O fantasma da crise econômica internacional continuou a assombrar na quinta-feira as negociações diplomáticas da Rio+20. As discussões sobre ajuda financeira de países ricos para apoiar o desenvolvimento sustentável de países pobres - tema considerado crucial para garantir a viabilidade prática de tudo que vier a ser decidido na conferência - continuavam travadas até o início da noite.
O grupo do G-77 (que representa mais de 130 nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil) mais a China querem que os países desenvolvidos se comprometam com valores e metas explícitas de ajuda. Uma das propostas em negociação é a criação de um fundo global de apoio ao desenvolvimento sustentável, com uma meta de financiamento US$ 30 bilhões anuais até 2017 e US$ 100 bilhões anuais a partir de 2018.
Na opinião do G-77, defendida enfaticamente pelo representante do grupo na negociações, o paquistanês Farrukh Khan, não faz sentido negociar planos de desenvolvimento sustentável se não houver garantia de que poderão ser colocados em prática - um esforço que dependerá de ajuda financeira, política e tecnológica dos países ricos.
Representantes das nações desenvolvidas, por outro lado, argumentaram ser inviável se comprometer com valores específicos neste momento. Não só por questão da crise, mas por não haver tempo suficiente até o fim da conferência para aprovar uma decisão desse tipo, que requer o aval do alto escalão de governo - preocupação levantada pelo Japão. A União Europeia, que representa os países mais atingidos pela crise econômica, argumentou que já está comprometida domesticamente com um alto valor de ajuda financeira.
O representante dos Estados Unidos deixou claro que seu país não está disposto a se comprometer com valores específicos. Ele argumentou que o objetivo da Rio+20 deveria ser estabelecer direções para a política de desenvolvimento global da ONU para o período pós-2015, quando vence o prazo para cumprimento dos Objetivos do Milênio (negociados em 2000), e apenas depois da definição dessas linhas gerais seria possível negociar obrigações específicas.
Crise
Em entrevista à imprensa, o embaixador Luiz Figueiredo Machado, chefe brasileiro das negociações na Rio+20, reconheceu que a crise está dando o tom da ação dos países ricos. "Há uma retração forte de países antigamente doadores que se veem, por força da crise econômica e financeira, com dificuldades até internas de assumir uma posição mais solidária e até mesmo de cumprir compromissos anteriormente assumidos."
Ele defende, no entanto, que essa é uma "visão curta da crise imediatista" que daqui dois anos, diz, pode estar ultrapassada. "Não podemos ficar reféns de uma retração gerada por uma crise econômico-financeira dos países ricos. Estamos aqui para pensar no longo prazo, no futuro do mundo, de nós que estamos nele e das próximas gerações."