarosa também demonstrou preocupação com as tarifas cobradas pelas empresas de pedágio. Nas contas do presidente do sindicato, quase dois terços dos ganhos dos caminhoneiros ficam nas cabines de cobrança. "O valor do frete já não está dos melhores. Com esses valores de pedágio, tem colegas nossos que gastam 60% do que ganham só para poderem rodar pelas rodovias. Se somar mais o valor do diesel, são mais 10% do frete. E o caminhoneiro, vai sobreviver só com 30% do que ganha? É um absurdo".
A reportagem está tentando contato com a concessionária Econorte e o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR).
Protesto fecha rodovias em outros cinco estados
Caminhoneiros em protesto também bloqueiam rodovias em ao menos cinco estados: São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina. Os motoristas permitem a passagem apenas de ônibus e carros. Todos os caminhões são obrigados a parar.
Em São Paulo, os motoristas bloqueiam nos dois sentidos a rodovia Cônego Domênico Rangoni, do km 250 ao 254, próximo à cidade de Santos (72 km de São Paulo).
Também na capital paulista, caminhoneiros bloquearam três das quatro faixas da pista local da marginal Pinheiros, importante avenida da cidade.
Outros protestos também bloqueiam ao menos duas rodovias em Minas Gerais. Na BR-040 os manifestantes bloqueiam a via nos dois sentidos no km 628, em Conselheiro Lafaiete (102 km de Belo Horizonte). Também está interditada a BR-381, km 359, em João Monlevade.
Na Bahia, duas rodovias federais foram fechadas pelos manifestantes. A BR-242 está interditada no km 805, em Barreiras, e no km 880, em Luís Eduardo Magalhães.
Outros dois bloqueios ocorrem nos quilômetros 900 e 910,5 da rodovia BR-116, próximo à cidade de Cândido Sales. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, neste trecho os manifestantes às vezes retêm também carros e ônibus.
Permanecem também os bloqueios duas rodovias em três cidades do Espírito Santo.Na BR-262, o bloqueio ocorre no km 9,5, próximo à cidade de Viana. Manifestantes também interditam a BR-101 no km 374, em Iconha, e o km 392 na cidade de Rio Novo do Sul.
Em Santa Catarina, os protestos dos caminhoneiros se concentram nas rodovias BR-282 e BR-158, nas cidades de Maravilha e Palmitos.
Segundo a PRF, os manifestantes não bloqueiam as rodovias, mas impedem que caminhoneiros prossigam a viagem. Carros e ônibus têm a passagem liberada.
Os manifestantes reivindicam soluções para questões nacionais da categoria, entre elas, o subsídio no preço do óleo diesel, isenção do pagamento de pedágios para caminhões e criação da secretaria do Transporte Rodoviário de Cargas.
O líder da paralisação dos caminhoneiros, Nélio Botelho, que está à frente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), afirmou que os protestos serão mantidos nas estradas brasileiras até as 6h de quinta-feira, conforme previsto na convocação da categoria.
Pressão do Agronegócio
O protesto também ocorre em meio a pressões de empresários do agronegócio e do setor de bebidas pela flexibilização, no Congresso, da Lei do Descanso, válida desde 2012, que obriga os motoristas profissionais a terem uma pausa de 11 horas por período trabalhado. Parte do setor de transporte, incluindo representantes de caminhoneiros, é contra mudanças propostas por uma comissão da Câmara dos Deputados para reduzir as restrições para que os caminhoneiros cumpram longas jornadas sem descanso.