A lei seca, que estabeleceu tolerância zero ao consumo de bebidas alcoólicas pelos motoristas, completa um ano no próximo sábado (20) com resultados positivos. Desde que a lei entrou em vigor, o número de mortos em acidentes de trânsito nas estradas federais do Paraná diminui 8%. Além disso, a quantidade de carteiras de motorista recolhidas subiu quase 50% e 160 motoristas foram presos por dirigirem embriagados.
Entre junho de 2008 a maio de 2009, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 294 mortes nas estradas que cortam o estado. Já no período entre junho de 2007 e maio de 2008 quando a lei seca ainda não estava em vigor o número de vítimas fatais de acidentes de trânsito chegou a 320 mortes. O inspetor Fabiano Moreno, do núcleo de comunicação da PRF, disse que a diminuição parece pequena, mas é preciso levar em conta o aumento do número de veículos em circulação neste período. "A frota de veículos cresceu quase 9%, passando de 49,6 milhões para 54,5 milhões", afirmou.
O inspetor ressalta que ao contrário do que muita gente acredita, a fiscalização não perdeu força com o passar do tempo. Pelo contrário, ele afirma que houve uma intensificação das blitze. Moreno conta que nos primeiros meses da nova legislação eram aplicadas em média 50 multas por embriaguez ao volante. Este número subiu para 150 nos últimos dias.
Ao todo, a PRF autuou 1.304 motoristas embriagados, sendo que 160 foram presos por apresentarem teor alcoólico no sangue superior ao valor estipulado como crime pela legislação. Também houve um crescimento no número de CNHs (Carteira Nacional de Habilitação) recolhidas. Antes da lei seca os policiais rodoviários recolheram 1.168. O número subiu para 1.751 documentos apreendidos, quase 50% a mais.
Para a coordenadora do núcleo de psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Iara Thielen, as estatísticas mostram que a "lei seca pegou". Iara explica, porém, que muitos motoristas ainda são regidos por ações externas. "Enquanto há fiscalização, estes motoristas cumprem as regras, mas na medida em que se reduz o policiamento, volta o desrespeito a lei", afirma.
Iara defende campanhas constantes de educação para o trânsito e do risco do abuso no consumo de álcool. "Se até hoje tem pessoas que ainda se recusam a usar o cinto de segurança, ainda precisamos continuar falando sobre a lei seca", disse. Curitiba
A lei seca também fez cair o número de acidentes nas vias urbanas da capital paranaense. De acordo com o Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), foram registrados 8.318 acidentes em Curitiba em dez meses de aplicação da lei. Já no período de dez meses antes, foram 10.106 acidentes de trânsito, cerca de 17% a mais que agora.
A quantidade de feridos também caiu, passou de 8.296 para 7.154, 13% menos. Os acidentes, no entanto, apresentaram maior gravidade, pois o número de mortes cresceu. Antes da legislação, o BPtran havia registrado 72 mortes no trânsito de Curitiba. Já no período posterior, foram 78 vítimas fatais, crescimento de 8%.
Internações
Um levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde (MS) nesta quarta-feira (17) mostra que o número de internações provocadas por acidentes de trânsito nas capitais brasileiras reduziu de 105.904, no segundo semestre de 2007, para 81.359, no segundo semestre de 2008. Ao todo, foram menos 24.545 hospitalizações, o que representa queda de 23% nos atendimentos às vítimas do trânsito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas capitais brasileiras.
O impacto positivo foi percebido também na redução da mortalidade. No segundo semestre de 2008, foram registradas 2.723 óbitos relacionados aos acidentes de trânsito, contra 3.519, no segundo semestre de 2007. Portanto, ocorreram menos 796 óbitos, redução de 22,5%. "A redução do número de óbitos e internações em consequência provocadas pelo trânsito mostra que a lei vem protegendo a vida", disse a coordenadora da área de Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta, por meio da assessoria de imprensa.
Curitiba também apresentou redução nas hospitalizações, mas bem abaixo da média nacional. As internações passaram de 4.574 para 4.516, diminuição de 1,2%. Já em relação a mortalidade houve um aumento de 2,4%. A capital paranaense registrou 208 óbitos no segundo semestre de 2007 e 213 mortes no mesmo período de 2008.