A análise dos estragos e dos motivos que levaram ao motim de 18 horas em Cruzeiro do Oeste, Noroeste do Paraná, nesta terça-feira (10), devem ser detalhados apenas daqui a 15 dias. As informações foram divulgadas nesta quinta-feira (11) pela Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Paraná (Seju), responsável por apurar os acontecimentos. O mesmo órgão disse que a Secretaria de Infratestrutura e Logística (Seil) deve apresentar um relatório dos estragos causados pela revolta, no mesmo prazo, e apontar o que precisará ser consertado.
A Seju informou que instaurou nesta quinta-feira (11) uma sindicância interna para apurar os motivos de os presos terem se rebelado na da Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (Peco). A secretaria disse que já foi possível constatar que de 25% a 30% da estrutura no Bloco 1 foi danificada, e que de 15% a 20% do Bloco 3 tiveram avarias. Isto inclui os tetos dos respectivos pátios, construídos para abrigar presos e visitantes do sol e da chuva. Parte do encanamento nestas alas terá que ser refeito em função do fogo ateado em colchões durante o motim.
Participantes
Ao todo, 71 presos participaram da rebelião, cujo líder foi um detento conhecido como Goiás, que veio de Londrina e já passou por várias instituições do estado. Na análise da Seju, o motivo mais provável que levou ao protesto foi a transferência de 73 pessoas para outras penitenciárias do estado, uma vez os presos não costumam desistir da rebelião até serem atendidos, quando há outras motivações.
Segundo a secretaria, 43 transferências foram para Maringá. Antes com superávit, a Casa de Custódia ficou com um déficit de 20 vagas, segundo a Seju. Londrina recebeu 20 e ficou com 55 negativos; dez foram para Piraquara, que manteve superávit de nove vagas; e quatro para Foz do Iguaçu, que ainda com 144 lugares a menos que sua capacidade máxima. Todos os pedidos atendidos seguiram o critério de alocar os prisioneiros em cidades próximas às de suas famílias.
Cascavel
Entre os rebelados, houve a participação de alguns presos que foram transferidos da penitenciária de Cascavel, na revolta de agosto deste ano (2014). Isto não significa que estes indivíduos sejam organizados entre si. Segundo a secretaria, uma prova disso é que os onze condenados por estupro que ficaram como reféns eram deste grupo recém-chegado a Cruzeiro. Ainda ficaram sob o poder dos bandidos um agente penitenciário, e um ex-agente de cadeia pública, preso por corrupção em Campo Mourão.
Lotação
Com vinte motins em um ano no estado, o presidente do sindicato de agentes penitenciários (Sindarspen), Antony Johnson, considera que a realidade dos presídios paranaenses hoje é a de uma "bomba-relógio". "Isso [a revolta em Cruzeiro do Sul] aconteceu devido à falta de investimento no sistema nos últimos quatro anos, o que culminou com Cascavel", avalia o sindicalista, que aponta a superlotação e falta de funcionários como principais problemas do sistema.
Para dar conta da demanda, a Seju vai implantar, no próximo dia 22, 5 mil tornozeleiras elétricas para presos em regime semiaberto e provisórios. Além disso, o estado pretende criar 6.670 novas vagas ainda no primeiro semestre de 2015, com a conclusão de vinte obras já iniciadas.
Novas rebeliões
O Sindarspen diz temer por novas rebeliões, em especial nas cidades de Francisco Beltrão, Foz do Iguaçu e Cascavel. A própria Seju reconhece que quando há um motim todas as unidades do sistema entram em alerta. A secretaria diz possuir um serviço de inteligência que investiga possíveis revoltas de maneira permanente.