Alcides de Abreu Gonçalves, de 73 anos, morreu no Hospital Badim, na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro, às 21h40 deste domingo. Ele é a sexta vítima do acidente com o bonde de Santa Teresa, no Centro da cidade, que causou a morte de outras cinco pessoas e deixou mais de 50 feridos no último dia 27.
Segundo a assessoria do hospital, ele estava internado desde o dia 28 de agosto na unidade, onde ficou no Centro de Terapia Intensiva (CTI). Alcides morreu em decorrência de complicações clínicas causadas por um traumatismo cranioencefálico.
Na chegada à emergência do Hospital Badim, ele apresentava o quadro de traumatismo craniano, com lesão hemorrágica, causada por contusão cerebral. Desde esse dia, permaneceu em estado gravíssimo no CTI, onde teve complicações pulmonares.
Nesta segunda, a polícia vai ouvir sete funcionários e o engenheiro da Central Logística, empresa responsável pelos bondes de Santa Teresa. O depoimento do engenheiro é considerado o mais importante do dia, e está previsto para as 14h.
O Ministério Público estadual propôs, na última sexta-feira, a implementação de um programa extrajudicial de indenizações às vítimas de acidentes envolvendo bondinhos em Santa Teresa. A proposta foi feita durante a reunião marcada pelo MP com representantes do governo para discutir a situação do serviço. Convidados a participar do encontro, o secretário estadual de transportes, Julio Lopes, e Rogério Onofre, interventor nomeado pelo governador Sérgio Cabral para solucionar o problema dos bondes, alegaram compromissos profissionais e não compareceram ao encontro. Apenas o presidente da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes (Central), Sebastião Rodrigues, compareceu.
- Entendo que este também seria um compromisso profissional que, diante das circunstâncias, é primordial. Demos a oportunidade a eles de dar suas versões. E para nós seria importante ouvi-los neste momento - lamentou Carlos Andresano, que instaurou um inquérito para investigar o acidente, e não descarta a convocação do secretário no decorrer do inquérito.
Para o MP, um programa extrajudicial de indenizações poderia minimizar o sofrimento de vítimas e familiares, evitando que tenham que recorrer à Justiça para exigir a reparação de danos sofridos. Na reunião, o presidente da Central afirmou que o Estado já vem prestando assistência às vitimas no sentido de arcar com verbas funerárias, assistência médica, despesas com translado de corpo das vítimas fatais, assistência psicológica. De qualquer forma, o procurador-chefe de Serviços Públicos da Procuradoria-Geral do Estado, Flávio de Araújo Willeman, também presente na reunião, afirmou que a proposta depende da conclusão dos laudos técnicos que apontarão as razões e responsabilidades pelo acidente.
Em nota, o governador Sérgio Cabral afirmou que lamenta profundamente o acidente. Cabral ainda determinou que a Secretaria de Transportes conduza um plano de modernizaçao dos bondes. Segundo ele, "as providências cabíveis serão tomadas, conforme o laudo final".
Engenheiros do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) que fizeram vistoria no último domingo no bonde constataram que, em vez de parafuso, um pedaço de arame prendia uma peça próxima a uma das sapatas de freio. Segundo o engenheiro Luiz Carlos Cosenza, a superlotação do bonde não seria o único motivo para o acidente. Ele alertou que o desgaste de peças e a falta de manutenção podem ter causado o descarrilamento. Equipes do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) fizeram a perícia do veículo e também constataram desgaste nas peças. O laudo deve sair em 30 dias.
- Não deveria ter arame de forma nenhuma, mas não acredito que isso tenha sido a causa do acidente. Mas isso mostra o grau de degradação do sistema de bondes no Rio de Janeiro - ressaltou o engenheiro do Crea.
Na tarde de domingo, moradores de Santa Teresa fizeram manifestação em frente ao caminhão que está transportando o bonde para a oficina. Cerca de cem pessoas que se concentraram em frente ao Lago do Curvelo foram ao encontro do veículo, na Rua Joaquim Murtinho, próximo ao local do acidente, e chegaram a sentar nos trilhos como forma de protesto. Moradores do bairro também colocaram um pano preto no alto do muro em frente ao local do descarrilhamento para marcar o luto pelos mortos. Flores foram deixadas perto do local.
A Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) divulgou uma nota em seu site em que classifica o acidente como uma tragédia anunciada. A Amast culpa o governo do estado por omissão e descaso com o sistema de bondes no bairro.
No momento do acidente, o bonde estava com excesso de passageiros: 62 enquanto o máximo permitido é 40. Segundo o comandante do Destacamento de Bombeiros do bairro, Fábio Couri, quatro vítimas do acidente morreram na hora. Uma chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Entre os mortos, estava o motorneiro que conduzia o veículo e que, segundo testemunhas, estava fazendo aniversário.
Embora seja o mais grave, este não é o primeiro acidente com o transporte em Santa Teresa. Em junho, o turista francês Charles Damien Pierson morreu após despencar de um bonde que passava sobre os Arcos da Lapa. Ele viajava no estribo quando escorregou e caiu de uma altura de aproximadamente 15 metros.
Em 2009, a professora Andreia de Jesus Resende, de 29 anos, morreu e outras dez pessoas ficaram feridas após um bonde perder o freio numa ladeira de Santa Teresa e ser atingido por um táxi. Ao deixar o veículo em pânico, a professora foi atropelada por um ônibus
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