Uma tentativa de homicídio em Santa Catarina, o desaparecimento da principal suspeita do envenenamento de quatro adolescentes em Curitiba e uma mensagem enviada a um grupo de pessoas por celular na semana passada aumentam o mistério sobre o motivo de alguém ter colocado veneno em brigadeiros e oferecido a uma adolescente de 14 anos, caso que aconteceu no início do mês e até agora não foi esclarecido.
O delegado coordenador da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Joinville, Marcel de Oliveira, disse que a polícia trabalha em diversas linhas, porém o desaparecimento de Margarete Marcondes e o espancamento do marido dela não teriam ligação com o envenenamento dos adolescentes.
Após a divulgação das imagens que mostrariam a doceira Margarete Marcondes, 45 anos, entregando a caixa de bombons envenenados a um taxista próximo ao Shopping Pinheirinho, a história começou a ficar complexa. Na última quinta-feira (22), Nercival Cenedezi, 49 anos, marido de Margarete, foi encontrado pela polícia de Joinville com sinais de espancamento, em cima da cama. Estava nu, desacordado e com marcas de agressão na cabeça e no braço.
Segundo peritos locais, o sangue encontrado na casa aponta que agressão deva ter acontecido entre terça e quarta-feira. Na sequência, descobriu-se que desde terça-feira (20), a mulher e o carro não foram vistos por ninguém. O homem ainda não foi ouvido por estar confuso.
A polícia de Joinville chegou ao local após receber um telefonema de um amigo de Margarete que havia recebido uma mensagem curiosa, pouco antes de Cenedezi ser encontrado. No texto, é avisado que Cenedezi está morto e que a Margarete teria presenciado o crime. "Nercival está morto em casa aguardando para ser enterrado. Mulher presenciou tudo, está dopada, drogada e pronta para ser atropelada. Docinho só fachada. Laranja se ferrou", diz o texto. O delegado Oliveira afirmou que o homem avisou que um grupo de amigos havia recebido a mesma mensagem do celular de Margarete. A polícia investiga o teor do texto.
Coincidência
No mesmo dia que Cenedezi foi encontrado pela polícia local, o pai da adolescente de 14 anos envenenada pelos bombons, o policial militar Edilson Teminski esteve em frente da casa de Margarete em Joinville (SC), mas não percebeu nada de anormal. Ele conta que foi até o município catarinense para confirmar detalhes da festa de 15 anos da filha, após ter tentado falar com Margarete por telefone e por e-mail.
Mesmo diante da confirmação por testemunhas de que Margarete seria a mulher responsável pelo envio dos doces envenenados, Teminski não acredita no envolvimento da doceira. "O jeito que os bombons foram entregues não condiziam com o método de trabalho da Margarete. Quando eles (os doces) chegaram, sabíamos que não era dela". O trabalho como cerimonialista de Margarete já era conhecido há mais de um ano, após ter sido responsável pela festa de quinze anos de outra filha de Teminski.
Concomitantemente à denúncia feita ao delegado de Joinville, Teminski também recebeu uma ligação de um amigo comum de Margarete avisando da mensagem, no início da noite de quinta-feira (22). "Imediatamente liguei para a (Delegacia) de Homicídios". No outro dia, ele confirma que acompanhou policiais civis até a casa de Margarete.Conforme vizinhos do casal, eles sempre foram tranquilos e não eram de receber muitas visitas. Moravam há dois anos no local e estavam para mudar-se para outro bairro. Para Olga Massaneiro Duarte, moradora da terceira casa ao lado de onde ocorreu o crime, nenhum barulho foi ouvido e nem foi percebido ninguém estranho rondando o local. "Todos estão admirados por não ter ouvido nenhum grito diante de como ele foi encontrado".
O caso
A adolescente de 14 anos recebeu uma caixa com oito doces, na tarde de 12 de março, e quatro pessoas passaram mal após ingerir parte dos brigadeiros. Um taxista entregou os doces na casa da família da menina, no Jardim Futurama, no Umbará, de acordo com a Delegacia de Homicídios (DH). O homem disse à polícia que uma mulher elegante, bem vestida, o procurou - próximo ao Shopping Pinheirinho - e pediu para entregar a caixa com os bombons na casa da menina.
A adolescente de 14 anos recebeu alta no fim da tarde de segunda-feira (19) e deixou o Hospital de Clínicas (HC) após ficar internada por oito dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ela chegou a ter parada cardiorrespiratória no dia em que ingeriu os bombons.
Outros dois adolescentes, de 13 e 17 anos, deixaram o hospital uma semana antes. O primeiro esteve internado no Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) do Pinheirinho e teve alta em 13 de março. O outro jovem foi levado para o HC e permaneceu no hospital até quinta-feira (15). A última a deixar o Hospital de Clínicas (HC) foi a adolescente de 16 anos, na terça-feira (20). Ela teve uma lesão pulmonar.
VIDA E CIDADANIA | 1:33
A casa de Margarete Marcondes, em Joinville (SC), estava cheia de sangue nas paredes e no chão no último dia 23, quando os investigadores da Delegacia de Homicídio de Curitiba estiveram no local. Margarete é suspeita de envenenar os brigadeiros que levaram quatro adolescentes ao hospital no início do mês. Ela está desaparecida e o marido dela foi encontrado gravemente ferido na casa após ter sido espancado na semana passada.
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