A morte Eliza Samudio teria sido negociada por R$ 5 mil. A afirmação foi feita pelo promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro nesta sexta-feira (23) durante o julgamento do desaparecimento da modelo. Castro citou o depoimento do primo de Bruno, que à época do crime era menor, e disse que Eliza foi levada para Minais Gerais pelo ex-goleiro Bruno e "sua turma" e foi assassinada. "Eliza não veio a Minas a passeio como falam essas crápulas. Ela foi sangrada, sequestrada e trazida para Minas onde Bruno e sua turma achavam ser mais fácil dar cabo da vida dela", afirmou o promotor, de acordo com o jornal O Globo.
Durante os debates entre defesa e acusação, o promotor afirmou que Fernanda Gomes de Castro, ex-amante do goleiro, mentiu o tempo todo em seu depoimento. O promotor destacou contradições em relação às conversas telefônicas entre Fernanda e Macarrão nos dias que antecederam o assassinato de Eliza. Segundo o membro do Ministério Público (MP), Fernanda quis proteger os outros réus, especialmente o ex-capitão do Flamengo.
"Fernando Gomes de Castro mentiu. Ela afirmou que foi Macarrão quem teve a iniciativa de chamá-la na noite do sequestro de Eliza Samudio para que ela se dirigisse até a casa do goleiro Bruno, no Recreio dos Bandeirantes, para que ali ela o auxiliasse a cuidar do filho de Eliza. Na verdade, o que está provado não é que Macarrão ligou para Fernanda, e sim o contrário: foi ela mesma que teve a iniciativa de realizar pelo duas ligações para o telefone celular do primo de Bruno, menor de idade na época", disse o promotor.
Segundo ele, Fernanda só cuidou de Bruninho, filho do jogador com Eliza, por que a vítima estava bastante ferida.
"Fernanda disse que teria cuidado do bebê de Eliza durante a noite, no quarto do Bruno. De fato, Eliza estava em tal grau machucada que não teria condições de cuidar do filho. Mas o que nós temos, a rigor, é que Eliza estava em situação de sequestro", afirmou.
Para o promotor, Fernanda sabia que Eliza ia ser levada para Minas para morrer. Tanto que não se preocupou em esconder o rosto quanto chegou em Ribeirão das Neves, terra natal do goleiro, diferentemente do que aconteceu quando ainda estava na casa do Recreio.
"A casa poderia estar com as portas e janelas abertas que Eliza não abandonaria seu filho, que estava em poder de Fernanda, que era para ela uma desconhecida e rival amorosa. O menor primo de Bruno declarou que quando Fernanda chegou na casa do Recreio dos Bandeiras ela logo cuidou de encobrir o rosto para que não tivesse sua identidade reconhecida por Eliza. Mas olha que coisa curiosa: quando chegaram em Ribeirão das Neves, Fernanda não mais cobria o próprio rosto. Certamente porque ela já sabia que Eliza não ia escapar daquela situação. Ou seja, que seria morta", afirmou o promotor, que falou, ainda, sobre o fato de Fernanda ter confessado que mentiu à polícia:
"Ela reconheceu que mentiu quando prestou seu primeiro depoimento à polícia. Sobretudo na afirmação de que o Macarrão teria ligado para ela a pretexto para cuidar de uma criança filha de uma amiga do próprio Macarrão, em razão de aquela mãe, depois de um assalto, ter perdido R$ 50 mil reais. Eliza não passou em hospital nenhum", disse ele.
Em seu depoimento, Fernanda relatou que não sabe exatamente onde Eliza foi atingida, mas disse que chegou a sair sangue. Segundo a promotoria, ela ajudou a levar Eliza e o filho dela do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
"Depois, Macarrão pediu para eu ficar com o bebê, pois temia que J. (o primo de Bruno, que era menor na época do crime e agora está incluído em um programa de proteção à testemunha) e Eliza discutissem novamente e algo acontecesse com a criança", contou ela.
Fernanda relatou que Macarrão explicou o que tinha acontecido: Macarrão e o primo do Bruno foram encontrar com Eliza para negociar uma dívida. Ele disse que houve uma briga no carro entre o rapaz e Eliza por causa de algo que ela teria dito sobre o jogador.
A ex-namorada do goleiro contou que, ao chegar no sítio, cuidou do bebê de Eliza, pois ele chorava e estava com fome: "Fiz a mamadeira e troquei a fralda, e a criança parou de chorar. Depois disso, subi para o quarto de Bruno, e ele dormiu. Eu também acabei dormindo e só acordei na manhã do dia seguinte", disse ela.
Segundo Fernanda, Bruno chegou ao sítio sem falar com ela. Ele foi até a sala de vídeo, no andar térreo da casa, e conversou com Macarrão com as portas fechadas. Depois, ele subiu direto para o quarto onde estava Eliza: "Bruno disse que iria fazer um test drive em uma BMW, porque ele já tinha tido um carro como aquele, e me avisou que Macarrão iria na Land Rover para Belo Horizonte. Na hora que saímos da casa não percebi quem estava dentro da Land Rover. Só vi quem estava dentro quando paramos em um posto de combustível. Estavam J., Eliza, Macarrão e o bebê", afirmou.
Fernanda relatou que Bruno deu carona a um policial ao parar em um pedágio. Segundo a ré, o agente desceu na entrada da cidade de Juiz de Fora. O goleiro disse que eles iriam para a casa da mãe, onde dormiriam. Em seguida, Bruno ligou para o primo Sérgio Rosa Sales para chamá-lo para ir, junto com eles, ao bairro onde nasceu. Como ficou tarde, Bruno levou Fernanda para dormir em um motel, enquanto Sérgio ficou dormindo no carro.
No dia seguinte, Fernanda foi, na BMW, para a casa da mãe do goleiro, de onde seguiu para o campo onde Bruno ia jogar. Eliza foi levada na Land Rover, dirigida por Macarrão, para descansar no sítio, segundo Fernanda. Ela mencionou que pretendia voltar para o Rio de Janeiro, de avião. No entanto, um motorista de Bruno na época apareceu para buscá-la. Fernanda contou que Bruno pediu a ela que ficasse e voltasse no dia seguinte com o Macarrão, pois ele teria de devolver a BMW.
Condenações vão "sepultar Eliza", diz promotor durante julgamento
Castro pediu aos sete jurados - seis mulheres e um homem - a condenação de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, ex-secretário do jogador, e Fernanda Gomes Castro, ex-namorada do então atleta do Flamengo. O corpo de Eliza Samudio nunca foi encontrado, por isso o promotor disse: "Precisamos sepultar Eliza Samudio com as condenações".
O promotor também destacou as dificuldades de Eliza em casa, o que a levou a deixar o ambiente familiar aos 15 anos, ainda adolescente. "Ela abandona a convivência familiar diante da pedofilia do pai e cai no mundo", disse.
Henry afirmou que Eliza sempre foi uma vítima das dificuldades e usou como metáfora o poema de uma escritora portuguesa intitulado "Mendiga".
A primeira parte da fala do promotor é para pedir a condenação de Macarrão, que no seu interrogatório admitiu ter havido o crime, a mando do goleiro Bruno. Macarrão, contudo, nega participação direta no assassinato. "O Macarrão é um faz tudo de Bruno, um feitor", disse o promotor.
Jornalistas são proibidos de entrar no plenário
O julgamento dos envolvidos no desaparecimento e morte da modelo Eliza Samudio entra na reta final nesta sexta-feira. A sessão estava prevista para começar às 9h, mas está atrasada, porque o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) está instalando um sistema de som na sala de imprensa do Fórum Pedro Aleixo, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, para transmitir o áudio do debate entre defesa e acusação, que vai dar início ao quinto dia de júri. A medida foi tomada porque a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues proibiu a entrada e saída de jornalistas no plenário enquanto advogados de defesa e acusação estiverem em debate.
A justificativa da magistrada para proibir a imprensa no plenário foi o tumulto provocado nesta quinta-feira pela entrevista do novo advogado do goleiro Bruno Fernandes, Luiz Adolfo Silva, que divulgou e logo depois desmentiu o boato de que o atleta teria sido encontrado morto na penitenciária Nelson Hungria. O boato foi espalhado enquanto a ré Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do jogador, estava sendo interrogada.
A sessão desta sexta-feira começou com o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro expondo seus argumentos. Ele terá duas horas e meia para tentar convencer os jurados. Em seguida, as defesas de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e de Fernanda Gomes de Castro, também terão duas horas e meia para argumentar. Se o promotor pedir réplica, terá mais duas horas, e a tréplica é automática para a defesa, também de duas horas, totalizando dez horas de debates.
Depois que acusação e defesa apresentarem suas alegações, o conselho de sentença se reunirá para decidir se os réus serão condenados ou absolvidos. Macarrão responde por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. Já a ex-namorada do goleiro Bruno Fernandes é acusada de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho dela.
A expectativa do tribunal é que a sentença seja proferida pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues ainda nesta sexta-feira, finalizando o julgamento dos dois réus.