O Ministério da Saúde liberou neste mês uma verba de R$ 2,2 mil por caso suspeito para auxiliar na confirmação ou não do diagnóstico - a chamada busca ativa. O subsídio é uma forma de acelerar a investigação dos casos suspeitos de microcefalia e confirmar o diagnóstico de forma precisa para que o bebê possa ser encaminhado à unidades de referência e receber o tratamento adequado. O montante será repassado aos estados e deve ser utilizado nas despesas dessa investigação – seja no transporte da família, hospedagem ou diagnósticos por imagem para a confirmação da condição.
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Investigação: como funciona?
A investigação dos casos suspeitos de microcefalia consiste em diversos exames. Quando feita ainda no pré-natal, a gestante deve ser acompanhada desde o momento em que sente coceira na pele – um dos principais sintomas do zika vírus.
A gestante deve passar regularmente por ultrassom morfológico para avaliar se a atividade cerebral do bebê foi afetada de alguma forma.
Após o nascimento, a criança deve passar por exames de sangue para descartar qualquer outro tipo de infecção que pode ter causado o dano cerebral.
O custo deste trabalho, de acordo com a pediatra infectologista da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Marion Burger, ainda não pode ser estimado, mas ultrapassa - e muito - a verba liberada pelo Ministério da Saúde. A investigação dos casos envolve exames de ultrasonografia, tomografia ou mesmo testes de estimulação para verificar quão comprometido estaria o cérebro da criança. “Toda ajuda é bem-vinda, mas esses custos são muito altos para qualquer sistema de saúde”, explicou.
Essa verba será destinada aos estados com casos de microcefalia que estão em investigação – 16 até o momento. No total, o Ministério da Saúde deve investir R$ 10,9 milhões, já que há hoje no país cerca de 5 mil crianças com suspeita de microcefalia. A confirmação dos casos é essencial para que os pacientes sejam encaminhados à centros de reabilitação especializados.
De acordo com Camila Cabral, a assistente social da Fundação Altino Ventura (FAV), que administra o Centro de Reabilitação Menina dos Olhos e atua no tratamento de crianças com microcefalia em Recife (PE), assim que os casos começaram a ficar mais frequentes, a maioria das famílias foi encaminhada para a unidade para iniciar o tratamento nos bebês.
Para Camila, mais do que buscar essas famílias, é preciso que se tome medidas para fazer com que os bebês continuem o tratamento, já que muitas famílias são da zona rural e não conseguem comparecer à capital semanalmente. “Muitas destas mães acabam com medo desde o início da investigação, além de não ter condições de fazer as viagens”, explicou.
A estratégia do Ministério da Saúde ainda estabelece que as famílias das crianças que forem confirmadas com microcefalia sejam direcionadas para Centros de Referência em Assistência Social (Cras), para que sejam incluídas em serviços de proteção e para uma possível obtenção do Benefício de Proteção Continuada (BPC), que é oferecido para pessoas com deficiência comprovada.
Busca ativa deve começar nas gestantes
A investigação dos casos de microcefalia é o primeiro passo para identificar o número de crianças afetadas pela doença e, assim, buscar o tratamento adequado para mães e bebês. Logo que a suspeita do aumento de casos de microcefalia e a relação com o zika vírus começou, iniciou-se também um trabalho de alerta e busca de mães e crianças com suspeita da doença, que muitas vezes era subnotificada. O pediatra infectologista Robério Leite atua no Ceará - um dos estados que mais registrou casos da doença - e afirma que o sistema de saúde está finalmente mais atento para as infecções congênitas que podem ser geradas pelo zika vírus em bebês. “O número de notificações aumentou muito, o que nos faz acreditar que havia uma subnotificação. Agora, a identificação dos casos ainda no pré-natal praticamente dobrou”, disse.
Busca de casos no Paraná
O Paraná, que ainda não tem casos suspeitos de microcefalia, não deve receber a verba, mas mantém equipes em alerta para possíveis alterações congênitas causadas pelo zika vírus.
De acordo com Marion Burger, as infecções congênitas possivelmente ligadas ao zika vírus deixaram todos os estados em alerta, o que deve ser mantido para que um panorama mais claro do número de crianças com a doença possa ser traçado de forma mais concreta.
A pediatra afirma que, em uma primeiro momento, fez-se uma busca na declaração de nascidos vivos, onde se pôde verificar um possível aumento do número de crianças com a má-formação. “Não percebemos um aumento de casos no estado, mas a chegada do zika vírus ao Paraná aumentou o alerta. E não só para a microcefalia como para outras má-formações. A preocupação agora deve ser com as gestantes, que estão suscetíveis à contaminação”, explicou.
De acordo com o pediatra, a busca ativa deve começar ainda na gestação da mãe infectada pelo zika vírus, para que a evolução da doença seja acompanhada de perto pelas unidades de saúde desde o início. Leite afirma que o diagnósticos de infecções congênitas possivelmente causadas pelo zika vírus, como a microcefalia, tem aumentado durante o pré-natal.
De acordo com o médico, esse tipo de diagnóstico precoce pode ajudar no tratamento da mãe e da criança, já que elas podem ser encaminhadas desde a gestação para uma unidade especializada neste tipo de situação. “É importante que não só o pediatra esteja atento, mas também o obstetra”, disse. O atendimento especializado facilita tanto a preparação da mãe para os desafios de lidar com a doença como a avaliação dos danos que a microcefalia pode causar ao cérebro do bebê. “Este atendimento facilita na preparação da gestante e colabora para que a investigação do caso seja conduzida de uma forma mais especializada, confirmando ou descartando casos mais rapidamente”, explicou.
Desafios
A microcefalia é o último estágio das má-formações que podem ser causadas pelo zika vírus.O maior desafio da saúde é monitorar essas gestantes de perto, afirma a pediatra infectologista da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná, Marion Burger. “Já se verificou que o zika vírus também pode estar causando outras lesões, que resultam em lesão ocular ou de ouvido. “O que está acontecendo é um laboratório vivo. Precisamos acompanhar estas gestantes para evitar a contaminação do feto e dar o suporte necessário”.
Para Robério Leite, além do acompanhamento das gestantes, um dos grandes desafios é atender as crianças com microcefalia de forma especializada depois do nascimento. “Existem poucos centro no país com profissionais especializados para atender estas crianças. São doenças novas, com diferença de gravidade entre elas. O aprendizado será construindo enquanto se faz o atendimento”, disse.
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