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Minas Gerais

Moradores de Barra Longa trabalham na limpeza de casas e ruas

Na casa da mãe do comerciante Geraldo Magela Carneiro, de 55 anos, o barro substituiu as louças antigas que a senhora de 83 anos mantinha em um móvel de madeira maciça e escura, na cozinha. Na madrugada de sexta-feira, por volta da 1 da manhã, o leito do Rio Carmo, que banha a cidade de Barra Longa, foi inundado pela lama avermelhada e espessa liberada depois do rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, em Mariana (MG). A enxurrada foi tanta que chegou a inverter o sentido da correnteza do rio e extrapolou as margens, invadindo portas e portões e se alojando nas salas, quartos, cozinhas de parte dos 6 mil moradores da cidade.

“Oha o que fizeram com a gente. Ninguém avisou que viria tão forte e atingiria 1,5 m de altura. Quando a água chegou, não deu tempo de tirar quase nada”, lamenta Carneiro, com uma enxada na mão para empurrar o barro, o suor escorrendo pela fronte. “A gente limpa pedindo a Deus para não aparecer nenhum corpo no meio”, completa.

A família perdeu cama, guarda-roupa, freezer, fogão. Até a bicicleta rosa da neta caçula, Júlia, de 3 anos, estava enlameada.

De acordo com os moradores, a violência do lamaçal arrancou as plantações de árvores frutíferas das margens do rio, matou as criações de galinha, derrubou quatro pontes que ligavam as duas margens. Do campinho de futebol, onde se realizava campeonatos locais entre moradores, não há nem vestígio do verde da grama. Das traves, enxerga-se pouco mais de meio metro. Nas ruas da cidade, tratores, escavadeiras e até caçambas de caminhonetes são usadas para retirar a terra das ruas. Caminhões com o símbolo do PAC 2 circulam pelo município levando terra e restos de construção.

Há mais de 24 horas, o aposentado José Geraldo Gazeta, de 54 anos, tenta fazer escoar a lama que subiu mais de meio metro em sua casa. No entanto, os bueiros e calhas da rua estão obstruídos pelo material da barragem. A mulher e os quatro filhos passarão os próximos dias em casas de parentes. Depois que conseguir tirar o barro, Gazeta acredita que o lar ficará vazio.

“Nem o computador conseguimos salvar. Foi tudo muito rápido, duas e meia da manhã já não dava pra entrar. E o caminhão que a prefeitura mandou para tirar os móveis da gente chegou às 5 da manhã, quando a água já tinha engolido tudo”, conta Gazeta.

Embora a mineradora já tenha se reunido com representantes da Prefeitura de Barra Longa, os moradores ainda não foram informados sobre como seu prejuízo será ressarcido. Nas principais ruas atingidas, o mutirão de limpeza de vizinhos foi engrossado por funcionários de outras prefeituras. Um deles, Joel de Oliveira, de 45 anos, umedece as palmas das mãos para que elas deslizem pelo cabo da enxada com facilidade. Ele sabe que precisa evitar bolhas para aguentar o trabalho de pelo menos mais cinco dias de limpeza.

Mesmo quem não teve a casa invadida pelo barro, lamenta os efeitos da tragédia. O pedreiro Eduardo Alves Basílio, de 49 anos, olha com tristeza para o Rio Carmo. De cima da ponte que restou em pé ele conta que, antes de quinta-feira, conseguia enxergar os peixes, de tão cristalina que era a água. Dali, tirava Tilápia e Corvina para comer. Desde ontem, no entanto, pelos olhos tristes de Basílio passaram botijão de gás, madeira, balde, levados pelo lamaçal. Nem sinal de peixe.

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