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Moradores contestam plano de levar lojas a bairro nobre de SP

Moradores da região dos Jardins, área nobre de São Paulo, têm aumentado esforços e se mobilizado na tentativa de derrubar alguns pontos do projeto de lei da prefeitura que altera o zoneamento da cidade, entregue no último dia 2 à Câmara Municipal. Um dos principais pontos discutidos diz respeito à Rua Estados Unidos, que, pela proposta, poderá ter novos tipos de comércio - a via deixaria de ser Zona Exclusivamente Residencial (ZER). Os moradores queixam que, se aprovado, o projeto permitiria que na via fossem instalados bares, casas noturnas e ainda mais restaurantes. Eles também contestam a nova classificação da prefeitura para a via, considerada estreita para uma via Zona Corredor (ZCor).

Nos últimos dias, principalmente após o prefeito Fernando Haddad (PT) entregar ao Legislativo municipal o projeto de lei, tem aumentado a mobilização de moradores na região, com colocação de faixas contra a proposta do governo municipal na frente dos imóveis, discussões em grupos da internet e do WhatsApp, abaixo-assinados e a contratação por movimentos de moradores de escritórios de advocacia, urbanistas e outros especialistas para reforçar a luta contra a prefeitura.

Presidente da Associação AME Jardins, o advogado Fernando José da Costa, acrescenta que a região é um dos pulmões da cidade e que o novo zoneamento diminuiria a área verde.

“Você tem um bairro que, desde a sua constituição, faz parte da sua escritura a característica residencial. Esse é o motivo, inclusive, que levou à criação de ruas curvas, para você não ter um volume de veículos intenso e de alta velocidade. Um bairro que foi desde a sua constituição ricamente arborizado, que limita a construção vertical. Você tem uma construção horizontal no meio de São Paulo rica em urbanismo e, sem dúvida, um dos pulmões da cidade”, ressalta o advogado.

Primeiros bairros no conceito cidade-jardim da capital paulista, os jardins América, Europa, Paulista e Paulistano foram idealizados pela Companhia City, responsável pela urbanização de bairros em algumas regiões da cidade (como Pacaembu, Alto da Lapa e Jardim Europa), na década de 1910. Com projeto do urbanista inglês Barry Parker, o intuito era trazer a natureza próxima dos moradores e privilegiar também o pedestre, com calçadas largas e ruas arborizadas.

“E isso (a arborização) não é importante só pros Jardins, mas para a cidade de São Paulo como um todo. A construção de comércio, ampliação de comércio, é sabido que ela tem como prioridade a visualização da vitrine, a ampliação de estacionamento. E, para que isso seja feito, o primeiro prejudicado aí é a flora”, acrescenta Costa.

Para o administrador Marcelo Kneese, um dos líderes do movimento SOS Rua Estados Unidos, “ em meio à crise hídrica, a prefeitura está atacando uma das poucas áreas verdes corretas da cidade “.

“Há nos Jardins uma diferença média de temperatura de seis graus centígrados em relação ao centro por conta do verde, temos um estudo sobre isso. Temos na cidade de trocar postes por árvores, e não destruir mais árvores”.

Kneese reclama que a Prefeitura pouco discutiu com moradores locais o projeto de lei antes de levá-lo à Câmara Municipal. “(As alterações no zoneamento dos Jardins) têm sido discutidas a portas fechadas, o que é uma coisa que nos preocupa demais.”

Nada de elitismo

O administrador descarta qualquer elitismo na manifestação de moradores dos Jardins. “Não é uma briga dos ricos privilegiados. Pagamos impostos para fazer o prefeito investir principalmente nas regiões mais carentes. Pagaríamos mais IPTU se ele se comprometesse a investir em quem mais precisa.”

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo diz que antes do projeto de lei ser enviado à Câmara Municipal “ao todo foram realizadas de 41 audiências e oficinas públicas, participação de 8.028 cidadãos e 7.629 contribuições recebidas” e que “no caso da Rua Estados Unidos, atendendo ao pleito da população, a Zona Corredor se estende também para o outro lado da Via, mantendo a mesma lógica do zoneamento atual”. A pasta acrescenta: “é importante ressaltar que o processo participativo não está se encerrando, pois um novo processo de debates será realizado sob a coordenação da Câmara Municipal de São Paulo”, em referência as mais de 40 audiências públicas que o Legislativo municipal deve realizar nas próximas semanas para debater a proposta.

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