O Ministério da Justiça autorizou o retorno de tropas da Força Nacional de Segurança (FNS) a Quedas do Iguaçu. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa, a partir de um questionamento da Gazeta do Povo. O número do efetivo não foi informado nem a data em que os militares irão retornar ao Paraná. O envio das tropas ao município no Oeste do Paraná foi motivado pela morte de dois sem-terra em confronto com a Polícia Militar na quinta-feira (7).
Desde dezembro, a FNS reforçava a segurança na região, a pedido do governador Beto Richa, que solicitou o apoio ao governo federal em função do acirramento do conflito agrário no local. Contudo, o reforço era provisório – pelo prazo estipulado de 90 dias – e venceu no mês passado. Com a saída da FNS, o governo estadual decidiu reforçar o policiamento, enviando mais 100 policiais (o número total não foi anunciado).
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) afirma que a polícia avançou, atirando, sobre um grupo de integrantes. Já a polícia informa que apenas revidou depois de ser recebida a tiros.
Investigação federal
O ministro da Justiça, Eugênio Aragão, determinou à Polícia Federal a instauração de inquérito para apurar os fatos ocorridos em Quedas do Iguaçu.
O caso também está sendo acompanhado pelo Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil-Paraná e o governo do estado. O relatório preliminar deve ser entregue em dez dias.
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Depoimento
Parte do interrogatório à Polícia Civil de Pedro Francelino foi divulgado para a imprensa, em áudio e em texto já transcrito. O sem-terra afirmou que o confronto teve início depois que um dos integrantes do MST “atirou pra cima e um policial revidou”. Ele, que foi baleado no local, falou com os policiais no Hospital São Lucas, onde está internado.
No trecho divulgado, Francelino diz que estava no local e que participaria de um protesto organizado pelos sem-terra. “Daí chegamos lá, levei foice, que é uma coisa que é ferramenta de trabalho. Chegamos lá um engraçadinho saiu pra fora atirando pra cima e o policial revidou. Foi só isso que aconteceu”, afirmou.
O primeiro tiro, disse Francelino à polícia, “foi do rapaz que morreu, que entrou em óbito lá, com o revólver na mão”. Ele não soube dizer o nome da pessoa pois está “apenas há dois meses no acampamento.” Ao Paraná TV, da RPC, a defesa do MSTafirmou que a divulgação do interrogatório é ilegal.
Já segundo o delegado Julio Cezar dos Reis, os quatro PMs presentes no confronto disseram, em depoimento, “que foram recebidos a bala pelos sem-terra”. Ele disse não saber especificar quantos tiros os sem-terra teriam disparado e se foram apenas para o alto ou contra os carros e os policiais.
O MST rechaça a declaração da PM de que os sem-terra armaram uma emboscada para os policiais. Segundo o movimento, uma das vítimas foi baleada nas costas, o que provaria que não houve confronto. “É a primeira vez que alguém faz uma emboscada e é morto”, diz Antonio de Miranda, porta-voz do movimento na região. Uma caminhonete usada pelos sem-terra ficou marcada com mais de 30 perfurações provocadas pelos disparos. Segundo o movimento, Bordin correu e foi baleado pelas costas.