O torcedor de Maringá deve ter três representantes no próximo Campeonato Paranaense de Futebol, em diferentes divisões. Não se trata de um privilégio, mas de um retrato da fragmentação do esporte na cidade, que tem três times se organizando para representá-la em 2010.
Na primeira divisão deve estar a equipe de Engenheiro Beltrão, de mudança para Maringá. As cidades são separadas por 60 quilômetros. O presidente do clube, Luiz Linhares, cuida dos trâmites burocráticos, que incluem uma taxa de R$ 200 mil cobrada pela Federação Paranaense de Futebol (FPF), para efetuar a transferência, que é apoiada pela administração municipal. Os jogadores da categoria Junior treinam em Maringá desde o início deste mês.
A mudança é justificada por Linhares pelas limitações do Estádio Municipal João Cavalcanti de Menezes, em Engenheiro Beltrão, que não atende às exigências da FPF e da CBF e cuja reforma custaria cerca de R$ 2 milhões. A nova casa da equipe será o Estádio Willie Davids. Também foi decisivo para a troca de cidade o poderio financeiro maringaense, superior ao de Engenheiro Beltrão e que pode se reverter em bilheterias e patrocínios maiores.
A meta da equipe, segundo Linhares, é fazer uma campanha boa o suficiente no estadual para garantir uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro. E seguir crescendo. "O Atlético e o Paraná passaram por várias mudanças até se tornarem os clubes que são. Então essa reorganização pela qual passamos é fundamental para o crescimento do clube", diz.
Na terceirona estarão o mais modesto (Maringá Iguatemi) e o mais tradicional (Grêmio Maringá) clubes da cidade. Rebaixado na 2ª Divisão deste ano, com uma campanha que teve nove derrotas em nove jogos, o Iguatemi tem planos simples. "É difícil falar em projeto de longo prazo. Nós nos organizamos mês a mês. Estamos no peito e na raça, sem ajuda de quase ninguém", reconhece o fundador da equipe, o ex-jogador Samuel Lima da Silva.
O clube também tem origem em outra cidade, Pitanga, a cerca de 200 km de Maringá. A transferência para o Noroeste foi feita em 2007, mas não trouxe os dividendos esperados. O time recebe alimentação e material esportivo gratuitos, por intermédio de empresários, e tem uma dívida de cerca de R$ 9 mil.
Grêmio Maringá
Já o Grêmio Maringá, cuja história inclui três títulos paranaenses (1963, 1964 e 1977), estava desativado desde 2005, quando foi criado o Galo Maringá. No fim de julho deste ano o time foi reativado e se refiliou junto à FPF, mediante o pagamento de taxas que somam aproximadamente R$ 65 mil. As informações são do empresário e dono da marca, Aurélio Almeida, que também é dono do Real Brasil.
O time, que precisará contratar jogadores e uma comissão técnica, tinha dívidas que somavam cerca de R$ 10 milhões. Segundo Almeida, os débitos estão sendo pagos. O clube alimenta planos ousados. "Vamos montar um time para subir para a segunda divisão do estadual e até 2015 queremos estar na primeira divisão do Brasileirão. Nosso projeto é para dez anos", afirma Almeida.
O número de times representando a cidade no próximo estadual poderia ser ainda maior, já que há outro clube no município, o Adap Galo Maringá. O time, que nasceu em 2006, desistiu de participar do Campeonato Paranaense deste ano e segue sem intenção de disputar a próxima edição do torneio.
"Não pretendemos atuar em 2010", se limitou a dizer Adilson Batista Prado, um dos presidentes do clube, que é fruto de uma fusão entre o Galo Maringá, criado em 2005, e a Adap (Associação Desportiva Atlética do Paraná), de Campo Mourão.
Desunião e falta de apoio
Na raiz de tanta instabilidade, estão a desunião dos dirigentes e a falta de apoio dos empresários locais, opinam os representantes dos clubes. O mais ácido nas críticas é Samuel Lima da Silva, do Maringá Iguatemi. "Enquanto houver brigas na cidade, o nosso futebol vai ficando para trás. É preciso se unir para ter um grande time."
Fusões, entretanto, não estão no horizonte imediato dos clubes. Até porque há acidez nos comentários sobre os adversários. "No minuto em que anunciamos que íamos para Maringá, surgiram vários clubes interessados em retomar o futebol na cidade", alfineta o presidente do Engenheiro Beltrão, Luiz Linhares.
Unânime mesmo é a reclamação sobre o empresariado local, que é acusado de não apoiar com o futebol da cidade. "Os empresários têm que se unir para que nossos times brilhem como brilharam no passado", diz Aurélio Almeida, do Grêmio Maringá.
Para Silva, o exemplo a ser seguido é o do Grêmio Barueri, que chegou à elite do futebol brasileiro por meio de uma grande aliança entre os empresários da cidade, que tem cerca de 50 mil habitantes a menos que Maringá e que faz boa campanha na Série A do Brasileirão.
A Associação Comercial e Industrial de Maringá (Acim) se defende das críticas. "O empresário só vai participar do futebol se houver um projeto de negócio viável, que permita a ele divulgar sua marca. O que acontece aqui é que os clubes são usados para alavancagem política e para a venda de jogadores. Os projetos atuais são muito nebulosos e nenhum empresário ajuda times nessa situação. E isso é pena, porque o futebol pode trazer muitos lucros para a cidade", afirma o gerente de Relações Públicas da entidade, Sérgio Guilherme.
Por sua vez, a secretária de Esportes de Maringá, Edith Dias, diz que o órgão apoia os clubes da cidade cedendo o Estádio Willie Davids e locais de treinamento para os times. E que não pode fazer mais por limite da lei, que impede o investimento público em futebol profissional.