Cronologia
O primeiro atentado em Umuarama ocorreu sete meses atrás. Entenda o caso:
28 de fevereiro O juiz Jail Benites de Azambuja, da 2ª Vara da Justiça Federal, em Umuarama, noroeste do estado, sofre um atentado. Os disparos de pistola contra a casa de Azambuja atingem um carro da Justiça Federal. Ninguém ficou ferido.
2 de março Dois suspeitos de terem participado do atentado são presos.
4 de março 44 policiais e três políticos da Região Noroeste são presos, suspeitos de participação num esquema de contrabando de cigarros e produtos eletrônicos vindos do Paraguai. Azambuja participou das investigações e expediu os mandados. A expectativa era que as prisões ajudassem a elucidar o caso de atentado contra o juiz federal.
11 de março Os suspeitos começam a ser soltos por falta de provas.
27 de março O promotor de Justiça da comarca local, Marcos Antônio de Souza, passa parte da madrugada nas mãos de assaltantes. Ele tem a cabeça coberta e é levado em seu carro.
24 de abril O comandante da 2ª Companhia da Polícia Militar, em Umuarama, capitão Darany Luiz Alves de Oliveira, é preso sob acusação de coagir testemunhas nos inquéritos que investigam o atentado contra o juiz federal Jail Benites de Azambuja.
19 de setembro O juiz federal em Umuarama, Luiz Carlos Canalli, sofre um atentado. Diferentemente de Azambuja, Canalli não atuava em processos contra integrantes do crime organizado. Canalli, entretanto, era o diretor do Foro Federal de Umuarama. Canalli promete que dirá coisas que ninguém havia tido coragem de dizer.
27 de setembro Azambuja é preso sob a suspeita de ter forjado o atentado contra si mesmo e de estar envolvido com os tiros disparados contra a casa de Canalli. Canalli não se pronuncia.
Umuarama - Em depoimento à polícia em Umuarama, onde está preso desde sábado, Adriano Roberto Vieira, 28 anos, assumiu a autoria dos disparos efetuados contra a casa do juiz federal Luiz Carlos Canalli na madrugada do dia 19. Vieira é motorista de outro juiz federal, Jail Benites de Azambuja, da 2ª vara da Justiça Federal em Umuarama. Vieira e o juiz Azambuja estão presos desde sábado por suspeita de tramarem o atentado a tiros.
Vieira também disse no depoimento que a arma usada no atentado contra Canalli, uma pistola 380, era de sua propriedade e foi comprada no Paraguai. Vieira, que se identifica como jardineiro e motorista de Azambuja, estava com um revólver calibre 38 na hora da prisão. Ele conta que pegou a arma na cozinha da casa de Azambuja, na sexta-feira passada, mas só avisou o juiz no sábado pela manhã, quando se encontraram no Rio Paraná. "Tome cuidado", foi a frase que ele disse ter ouvido do magistrado.
Vieira afirmou que era prática comum pegar armas na casa do juiz. Ao ser questionado sobre os tiros na casa de Canalli, Vieira relata que, na madrugada do dia 19, quando saiu de uma boate, "após ingerir bebidas alcoólicas", resolveu passar na frente da casa do juiz Canalli, sozinho, e atirar com uma pistola 380. Ele diz não se lembrar de quantos tiros deu, mas conta que estava dentro de um Citröen Picasso que, segundo ele, pertence a Azambuja. O preso afirmou que a ação não foi premeditada e que, dois dias após os disparos, vendeu a arma para uma pessoa que só conhece pelo nome de Luiz. Disse ainda que não sabe onde encontrá-lo.
Vieira contou à polícia que resolveu tomar a iniciativa porque alguns dias antes tinha ouvido um comentário de Azambuja. "Se alguém desse uns tiros na casa do Canalli ia sair um pouco o foco de cima dele (Jail)", disse Vieira. Jail Azambuja havia sido ele próprio vítima de um atentado a bala em fevereiro deste ano. Agora, porém, a polícia acredita que os tiros podem ter sido uma armação montada pelo próprio juiz. (Veja quadro acima).
Durante seu depoimento, porém, o motorista fez questão de deixar claro que nunca recebeu ordens para atirar. Depois de dar os tiros, o motorista teria inclusive ouvido do juiz Azambuja uma repreensão: "Você fez c...", teria dito o patrão. Inicialmente o atirador negou ao juiz que estava com o carro dele: disse estar com uma moto.
Como não atuava em investigações do crime organizado nem sofria ameaças, Canalli não se preocupava muito com a segurança pessoal. Mas câmeras instaladas em casas próximas à dele ajudaram a Polícia Federal a identificar o carro usado no atentado contra ele.
O advogado de Adriano Vieira, Antonio Mossurunga Moraes Filho, disse ontem à imprensa que o juiz Azambuja não sabia dos disparos e que o motorista tomou a iniciativa "para fazer média com o patrão", impulsionado pela embriaguez.
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