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O que podemos aprender com quem está se adaptando à escassez de água

Imagem da Califórnia repleta de piscinas pode “sair de moda”. | Reuters/Folhapress/Reuters/Folhapress
Imagem da Califórnia repleta de piscinas pode “sair de moda”. (Foto: Reuters/Folhapress/Reuters/Folhapress)

Sabe aquela sequência de mansões com piscinas e vastos jardins que são o símbolo da boa vida em Beverly Hills? Despeça-se dessa imagem porque esse é um cenário em transformação. No mês de maio, a Califórnia, que enfrenta uma seca rigorosa desde 2012, apertou o controle do uso da água tanto para fins domésticos quanto comerciais e industriais. O San Jose Mercury News, jornal que circula numa das áreas mais prósperas do estado, mostrou recentemente que 70% da água nas residências por lá é usada em piscinas e jardins.

A nova política pública dá incentivos tributários para quem adota alternativas mais sustentáveis, como o uso de plantas de deserto nos projetos de paisagismo. Quem não se adapta é punido com multas de até US$ 10 mil (mais de R$ 30 mil). A batalha não é apenas governamental. Centros comunitários – marca da democracia americana – fiscalizam e alertam a vizinhança, usando inclusive as redes sociais para denunciar abusos com a hashtag “vergonha da seca” (#droughtshaming).

O jornal Los Angeles Times explica que as regras mais duras surgiram depois do fracasso em atingir a meta imposta há um ano pelo governador Jerry Brown, que estabeleceu medidas para reduzir o consumo de água em 25% em comparação com 2013. De acordo com o Comitê de Controle Estadual da Água, a economia nos dez meses medidos – julho de 2014 a março de 2015 – foi de apenas 8,6%.

A Califórnia trilha um caminho que não é novo para cidades europeias. Em Zaragoza, na Espanha, o plano contra o desperdício foi adotado em 1997. Na época, uma pesquisa mostrou que só 40% da população praticava alguma medida para poupar.

Com campanhas e políticas públicas, a cidade reduziu em 5% o consumo anual, índice que vem conseguindo manter e que representa mais de 1 bilhão de litros de água. No auge de uma crise nas regiões de Londres, Kent e Sussex, a Inglaterra adotou em 2012 uma medida temporária, proibindo o uso de mangueira para regar jardins e lavar carros. A multa de 3 mil libras (mais de R$ 14 mil) também se aplicava para quem enchesse piscinas e para outros fins recreativos.

E no Brasil? Dados divulgados pela Agência Nacional de Águas (ANA) em abril apontam que a irrigação é responsável por 72% do consumo de água no país. Historicamente, é o sertão nordestino a região mais afetada pela seca. Mas foi a recente chegada da crise hídrica aos grandes centros urbanos que pôs o problema na agenda do dia. A Região Metropolitana de São Paulo vive a maior seca de sua história. A Cantareira, manancial que abastece mais de 5 milhões de paulistanos, está operando com apenas 15% da capacidade. É justamente na gestão dos mananciais que está a chave para que o Brasil evite a escassez de água de maneira tão drástica quanto países com menos recursos hídricos, diz o engenheiro ambiental Eduardo Gobbi, um dos coordenadores do projeto Águas do Amanhã, cujo foco foi incentivar o uso racional dos recursos da bacia do Rio Iguaçu.

Gobbi acredita que, salvo em regiões mais áridas ou densamente povoadas, o Brasil teria tudo para não enfrentar crises hídricas. Para isso, destaca, é preciso conciliar gestão ambiental e desenvolvimento. “Temos de escolher bem os mananciais a serem protegidos e liberar outros para projetos de desenvolvimento sustentável.”

Estaremos atrasados? Gobbi avalia que não é tarde, mas defende que o debate comece o quanto antes no âmbito dos planos diretores municipais, uma vez que a gestão da água não respeita limites geográficos e afeta regiões metropolitanas inteiras. “É urgente, por exemplo, discutir compensações para os municípios que preservam mananciais e cujo desenvolvimento, por isso, está limitado”, diz.

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