Uma junta médica concluiu que a menina Marcela de Jesus, que sobreviveu por 1 ano e 8 meses no interior de São Paulo, não tinha anencefalia. Foi a primeira vez que um grupo de médicos se reuniu com os exames em mãos para analisar e esclarecer o diagnóstico. O caso da criança tem sido utilizado por grupos religiosos como argumento no debate no Supremo Tribunal Federal, que deverá decidir até o fim do ano se a interrupção da gravidez deve ser permitida em casos de anencefalia.
"Marcela tinha merocrania", afirma Thomaz Gollop, especialista em medicina fetal e professor da Universidade de São Paulo (USP). "Acabei de fazer uma junta médica com um especialista em anatomia e neurologia pediátrica com os exames em mãos. Ela tinha um defeito menos grave na formação do crânio e o resquício de cérebro presente, ao contrário dos anencéfalos que não têm nada, é coberto com uma membrana chamada cerebrovasculosa"
Gollop afirma que há apenas dez casos descritos de merocrania na literatura médica. E que se trata de um diagnóstico que também caracteriza a morte cerebral - apesar de, por causa da presença dessa membrana, o feto poder ter uma sobrevida vegetativa. Pela raridade do caso, e porque para os médicos o prognóstico entre essas doenças não é diferente, levando à morte, ele reconhece que chegou a dizer, antes de analisar profundamente o caso, que ela tinha anencefalia. O médico deve se manifestar nesta quinta-feira (28) no STF.
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