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É praticamente desprezível a probabilidade de o vírus H5N1, responsável pela gripe aviária, chegar ao Brasil nas asas de aves migratórias, afirmou nesta quinta-feira, em entrevista ao GLOBO ONLINE, a ornitóloga pernambucana Inês Nascimento, que há mais de 15 anos se dedica ao estudo das migrações continentais no Centro de Pesquisa Nacional para Conservação de Aves Silvestres (Cemave) do Ibama. Segundo Inês, nenhuma ave migratória brasileira tem contato, em nenhum ponto da sua rota, com as espécies (gansos e patos, por exemplo) infectadas pelo H5N1 na Europa, na África e na Ásia.

- A chance de o H5N1 chegar ao Brasil através de migrações naturais é ínfima. Nenhuma das espécies que, até o momento, tiveram contato com o vírus da gripe aviária tem penetração no país - afirmou a pesquisadora, reforçando que a chance de uma "visitante acidental" alcançar o solo brasileiro é de uma em mil. - Nenhuma ave faz vôos transoceânicos. É impossível que uma espécie contaminada na Europa ou na África chegue voando até o Brasil.

Segundo Inês, há no mundo nove grandes sistemas de migração de aves, dos quais o Brasil integra quatro: os "corredores" Atlântico, Pacífico, Central e Andino-Patagônico.

- O Brasil recebe, anualmente, cerca de 300 mil aves oriundas do continente norte-americano. São animais que se reproduzem, em sua maioria, no Ártico canadense e que partem em viagem para a Patagônia passando pelos Estados Unidos, pela América Central e pelo Brasil - explicou a ornitóloga, lembrando que essas espécies habitam áreas totalmente distintas e tem hábitos bastante diferentes dos patos e gansos que recentemente têm sido vítimas do H5N1 e que podem ser encontrados no Canadá, na Groelândia e na Sibéria. - São populações distintas e separadas. A probabilidade de contato é extremamente baixa.

Dentre as aves que fazem essas migrações intercontinentais, Inês destaca os Maçaricos e as Batuíras, muito populares no Brasil. São aves de pequeno e médio porte, que deixam o Canadá entre julho e agosto, chegam ao Brasil entre agosto e setembro e alcançam a Patagônia em outubro. Entre março e abril do ano seguinte, as aves fazem o caminho de volta. Um trajeto de 20 mil quilômetros. No entanto, muitos desses animais ficam pelo meio do caminho, seja no Suriname, nas Guianas ou no Norte/Nordeste do Brasil.

- Há espécies migratórias costeiras e continentais. Independente do itinerário, a possibilidade de contaminação nesses pontos de parada também é extremamente baixa. Até o fim do ano passado, nenhum óbito suspeito havia sido registrado entre as espécies migratórias brasileiras.

O Brasil se defende da ameaça de gripe aviária como pode. Segundo Inês Nascimento, há duas frentes de trabalho contra o H5N1, uma interna e outra externa.

- Integramos, desde 1997, uma cooperação internacional de monitoramento de aves migratórias juntamente com a Argentina, o Canadá e os Estados Unidos. O trabalho do grupo inclui desde o controle das aves até o intercâmbio de pesquisadores. Qualquer sinal de doença em aves migratórias, qualquer suspeita de contaminação, tudo é imediatamente informado - relatou a ornitóloga, acrescentando que o grupo, formado pelo Real Museu de Ontário, do Canadá, pelo Departamento de Espécies Ameaçadas de Nova Jersey, dos EUA, pelo Cemave/Ibama, do Brasil e pela Fundação Imalafkuen, da Argentina, investiga outras doenças além da Influenza.

No Brasil, o controle e prevenção da gripe aviária é feito pela Vigilância Sanitária em parceria com a Funasa, o Ibama e os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente.

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