A presidente Dilma Rousseff foi criticada abertamente pela ex-primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland e pelo movimento feminista pelo fato de o documento submetido à Rio+20 ser omisso em relação à questão dos direitos reprodutivos.
"Não entendo como a presidente Dilma Rousseff [em sua fala inicial na reunião da Cúpula de Mulheres Líderes, realizada a partir da 11h] menciona os direitos reprodutivos e esse tema não aparece no documento", disse Brundtland.
Dilma pediu a palavra uma segunda vez (algo que não estava previsto na organização da Cúpula das Líderes), para dizer que o documento não foi feito para agradar a um setor específico.
"Até duas décadas atrás, o que se tinha era bilateralismo e posições hegemônicas. O multilateralismo da Rio+20 leva em consideração posições diferentes das minhas. Se todas as minhas posições não estão lá é porque há que respeitar a diversidade. E a diversidade implicar recuar um pouco e avançar outro pouco", disse Dilma em tom seco, transparecendo irritação.
Cerca de 30 feministas conseguiram entrar com faixas na Cúpula das Mulheres Líderes, cujo acesso era restrito, só admitidas pessoas que tivesse convites previamente distribuídos.
As faixas - "Os direitos das mulheres não se negociam" e "Pelos direitos reprodutivos" - foram abertas logo depois da intervenção da ex-primeira ministra da Irlanda Mary Robinson, que lamentou o retrocesso do documento em relação aos direitos reprodutivos.
O documento base da Rio+20, apresentado na terça-feira, depois de uma jornada de negociação que entrou pela madrugada, substituiu a expressão "direitos reprodutivos", consagrada na Rio92 e nas conferências de mulheres realizadas em Pequim (1995) e no Cairo, e substituiu-a pela aguada expressão "saúde reprodutiva".Segundo as feministas, "direitos reprodutivos" referem-se ao acesso a métodos contraceptivos e à educação sexual contra a discriminação, além da dimensão propriamente sanitária.
"Foi por pressão do Vaticano", disse Yuri Orozco, das ONG Católicas pelo Direito de Decidir. "Colocaram conquistas históricas das mulheres e nossos direitos na mesa de negociações, como se fosse um tema menor", disse a socióloga Rosário Quiroga, do Chile.
O Vaticano tem status de observador na ONU, mas uma forte interferência em algumas delegações nacionais, como a do Chile, Honduras, Nicarágua, Egito, República Dominicana, Rússia e Costa Rica.
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